O atual Campeonato do Mundo de Fórmula 1 tem sido o mais competitivo dos últimos anos. Lewis Hamilton e Max Verstappen têm protagonizado uma rivalidade nem sempre saudável, com vários atritos e acidentes pelo meio, que se prende com uma única certeza: um deles, no final da temporada, vai ser campeão mundial. E essa evidência faz com que a rivalidade que os une e separa, enquanto se pilotos, se estenda também aos próprios diretores da Mercedes e da Red Bull, Toto Wolff e Christian Horner.

“Não tenho qualquer problema com o Toto mas somos pessoas muito diferentes. Eu tenho tendência a ser muito direto ao assunto, sempre funcionei assim. Ele funciona de forma diferente mas tenho muito respeito por tudo o que já fez. É uma competição. E, em comparação com os anos em que competimos com a Ferrari e a McLaren, entre 2010 e 2013, isto tem sido muito diferente. Há muito mais a acontecer nos bastidores. O Toto chegou à Fórmula 1 pela Mercedes em 2013 e a estrutura já estava montada. O Ross Brawn tinha construído aquela equipa, o Lewis já tinha assinado. O Toto fez um trabalho tremendo a gerir a equipa e a manter a performance. Mas claro que nunca experienciou nada que não seja ganhar. Por isso, agora é um tipo de pressão diferente. É duro”, explica Horner, o diretor da Red Bull, em entrevista ao The Guardian.

O halo salvou a vida de Hamilton, Verstappen continua a achar que não teve culpa. Mas a nova rivalidade da F1 está a ficar descontrolada

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ainda assim, apesar das palavras aparentemente cordiais, nem sempre a competitividade entre os dois responsáveis tem sido cordial. Horner já disse que Wolff é um “control freak” que “devia ficar calado”, Wolff respondeu que Horner “só quer estar em frente às câmeras” e Horner devolveu a acusação, lembrando que “quando apontamos o dedo estão outros três a apontar para nós”. “Quanto mais ele fica irritado, mais divertido se torna”, explica o inglês de 47 anos.

Apesar de continuar a ser um dos diretores mais novos da Fórmula 1, Christian Horner já lidera a Red Bull há 17 temporadas, período em que conseguiu alcançar quatro títulos mundiais — todos com Sebastian Vettel e todos consecutivos, entre 2010 e 2013. O facto de esse último já ter acontecido há oito anos, antes da hegemonia da Mercedes, não deixa esconder que a Red Bull teve de passar por um processo de adaptação e desenvolvimento para voltar a lutar pelos lugares cimeiros. Horner justifica-se com as alterações ao regulamento dos motores, em 2014, mas não deixa de explicar a forma como ele próprio encontrou inspiração para não desistir.

F1 Grand Prix of Turkey

Toto Wolff é o diretor da Mercedes desde 2013 e tem vivido uma rivalidade acesa com o homólogo da Red Bull durante toda a temporada

“Podemos sempre aprender com os outros. Seja internamente, através da forma como Dietrich Mateschitz [o bilionário austríaco que o contratou] geriu a Red Bull, ou a partir de outras modalidades. Sempre fui um admirador de Alex Ferguson e da longevidade de sucesso que alcançou, conseguia sempre reconstruir a equipa. Tenho um grande respeito e admiração por ele. Assim como tenho pelo Ron Dennis [antigo diretor da McLaren]. O Ron tinha uma personalidade muito diferente da minha mas o que ele alcançou foi fenomenal. Por isso, há sempre lições para aprender”, garante o antigo piloto, que chegou a competir na Fórmula 2 britânica.

Certo é que Max Verstappen vai entrar no Grande Prémio do próximo domingo, nos Estados Unidos, na liderança da classificação geral e com mais seis pontos do que Lewis Hamilton. Numa altura em que faltam seis corridas para o final da época, Christian Horner não esconde que ganhar com o jovem holandês será especial. “Vai ser a nossa maior conquista. Se olharmos para a força da Mercedes e para o domínio que têm tido, fica claro que ninguém se aproximou deles durante anos. Ninguém os colocou nesta pressão nesta fase da temporada, por isso, vai ser uma enorme conquista se a conseguirmos alcançar. A nossa determinação diz-nos que temos uma hipótese, uma verdadeira hipótese, de ganhar o Campeonato do Mundo este ano. E vamos dar tudo o que temos para chegar lá”, atira o diretor, dedicando-se depois à rivalidade latente entre Hamilton e Verstappen, separados por 12 anos de idade.

Bottas estreou-se a ganhar em 2021, mas é Max Verstappen que soma e chega à liderança do Mundial. Hamilton ainda alcançou 5.º lugar

“Acho que, inevitavelmente, tem sempre de existir uma evolução. O Lewis tem tido uma carreira fantástica e continua em ótima forma, ainda é um titã da modalidade. O facto de o Max ser capaz de estar ao nível dele é provavelmente algo que o Lewis nunca teve ao longo da carreira — pelo menos nos anos em que foi campeão. Nunca houve nada com este grau de intensidade. Claro que há muito em causa para ele, porque vai atrás do histórico oitavo título, mas o Max vai atrás do primeiro e sabe que ainda muitos anos pela frente. O Max sabe que é uma maratona e não um sprint. Ele sabe tudo isso porque tem uma cabeça extraordinariamente sábia para aqueles ombros tão jovens”, diz Christian Horner.

O diretor da Red Bull é casado com Geri Halliwell, uma das cinco Spice Girls, e tenta ao máximo manter uma vida normal e terrena para o filho que têm em comum e para as duas filhas que têm de casamentos anteriores. “A Fórmula 1 pode consumir muito tempo mas tenho uma família jovem e é muito importante encontrar esse balanço e ser um pai presente quando estou lá. É claro que, com a quantidade de viagens e com todo o tempo que passo fora, a última coisa que eles querem de mim é que esteja constantemente ao telemóvel. Tenho três filhos maravilhosos. Tento sempre voltar do Grande Prémio ao domingo à noite, se a corrida for na Europa, para os conseguir levar à escola na segunda-feira de manhã”, termina.