Ainda não é uma “abertura” nem é suficiente para mudar a opinião dos comunistas, mas a negociação entre Governo e PCP terá finalmente registado alguns avanços. Na manhã desta quarta-feira, depois de na terça ter decorrido uma nova ronda de reuniões com Bloco de Esquerda e PCP, os comunistas mostraram-se menos críticos, ainda que cautelosos na avaliação.
O ponto de situação foi feito pelo líder parlamentar, João Oliveira, em entrevista à Antena 1. Questionado sobre se a negociação trouxe, desta vez, boas notícias, o dirigente comunista respondeu: “Tivemos a oportunidade de abordar de forma mais alargada um conjunto de matérias com alguma profundidade, que não tínhamos tido anteriormente”. Tradução: como o próprio Oliveira explicaria depois, há propostas que até agora não tinham sido “abordadas daquela forma” e que o Governo terá aceitado explorar mais nas reuniões de terça-feira.
Poderá, assim, dizer-se que o Executivo mostrou uma maior abertura desta vez? “Não utilizei a expressão abertura porque não me quero precipitar na avaliação”, esclareceu Oliveira, lembrando que as duas partes continuam a “não coincidir” nas soluções concretas para cada um dos problemas que estão em cima da mesa, mas adiantando que “nos próximos dias certamente haverá uma discussão mais alargada”.
Na mesma entrevista, o líder parlamentar voltou a insistir: quem veio agitar o papão das eleições antecipadas e “desviar completamente a discussão” foi o presidente da República e várias vozes no PS, incluindo ministros; quanto ao outro papão — o do regresso da direita ao Governo, caso haja crise política — Oliveira responde: o problema real é que se não houver respostas aos problemas dos país dentro do Orçamento, a população ficará “à mercê dos chicos-espertos da direita”.
Terça-feira foi mais um dia de negociações entre o Governo e a esquerda. O Bloco apressou-se, assim que saiu da reunião, a informar que “não há acordo”, registando algumas “medidas simbólicas” apresentadas pelo Governo na área do Trabalho, “aproximações” que espera para ver no papel na Saúde e zero sinais nas pensões.
Mas, de noite, num evento da JS, António Costa manteve a “confiança” na proposta de Orçamento, prometendo que vai “continuar a trabalhar” para negociar com a esquerda.