A Comissão Europeia condenou esta sexta-feira os “ataques pessoais” do primeiro-ministro esloveno, Janez Jansa, a eurodeputados através da sua conta oficial no Twitter, apontando que “as redes sociais devem ser um espaço para debates construtivos e respeitosos”.

Um dia após o controverso chefe de Governo da Eslovénia, que preside neste semestre ao Conselho da União Europeia, ter publicado uma mensagem a qualificar vários deputados holandeses ao Parlamento Europeu como “marionetas” do empresário milionário George Soros, o porta-voz da Comissão com a pasta da Justiça e Estado de direito, questionado esta sexta-feira sobre o sucedido, recordou o princípio da Comissão de “não comentar comentários”, mas criticou o recurso à rede social para “ataques pessoais”.

Líderes europeus trocam acusações no Twitter. Charles Michel teve de intervir e apelar ao “respeito mútuo”

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“As redes sociais devem ser um espaço para debates construtivos e respeitosos, e não um espaço para ataques pessoais contra indivíduos, quer sejam figuras públicas ou privadas, como foi o caso do ‘tweet’ mencionado”, declarou Christian Wigand.

O porta-voz acrescentou ainda que “a posição da Comissão sobre antissemitismo é muito clara: o antissemitismo não tem lugar na UE“, pois “representa uma ameaça não só para as comunidades judaicas, mas também para uma sociedade aberta”.

A publicação de Jansa – um quadro em que Soros, uma personalidade odiada pelos teóricos da conspiração e antissemitas europeus, aparecia ligado a vários eurodeputados -, numa altura em que se encontra uma delegação parlamentar na Eslovénia para avaliar a situação do Estado de direito no país, mereceu a condenação de vários líderes, como o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, que exortou o primeiro-ministro esloveno a pôr cobro “às provocações” contra membros da assembleia.

Ataques a membros desta casa são também ataques aos cidadãos europeus. Uma colaboração construtiva durante a presidência rotativa do Conselho só pode fundar-se no respeito e confiança mútuos”, escreveu Sassoli também na rede social Twitter.

Já o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, sem mencionar quaisquer nomes, publicou igualmente um ‘tweet’ na quinta-feira à noite, no qual escreve simplesmente que “os membros do Parlamento Europeu devem poder trabalhar livremente sem qualquer forma de pressão” e que “o respeito mútuo entre as instituições da UE e no seio do Conselho Europeu são a única forma de seguir em frente”.

A reação mais encalorada foi a do primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, que condenou “nos termos mais fortes” a mensagem “de mau gosto” do seu homólogo esloveno e convocou mesmo o embaixador da Eslovénia nos Países Baixos.

“O governo acaba de transmitir este mesmo sentimento ao embaixador da Eslovénia na Haia”, acrescentou Rutte, que teve recentemente várias controvérsias com dirigentes da Europa Central.

Uma delegação do Parlamento Europeu, com, entre outros, a deputada neerlandesa Sophie in ‘t Veld, deslocou-se à Eslovénia para examinar as preocupações com as liberdades da comunicação social e o Estado de Direito. Esta tarde, os eurodeputados darão uma conferência de imprensa em Ljubljana.

O primeiro-ministro esloveno respondeu, com várias mensagens no Twitter, a Rutte, referindo-se nomeadamente ao assassínio em Amesterdão do jornalista especializado em assuntos criminais Peter R. De Vries.

“Pois bem, Mark, não perca tempo com os embaixadores e a liberdade da imprensa na Eslovénia. Com Sophie in ‘t Veld, protejam os vossos jornalistas contra os assassínios na rua”, retorquiu Jansa, um aliado do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e admirador do ex-Presidente norte-americano Donald Trump.