Marcelo Rebelo de Sousa manteve o tom dos últimos dias e disse aos partidos que está “preocupado” relativamente à aprovação do Orçamento do Estado e à possibilidade de uma crise política, confirmaram várias fontes presentes nas audiências em Belém. Razão: o Presidente e analista lamentou não conseguir ler o que vai fazer o PCP. Paralelamente, o Presidente da República — que recebeu esta sexta-feira os partidos com assento parlamentar a propósito do documento estratégico — chegou mesmo a utilizar esta expressão relativamente à hipótese de eleições antecipadas: “Se tiver de ser, é“. O chefe de Estado comparou este cenário com o estado de emergência na pandemia, situação que também não queria decretar, mas “teve de ser”.

O Presidente terá confidenciado aos partidos da oposição que não está totalmente surpreendido com a situação, já que os orçamentos de 2018 e 2019 já o tinham deixado apreensivo, naquilo que classificou de negociações “muito confusas“. Segundo o que o chefe de Estado disse aos partidos, a pandemia só adiou um problema orçamental (“conflito latente”, registou o Presidente) que se previa depois dos resultados das legislativas de 2019. A um dos partidos da oposição Marcelo admitiu mesmo que desta vez há uma postura “diferente” da esquerda parlamentar.

Marcelo Rebelo de Sousa deixou transparecer ainda aos mesmos partidos — confirmaram várias fontes ao Observador — que permitir que o país estivesse um ano em duodécimos, sem orçamento, só adiaria o problema e a esquerda voltaria a não entender-se em outubro de 2022. Ora, nesse caso, acredita o Presidente, é preferível “matar o mal pela raiz”e convocar já eleições.

O Presidente da República transmitiu ainda aos partidos, à porta fechada, a ideia de que o primeiro-ministro está empenhado em ter orçamento, mas tem linhas vermelhas: não permite nada que atinja a “credibilidade internacional” do país, que inclui reduzir o défice, não aumentar a despesa e, por consequência, não assustar os mercados. Ainda a nível da imagem internacional de Portugal, o chefe de Estado terá partilhado com pelo menos dois dos partidos que recebeu, que o PCP fez ao Governo exigências em matéria laboral a que Costa não pode ceder porque violaria compromissos assumidos com Bruxelas.

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Para Marcelo o “momento é mau” para instabilidade política porque o país ainda vive em fase pandémica. Nesse contexto, confessou ainda aos partidos que o preocupa o “quase decreto de fim da pandemia”, numa altura em que há ainda incerteza sobre a necessidade de uma terceira dose e sobre quem a vai tomar.

Toda esta parte das conversas partidárias foi à porta fechada e não pública, mas os partidos foram revelando uma outra parte do conteúdo do que discutiram com o Presidente da República ao longo do dia.

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