O eurodeputado do CDS Nuno Melo, que é candidato às eleições internas do partido agendadas para o final de novembro, criticou este sábado o atual presidente centrista, Francisco Rodrigues dos Santos, por ter comunicado publicamente a intenção do CDS de votar contra a proposta de Orçamento do Estado sem se ter reunido com os deputados do partido.
“Sendo o Orçamento de Estado um documento discutido e votado na Assembleia da República, sob responsabilidade de um talento parlamentar que se chama Cecília Meireles, considero incompreensível que o presidente do partido anuncie o sentido de voto do CDS sem tão pouco ter reunido previamente com os deputados, ou conversado com o seu líder“, escreveu Nuno Melo na sua página do Facebook.
“Considero igualmente incompreensível que a propósito o presidente do partido se reúna com o Presidente da República, sem se fazer acompanhar da deputada que melhor conhece o documento e a quem competirá o combate com o governo”, acrescentou Nuno Melo.
“Quando for presidente do CDS reunirei semanalmente com o Grupo Parlamentar, que será tratado como aquilo que é: um instrumento fundamental de ação política do partido“, concluiu o eurodeputado.
O atual presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, não é deputado no Parlamento — e o seu mandato à frente do partido tem sido marcado por uma tensão permanente com o grupo parlamentar de cinco deputados, liderados por Telmo Correia, onde se encontra representada a oposição interna a Rodrigues dos Santos (notavelmente simbolizada pela presença no Parlamento de João Almeida, que nas últimas eleições foi o principal oponente a Rodrigues dos Santos). A recente saída de Ana Rita Bessa do cargo de deputada e subsequente confusão em torno da sua substituição foi só o mais recente episódio de desentendimento entre grupo parlamentar e presidente.
Francisco Rodrigues dos Santos esteve recentemente no Palácio de Belém para representar o CDS nas reuniões com o Presidente da República, que está a ouvir todos os partidos com assento parlamentar antes da discussão sobre o Orçamento do Estado na Assembleia da República — mas não se fez acompanhar pelos deputados do partido. No final, em declarações aos jornalistas, afirmou que o partido votaria contra o Orçamento do Estado.
No entender de Nuno Melo, que no início de outubro confirmou a sua intenção de se apresentar a votos dentro do partido, não é o sentido de voto que está em causa, mas a “falta de articulação mínima” de Francisco Rodrigues dos Santos com o grupo parlamentar, sobretudo em “decisões cuja defesa ou rejeição lhe compete na AR”.
Num comentário publicado na sequência da publicação inicial, em resposta a questões levantadas por alguns utilizadores da rede social, Nuno Melo considerou que o grupo parlamentar “não é uma agremiação de notários” e que “existe como órgão fundamental da ação política do partido”.
“Não recordo reunião com o PR sobre o OE em que o presidente do partido não se tivesse feito acompanhar do deputado responsável pela defesa ou ataque político do documento na AR”, escreveu. “O CDS precisa de se unir nas suas parcelas e dispensa mais muros e barricadas.”
Ao Observador, o presidente do grupo parlamentar do CDS, Telmo Correia, disse não lhe competir comentar em concreto a publicação de Nuno Melo, mas confirmou que, “este ano, não houve qualquer contacto [com Francisco Rodrigues dos Santos] sobre este OE”.
“Limitando-me, estritamente, aos factos: não houve nenhum contacto da parte do Sr. Presidente do CDS comigo sobre matéria orçamental ou qualquer outra. Pese embora toda a documentação do grupo parlamentar sobre o tema ter sido enviada institucionalmente, não houve qualquer resposta à nossa solicitação. O que sei sobre a posição da Direção, reunião com o Presidente da República, etc., soube pela comunicação social”, disse Telmo Correia.
“A deputada coordenadora, Cecília Meireles, que está a trabalhar esta matéria há mais de um mês, também não terá tido qualquer contacto“, acrescentou Telmo Correia.
O Observador contactou também a deputada Cecília Meireles para obter uma reação a propósito deste assunto, mas não obteve resposta até à publicação deste artigo.
O congresso eletivo do CDS está agendado para os dias 27 e 28 de novembro. Francisco Rodrigues dos Santos vai tentar ser reeleito para um segundo mandato à frente do partido, enquanto Nuno Melo procurará destronar o líder centrista, conhecido como “Chicão”.
Artigo atualizado às 12h35 com a reação de Telmo Correia.