Paulo Rangel está pronto para reagir em caso de crise política. Se o Orçamento do Estado para 2022 for de facto chumbado, o candidato à presidência do PSD tem já preparada uma task force para começar a desenhar as bases do programa eleitoral com que irá a jogo se for eleito líder social-democrata e candidato a primeiro-ministro.

Segundo apurou o Observador junto de fonte próxima de Paulo Rangel, esta será uma das principais mensagens que o eurodeputado vai deixar este domingo, no Porto, na primeira grande ação de campanha interna. Ainda que continue a duvidar do cenário de eleições antecipadas, o candidato quer deixar claro aos militantes do partido que, com ele à frente, o PSD nunca será apanhado de surpresa.

Neste momento, sabe o Observador, há uma equipa a construir a moção estratégica com que Rangel se vai apresentar às diretas do partido. Esta task force, cuja composição só será revelada mais tarde, funcionaria de forma paralela e estaria exclusivamente dedicada a construir o programa eleitoral do partido.

Rangel tenta assim antecipar-se àquela que poderá ser a estratégia de Rui Rio caso a crise política se venha a confirmar. O líder do PSD tem insistido na tese de que, estando o país em convulsão, não faz sentido discutir a liderança do maior partido de oposição, nem escolher um presidente — no caso, Rangel — que não terá sequer tempo para organizar um programa eleitoral com cabeça, tronco e membros.

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Ora, este domingo, no Palácio da Bolsa, no Porto, Rangel vai insistir precisamente na ideia contrária: se houver de facto eleições antecipadas, a sua equipa estará preparada para apresentar o quanto antes as bases do programa eleitoral do partido e discutir, inclusivamente, algumas das grandes orientações ainda a tempo das eleições internas do PSD, agendadas para 4 de dezembro. Por outras palavras: a candidatura do eurodeputado quer esvaziar a estratégia de dramatização de Rio.

A mensagem de Rangel é simples: perante uma eventual crise, que será da exclusiva responsabilidade de António Costa, e que será sempre uma péssima notícia para o país, o PSD não pode, ainda assim e em circunstância alguma, parar.

Em caso de crise, só as diretas podem legitimar líder do PSD

Depois de um fim de semana de negociações decisivas à esquerda, e com o Bloco, a dar indicações de que estará fora do barco, resta saber o que fará o PCP, que reunirá também domingo o seu comité central. A decisão dos comunistas só será conhecida na segunda-feira, mas, a confirmar-se o chumbo do Orçamento, e confiando no que Marcelo Rebelo de Sousa disse que faria nesse cenário, o país vai mesmo enfrentar eleições antecipadas.

Rangel joga também nesse tabuleiro. Se tal vier a acontecer, o núcleo duro do candidato entende que o líder do PSD deve estar perfeitamente legitimado internamente para ir a votos e que as diretas a 4 de dezembro farão ainda mais sentido.

O eurodeputado social-democrata sabe que, tal como escreveu o Observador, a intenção de Rio é voltar a propor o adiamento das internas em caso de eleições antecipadas sob o argumento de que o partido não pode estar a discutir a liderança quando tem legislativas para disputar. Aos olhos do líder social-democrata, de resto, se António Costa cair neste Orçamento é ele quem tem legitimidade para ser candidato a primeiro-ministro.

Apesar de ter um teórico favoritismo junto das estruturas do partido, os mais próximos de Rangel não ignoram que a precipitação de uma crise política nacional pode baralhar todas as contas internas. Daí que Rangel vá imprimir uma preocupação especial no discurso deste domingo: não há circunstância alguma que justifique o adiamento das eleições internas no PSD. Antes pelo contrário.

Para o núcleo duro do eurodeputado, qualquer líder do PSD — ele ou mesmo Rui Rio — só estará politicamente reforçado para se submeter à vontade dos portugueses depois de passar no crivo dos militantes do PSD. Se Rio levar por diante a intenção de, em caso de novas eleições legislativas, propor novamente ao Conselho Nacional do partido o adiamento das diretas, Rangel insistirá na tese de que, nessas condições, Rio será sempre um candidato a primeiro-ministro frágil.

De resto, Rangel já assumiu publicamente que, no caso de a sua vitória interna coincidir com o início de uma crise política no país, está disponível para acelerar o processo eleitoral e antecipar o Congresso do PSD, agendado para a segunda quinzena de janeiro — só depois de entronizado na reunião magna do partido é que qualquer líder está formalmente legitimado enquanto tal. Nesse cenário, entende Rangel, o Congresso será ainda mais importante para dar um sinal de força e vitalidade do PSD.

“Unir, crescer, vencer”

Este domingo será também revelado o slogan da campanha interna de Paulo Rangel, que vai a votos com o lema “Unir, crescer, vencer”. No Palácio da Bolsa, são esperadas largas centenas de militantes e pessoas da sociedade civil, de áreas tão diferentes como a Saúde, a Economia, a Justiça ou a Cultura.

Esta será a primeira ação do género e surge dois dias depois de Rui Rio ter apresentado a sua recandidatura também no Porto. O objetivo da equipa de Rangel é replicar este tipo de ações por todo o país e sempre com o mesmo esquema: trazer militantes do partido, mas também independentes que se tenham destacado numa determinada área.

Numa altura em que a corrida a dois começa a aquecer, e em que as tropas de Rui Rio se vão esforçando por tentar colar a Rangel a imagem de que é o candidato dos interesses particulares e do aparelho partidário, o eurodeputado tenta dar uma imagem exatamente contrária: a de um partido capaz de ser novamente maioritário e transversal.