Paulo Rangel apresentou esta tarde formalmente a sua candidatura à liderança do PSD. Em conferência de imprensa, o eurodeputado não deixou margem para dúvidas sobre ao que vem: “Tenho todas as condições para vencer as eleições legislativas de 2023”.
“Tenho todas as condições para unir o PSD, para promover o seu crescimento realizando a sua tradicional vocação maioritária e para vencer as eleições legislativas de 2023, com uma solução de governo estável”, garantiu Rangel.
Num discurso bastante crítico em relação ao estado a que chegou o país, Rangel caracterizou Portugal como uma “sociedade aristocrática, tipicamente elitista, com grande resistência à mobilidade e à ascensão social, com elevados níveis de reprodução e ampliação das elites, das elites de todo o tipo: económicas, sociais, culturais”.
“Portugal é um país pobre, profundamente desigual, sem igualdade de oportunidades, onde o elevador social só funciona para pessoas com capacidades excecionais, mas não serve as cidadãs e os cidadãos médios que arrancam dos níveis mais baixos da sociedade. O grande desígnio do PSD e de um projeto galvanizador e vencedor para o país só pode ser e será sempre para mim: a mobilidade social. Ou usando uma expressão popular: temos de criar as condições para que todos os portugueses possam subir na vida”, continuou Rangel.
![Apresentação da candidatura à liderança do PSD - Partido Social Democrata, por Paulo Rangel, eurodeputado. As próximas eleições diretas do partido realizam-se a 4 de dezembro de 2021. Lisboa, 15 de outubro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:3010:2007/c:3010:2007:nowe:0:0/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2021/10/15182440/jporfirio-paulo-rangel-apresentacao-candidatura-psd-01-4.jpg)
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“O país parou”, diz Rangel. E os três desafios para o futuro
Para Rangel, os “últimos 20 anos de estagnação” em que mergulhou o país resultaram “diretamente das políticas socialistas ou das graves consequências dessas políticas” e que impôs uma “sociedade paralisada, anestesiada, assistida e assistencialista da imobilidade sócio-económico-cultural”. “Nos anos 90, dizia-se que Portugal não podia parar. Depois de 2000, Portugal parou”, lamentou o eurodeputado.
“Este tempo desperdiçado que nos estagnou, empobreceu, anestesiou e paralisou teve as suas origens e a sua marca forte no descalabro do PS socratista, mas exponenciou-se nestes seis anos na agenda ideológica, fundamentalista e radical do PS costista, agora refém dos extremos da esquerda.”
Feito o retrato do país, Rangel enumerou os três desafios que o PSD terá pela frente se voltar a quiser uma alternativa credível de poder aos olhos dos portugueses: agregar, fazer oposição responsável e construir um projeto claro.
No primeiro caso, Rangel recupera uma ideia que deixou no Conselho Nacional de quinta-feira: com ele na liderança do PSD, o partido voltará a ser a casa de todos.
“Nos últimos anos, o PSD não foi capaz de promover o diálogo, o consenso e a cooperação interna. Ao invés, ao contrário, por vezes, parece ter fomentado o espírito de fação ou de tribo, de separação cortante entre o eles e o nós, quase que realizando a máxima “quem não é por nós, é contra nós. Não mais fações, não mais ressentimentos, não mais antagonismos e fixações político-pessoais. O PSD só pode credibilizar-se diante da opinião pública e da sociedade portuguesa, se aparecer unido e agregado”, prometeu o social-democrata.
![Apresentação da candidatura à liderança do PSD - Partido Social Democrata, por Paulo Rangel, eurodeputado. As próximas eleições diretas do partido realizam-se a 4 de dezembro de 2021. Lisboa, 15 de outubro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:4096:2731/c:4096:2731:nowe:0:0/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2021/10/15182449/jporfirio-paulo-rangel-apresentacao-candidatura-psd-01-5-scaled.jpg)
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Rangel quer regresso imediato dos debates quinzenais
No segundo eixo das suas prioridades para o partido, Rangel defendeu a importância de ver o PSD a fazer de novo uma oposição firme, permanente e coerente. Neste capítulo, o eurodeputado voltou a fazer um ajuste de contas com Rui Rio, que o acusou sempre de ter sido o grande responsável pela grande derrota nas europeias de 2019 em virtude do estilo de campanha que o cabeça de lista levou para a campanha.
De resto, no Conselho Nacional de quinta-feira, Rui Rio defendeu junto dos militantes sociais-democratas que o “povo não vota em quem grita mais contra o Governo”. Ora, Rangel não deixou Rio sem resposta: “Não defendo, em caso algum, uma oposição sistemática, ruidosa ou trauliteira. Mais: acho mesmo que a oposição deve ser responsável e credível. Mas não pode ser tíbia, não pode ser ambígua, não pode ser frouxa, não pode ser quase silenciosa”, disse.
