Kyrie Irving é um caso isolado numa altura em que as competições desportivas começam, ou pelo menos tentam começar, a debelar as crises e dificuldades causadas pela pandemia de Covid-19. Com a NBA a arrancar praticamente a todo o gás, começaram também a ganhar andamento as suas melhores e mais perigosas equipas, aquelas que almejam conseguir o título da maior liga da modalidade no verão de 2022. Os Brooklyn Nets são um dos conjuntos favoritos a vencer a NBA, mas a competição é feroz, pelo que apesar de terem Kevin Durant e James Harden, dois foras de série, a equipa sente a falta de um jogador como Kyrie Irving, que continua sem querer vacinar-se contra a Covid-19. A equipa começou os primeiros oito jogos com cinco vitórias e três derrotas e mesmo sendo a percentagem positiva, muitos especialistas e sobretudo os adeptos pensam que o arranque com Irving podia ser mais forte.

O jogador de 29 anos viu-se afastado dos treinos e dos jogos ainda antes do arranque da época, no passado mês de outubro, isto porque não cumpria — nem cumpre ainda — as regras de vacinação do estado de Nova Iorque. Segundo a regulação nova-iorquina, o jogador não podia treinar ou jogar dentro do estado, pelo que só poderia participar nos trabalhos da equipa noutro estado ou em treinos ao ar livre. Na altura, o general manager da equipa, Sean Marks, informou em comunicado que Irving “não vai poder jogar ou treinar com a equipa até que seja elegível como participante a tempo inteiro”.

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“Kyrie fez uma escolha pessoal e respeitamos o seu direito individual. Atualmente, a escolha restringe a sua capacidade de ser um membro em tempo integral da equipa, e não permitiremos que nenhum membro de nossa equipa participe com disponibilidade em tempo parcial”, explicou então Sean Marks, colocando então por terra a tese de que o jogador poderia incluir os trabalhos e os jogos dos Nets noutros estados dos EUA.

Agora, contudo, há uma ténue esperança para Kyrie Irving, dada a eleição de um novo mayor nas eleições de Nova Iorque. Eric Adams, democrata e atual autarca do bairro de Brooklyn, venceu o republicano Curtis Sliwa e vai tomar posse em janeiro, tornando-se o segundo mayor negro da Big Apple, após David Dinkins, entre 1990 e 1993. Apesar de o dono dos Nets, Joe Tsai, ter dito recentemente que espera que o jogador “seja vacinado assim que possível”, Eric Adams afirmou à MSNBC, também há pouco tempo, que era preciso “rever” as normas da vacinação no estado de Nova Iorque.

Se, eventualmente, as normas de vacinação fossem alteradas relativamente a trabalhos públicos como polícias ou bombeiros, por exemplo, o estado teria então mais dificuldades em controlar a vacinação em entidades privadas, na medida em que tornar a situação obrigatória poderia entrar no campo do contraditório e difícil de explicar a nível político e de saúde pública.

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Com o sindicato dos jogadores da NBA a ter rejeitado uma eventual obrigação da liga para os atletas serem vacinados, não seria muito expectável que os Nets continuassem a manter Irving à parte, exceto se alguma lei, como é atualmente o caso.

No entanto, como dizem os americanos, isto pode ser um long shot, porque nada é, obviamente, garantido para um autarca a alguns meses de tomar posse. Mesmo então será complicado perceber. Curioso é que Eric Adams já tinha comentado a situação de Kyrie Irving em declarações ao New York Post há algum tempo, mostrando-se “extremamente otimista”: “Acho que se vai resolver sozinho. Penso que vamos arranjar uma maneira de ter segurança e manter os nossos padrões altos. Acredito que a NBA e Kyrie Irving deviam trabalhar nessa questão, será entre eles e a cidade para que se chegue a um acordo”.

Além das declarações e atitudes de Kyrie Irving, que têm sempre repercussão pela figura e até ícone desportivo que é, já aconteceram manifestações à porta do Barclays Center, nomeadamente no primeiro jogo em casa dos Nets, frente aos Charlotte Hornets, por parte de anónimos. Com cânticos pro-Kyrie e antivacinação, houve até quem tenha tentado entrar no pavilhão, mas sem sucesso.