O presidente executivo (CEO) da Galp Energia diz que fechar a refinaria de Matosinhos foi uma “decisão muito difícil”, mas “inevitável” porque a unidade não era sustentável. Mas Andy Brown também reconheceu que a empresa deveria ter gerido melhor as relações com trabalhadores e com o Governo neste processo.
O gestor falava num pequeno almoço com jornalistas esta quarta-feira onde sinalizou que a transição energética “significa que se perdem empregos, mas também que se criam postos de trabalhos”. A Galp poderia ter gerido melhor o processo? “Acho que podíamos ter feito um trabalho melhor, mas o fecho de Matosinhos foi inevitável porque a refinaria não era compatível com o futuro”. O presidente da Galp deixou ainda um sinal claro que a empresa quer trabalhar com o Governo na refinaria de Sines que terá de se tornar sustentável até à década de 2030.
Hoje Sines é uma unidade estratégica para Portugal porque produz todos os combustíveis líquidos que abastecem o mercado nacional. “Mas a longo prazo, no horizonte dos anos de 2030, vamos precisar de descarbonizar Sines. E isso quer dizer mudar para biocombustíveis e para o hidrogénio verde e, eventualmente, fechar de forma progressiva algumas das unidades de combustíveis fósseis. Para isso acontecer tem de haver uma parceria com o Governo que “deve querer criar um futuro para Sines”.
Fazendo a comparação com Matosinhos, onde a Galp esteve a “perder dinheiro” durante 15 anos — 800 milhões de euros entre 2005 e 2020 — o presidente executivo da Galp afirmou: “Temos de assegurar que Sines se mantém viável para Portugal e para os empregos e isso implica uma parceria com o Governo, implica trabalhar em conjunto” no futuro do sistema de energia porque a descarbonização de Sines vai durar décadas.
Segundo Andy Brown, o Governo tem-se mostrado muito “progressista” no desenvolvimento da estratégia para o hidrogénio produzido a partir de fontes renováveis, e por isso acredita que no futuro “teremos uma boa relação”. A Galp, indica, estará mais envolvida no impacto social e na requalificação dos trabalhadores.
Galp promete um centro de classe “mundial” para Matosinhos, mas não sabe ainda do quê
O gestor não comentou os ataques feitos à Galp durante a campanha para as eleições autárquicas, nomeadamente pelo primeiro-ministro, António Costa, numa visita a Matosinhos. Explicou que a empresa fez “um trabalho para perceber como podíamos ter gerido de melhor forma as nossas interações com o Governo”. E garantiu que a empresa está determinada em converter a instalação num centro renovado fundamentalmente assente na inovação, mas o foco do projeto ainda está por definir. Para já, a única decisão tomada é a de manter um parque logístico.
“Queremos que seja uma instalação de classe mundial. É uma localização fantástica, perto do mar e numa cidade vibrante”. A Galp está a trabalhar com consultores externos para perceber o que “podemos criar ali que deixe Portugal orgulhoso”.
O gestor assinalou ainda que a empresa está a trabalhar também na área da requalificação e na minimização do impacto social do fecho da refinaria que afetará cerca de 400 empregos diretos, com um despedimento coletivo anunciado para mais de 100. O encerramento da refinaria de Matosinhos foi revelado pela Galp há quase um ano a quatro dias no Natal, o que alimentou as críticas de insensibilidade social de António Costa. A decisão ainda foi tomada durante a presidência executiva de Carlos Gomes da Silva que foi semanas depois substituído por Andy Brown.
Sobre o futuro de Sines, o gestor diz que o primeiro passo é construir um grande negócio de hidrogénio. A Galp é o maior consumidor nas nossas unidades de combustíveis e quer substituir o gás natural usado na produção pela eletricidade de origem verde. Outro passo será dado nos biocombustíveis onde a empresa prevê lançar um projeto de produção de jetfuel (combustível para a aviação) a partir do processamento de resíduos de origem animal importados.
Outro passo destacado na estratégia de descarbonização passa pelo lítio. A Galp quer estar na cadeia de valor da conversão deste minério em baterias, nomeadamente no que toca ao desenvolvimento em Portugal de uma refinaria que transforme o pó de lítio em concentrado. “Estamos muito entusiasmados com a oportunidade”, afirmou, sublinhando que Portugal é uma “localização premium” para isso acontecer porque tem as maiores reservas do minério na Europa. A Galp deverá anunciar novidades sobre um projeto industrial do lítio nas próximas semanas.