![Apresentação da candidatura à liderança do PSD - Partido Social Democrata, por Paulo Rangel, eurodeputado. As próximas eleições diretas do partido realizam-se a 4 de dezembro de 2021. Lisboa, 15 de outubro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:4096:2731/c:4096:2731:nowe:0:0/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2021/10/15182602/jporfirio-paulo-rangel-apresentacao-candidatura-psd-01-13-scaled.jpg)
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Depois de dar vários exemplos de como, no seu entender, Rui Rio falhou e tem falhado em fazer oposição ao Governo socialista, Rangel disse não compreender a hesitação da atual liderança em dizer, desde logo, que votaria contra este Orçamento do Estado. “Porque deixamos [a decisão] para tão tarde, por que razão somos os últimos a expressar o nosso juízo, quando temos pensamento e conhecimento para o fazer em tempo quase real? O tempo em política conta”, argumentou.
Também por isso — pela necessidade de devolver o PSD ao rumo da oposição sólida ao Governo socialista –, Rangel acabou a prometer que vai fazer de tudo para reinstituir os quinzenais no Parlamento. “[O fim dos debates] tratou-se de um erro enorme para a república e a saúde da democracia, para o Parlamento e para o PSD.”
“O PS de António Costa pode ser derrotado”
Já depois de ter defendido o conjunto de bandeiras que o PSD deve ter para se afirmar enquanto alternativa séria, Rangel garantiu estar pronto para derrotar qualquer candidato socialista a primeiro-ministro, mas não se furtou a nomear um: António Costa.
Disse Rangel: “Não temos medo nem receio do PS nem de qualquer líder do PS. Quando for líder do partido, vou desafiar António Costa a liderar as listas do PS às eleições legislativas de 2023. O PS de António Costa pode ser derrotado, se nós soubermos corporizar e consolidar a alternativa.”
“Não temos de ficar à espera do declínio ou da queda dos outros; temos, isso sim, é de ter programa e projeto, equipa e liderança e levar a todos os portugueses a esperança. Não queremos mais a política da espera, queremos aqui e agora, com a marca do PSD, a política da esperança.”
Mesmo a terminar, Rangel deixou uma última promessa: “Há algo que posso garantir e assegurar a todos os militantes: com esta candidatura, e com este candidato, o PSD está de volta”.
![Apresentação da candidatura à liderança do PSD - Partido Social Democrata, por Paulo Rangel, eurodeputado. As próximas eleições diretas do partido realizam-se a 4 de dezembro de 2021. Lisboa, 15 de outubro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:4096:2731/c:4096:2731:nowe:0:0/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2021/10/15182712/jporfirio-paulo-rangel-apresentacao-candidatura-psd-01-21-scaled.jpg)
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“Cenário de eleições antecipadas é artificial”
Já na fase das respostas aos jornalistas, Rangel argumentou que, depois de quatro anos de liderança de Rui Rio, e pesados os resultados conseguidos, achou que era o momento de intervir. “Neste momento, estou em melhores condições [do que Rui Rio] para ser líder do PSD.”
Sobre a discussão que dominou as últimas 48 horas no PSD — em caso de eleições antecipadas, o partido estaria a discutir a sua liderança interna –, Rangel acabou por desvalorizar essa hipótese, classificando-a de “artificial”.
No limite, se a crise política vier mesmo a acontecer, Paulo Rangel argumentou que a questão do calendário não é sequer uma questão — Marcelo Rebelo de Sousa nunca dissolverá o Parlamento sem que a vida interna dos partidos esteja clarificada.
“O Presidente da República tem todas as condições para dissolver a Assembleia da República no momento que achar oportuno, com respeito pelos atos eleitorais do partido”, disse Rangel, lembrando até a eleição de Eduardo Ferro Rodrigues como secretário-geral do PS na sequência de António Guterres e já depois de marcadas eleições legislativas. “Ninguém achou que se estava a atacar a democracia”, recordou.
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“O que ia acontecer é que António Costa ia estar a condicionar os nossos calendários. Já houve muita complacência com António Costa. Era só o que faltava. Respeito muito o ponto de vista de Rui Rio. Mas discordo profundamente dele.”
Rangel assumiu ainda que vai deixar o Parlamento Europeu “quando” for eleito presidente do PSD. E não resistiu em deixar mais uma indireta a Rui Rio: “Serei o líder do PSD em Lisboa, a 100% e com os dois pés em Lisboa”.
Sobre o que fará caso perca umas eventuais eleições antecipadas, Rangel voltou a dizer que não acredita nesse cenário e disparou: “Estou aqui para vencer as eleições”.
“O Chega não faz parte da direita moderada”
O eurodeputado foi ainda desafiado a dizer se admite estende uma eventual solução de poder ao Chega, Rangel cortou: “[O partido de André Ventura] não faz parte da direita moderada.”
De resto, o agora candidato à liderança do PSD virou a questão ao contrário. “Essa pergunta devia ser feita ao PS e a Antínio Costa. O Chega é o aliado objetivo do PS. Um Chega mais forte permite ao PS perpetuar-se no poder”.
“O grande interessado em que o Chega possa bloquear soluções de direta é o PS”, argumentou. Perante a insistência dos jornalistas, Rangel cortou: “É um limite intransponível”.