O Luxemburgo passou a exigir desde segunda-feira a apresentação do certificado de vacinação contra a Covid-19 ou um teste PCR para aceder a cafés e restaurantes, e a medida preocupa empresários portugueses do setor, que temem perder clientes.
Na Casa do Benfica, na capital luxemburguesa, o chamado “Covid-check” começou a ser aplicado no dia da derrota do clube em Munique, e o estabelecimento, nessa noite, também perdeu clientela.
“Em dias normais de jogos da Liga dos Campeões trabalhamos bem, e foi um dia em que um mal não veio só, foi uma quebra grande de clientes”, conta Bruno Barreira, coproprietário da Casa do Benfica, inaugurada em 2015.
Muitas pessoas não vieram ver o jogo, porque basta terem um amigo ou dois que não tenham a vacina e já não vêm”, explicou.
Um dia depois do desaire frente ao Bayern Munique, por 5-2, veem-se apenas uma dúzia de pessoas a jantar, no meio das fotografias das antigas glórias do clube que decoram os pilares da sala, incluindo Eusébio, Toni ou Nuno Gomes, que já passou pelo estabelecimento.
“Deu autógrafos aos clientes, foi uma loucura”, conta Inês, empregada da casa e adepta do Benfica, de telemóvel na mão, para poder verificar o código QR dos certificados exigidos para entrar.
A funcionária passou a explicar aos clientes que telefonam a reservar que “têm de ter certificado de vacinação ou um teste PCR com menos de 72 horas, para as pessoas não virem e terem de voltar para trás”.
Ao almoço, a jovem teve de recusar uma família de três pessoas, porque “um não estava vacinado”, e ao balcão, para tomar um café ou beber uma cerveja, “há muitos que não podem entrar”.
Perdem-se alguns clientes, “mas são as regras”, defende Inês, enquanto espera que a cozinha entregue um bife à Catedral, um dos pratos mais populares da ementa, juntamente com a francesinha e o bitoque.
Bruno Barreira confirma que já teve “reservas anuladas”, e apesar de esperar que a clientela regresse daqui a algumas semanas, quando se habituar à medida, para já teme que a restrição agrave a crise no setor, até porque os apoios do Estado, reduzidos nos últimos meses, terminaram em 31 de outubro, na véspera da entrada em vigor do “Covid-check”.
Até aqui, não faturávamos tanto, mas também não tínhamos tantas despesas, porque o Estado ia ajudando, e sempre dava uma coisa para a outra, agora cortando as ajudas e a gente perdendo clientes é uma situação muito difícil”, aponta.
“Muitos colegas” do setor, incluindo portugueses, “dizem que não vão conseguir suportar e vão ter de fechar”.
“Muitos são proprietários e empregados ao mesmo tempo, em alguns casos marido e mulher“, e “se tiverem de fechar, é complicado, fica logo uma família desempregada”, lamenta.
Carlos Santos Ribeiro, proprietário de um estabelecimento familiar na cidade do Luxemburgo, onde também trabalha a mulher, esteve nove meses sem conseguir pagar o seu próprio salário, e com as novas regras teme que tudo piore.
No primeiro dia em que abriu ao público desde que a medida entrou em vigor, na terça-feira, serviu apenas 15 almoços, “quando costumavam ser 45 ou 50”, disse à Lusa o português, de 46 anos.
No café situado no bairro da Gare, com três televisões sintonizadas nos canais portugueses, passa nesse momento o jogo entre o F.C. Porto e o AC Milan, mas apesar de o futebol ser habitualmente um chamariz, só três clientes acompanham os Dragões, de cerveja na mão. “A casa está vazia”, queixa-se.
Carlos Santos é portista e acha que, pelo menos aí, “vai correr bem”, e a noite acabará por lhe dar razão, com o empate a garantir que o F.C. Porto se mantém bem classificado na competição. Já a exigência do certificado covid-19 ou de teste PCR, que pode custar cerca de 60 euros, “afasta as pessoas dos cafés e restaurantes”, garante.
“Os clientes telefonam a perguntar se eu aceito pessoas sem estarem vacinadas, eu digo que não e eles não vêm”, lamenta. Alguns “dizem que há um do grupo que não está vacinado” e depois “o grupo anula todo”, ou “tentam entrar sem certificado e são obrigados a voltar para trás”.
Para Carlos Santos, a nova medida é um retrocesso. Agora, a maioria dos clientes passaram a pedir ‘take-away’, como aconteceu durante o confinamento, “mas não é a mesma coisa”, diz o português, apontando que parte do lucro vem do consumo de bebidas no estabelecimento.
Na churrasqueira Chez Lurdes, a medida já deu origem a trocas acesas com um cliente.
“Um senhor mostrou um certificado só com uma dose, e quando a entrada foi recusada disse à minha colega que ela não sabia nada de leis, e afinal ele é que não sabia”, conta Isaura Saraiva, empregada do estabelecimento.
Para a funcionária, apesar de para já haver “um bocadinho menos de gente”, a medida vai contribuir para aumentar a taxa de vacinação no Luxemburgo, que atualmente ronda os 75%.
“Não podemos pensar só em nós, temos de pensar em nós e nos outros. É para nos proteger a todos”, defende.