É impossível conseguir acompanhar tudo o que se passa na Web Summit. São quatro dias em que muitos oradores pisam os vários palcos do evento referido como o maior sobre startups na Europa. Este ano o Observador tinha escolhido 13 nomes a não perder. Seguimos a sua intervenção principal e dizemos-lhe do que gostámos mais e menos. Pelo meio ouvimos outros protagonistas que entusiasmaram a plateia — uns mais outros menos. No final, Marcelo Rebelo de Sousa levantou o Altice Arena. E Paddy Cosgrave sorriu.
Henrique Gouveia e Melo
Poucos teriam dúvidas em eleger o vice-almirante Henrique Gouveia de Melo como uma das estrelas que passou pelos palcos da Web Summit. Fardado, voltou a falar do processo de vacinação de Portugal — aliás ao longo destes quatro dias houve vários elogios ao país pelos níveis de inoculação atingidos. O militar que coordenou a task force da vacinação confessa-se já “um pouco farto” de tanta atenção. Diz não ser o Super Homem, mas a própria Web Summit descreveu-o como “a estrela da pandemia de Portugal”. A Covid-19 foi, claro, um dos temas principais num regresso físico da Web Summit. Mas Gouveia e Melo não se esqueceu de outro: as alterações climáticas.
“Você é o meu herói”. Gouveia e Melo recebido por plateia ao rubro na Web Summit
Frances Haugen
A Web Summit tem já histórico de ouvir delatores. Aconteceu em edições anteriores com os denunciantes do caso Cambrigde Analytica — que usou dados privados de utilizadores do Facebook para influenciarem os votos nas eleições dos EUA e no referendo do Brexit em 2016 —, Christopher Wylie e Brittany Kaiser (que também estiveram este ano), e em 2019 no ecrã surgiu Edward Snowden, antigo analista de sistemas da CIA e da NSA. Este ano as luzes viraram-se para Frances Haugen, que saiu do Facebook com milhares de documentos debaixo do braço que sugerem que a rede social (cuja casa-mãe agora se designa por Meta) está construída para criar dependência e promover a discórdia.
Foi a esta denunciadora que este ano Paddy Cosgrave, presidente da Web Summit, entregou a responsabilidade de inaugurar oficialmente o evento, depois da palestra que voltou a criticar a atuação da empresa de Mark Zuckerberg. Frances Haugen acabou, assim, por ser uma das estrelas desta Web Summit, onde o Facebook também se pôde defender, preferindo fazê-lo à distância.
Ayo Tometi
“Não sou quem devia ser”, atirou Ayo Tometi, no palco principal da Web Summit, na cerimónia de abertura. Criadora do Black Lives Matter, agarrou a audiência com a sua história. E reafirmou que o movimento é uma “infraestrutura para garantir que as vidas dos negros importam, sempre importaram” e que pode contribuir para “um mundo onde todos beneficiam, onde todas as pessoas, e outros movimentos sociais, ganham força”.
Craig Federighi
Muitos dos participantes assumiram ter iPhones. A Apple é uma das “big 5” das tecnologias que não suscita críticas na maioria da assistência da Web Summit. Pelo contrário. Craig Federighi, a cara do software da Apple, atirou à Comissão Europeia, considerando que a legislação que Bruxelas pretende aprovar vai tornar os smartphones inseguros. É, segundo a analogia feita, como ter uma porta traseira para deixar as encomendas, com falhas de segurança.
Daniela Melchior
A atriz portuguesa que participou no Suicide Squad como Ratcatcher 2 aproveitou a Web Summit para anunciar que já tem projetos em carteira, mas foi a divulgação de que sofreu uma colite nervosa durante a gravação do filme que colocou os focos em si. Preparar o papel da vilã Ratcatcher 2 ao lado de artistas consagrados como Idris Elba ou Viola Davis culminou num episódio de colite que a obrigou a procurar acompanhamento hospitalar e a ser medicada. Depois desta revelação, ainda esteve no palco central, sem agarrar uma audiência que esperava pelo anúncio da startup vencedora, que acabou por ficar “em casa”, na portuguesa Smartex.ai.
Daniela Braga
A fundadora e presidente da DefinedCrowd (que mudou, entretanto, de nome para Defined.ai), Daniela Braga, chegou ao palco principal da Web Summit. O nome que consta da task force de Joe Biden para a estratégia de inteligência artificial está na lista de estrelas do empreendedorismo nacional. Na conferência de imprensa que deu, o tema Facebook não ficou de lado. Para Daniela Braga ninguém tem um plano maléfico tão grande como dizem que Zuckerberg tem com a rede social. Esta defesa não passou despercebida.
Věra Jourová
A vice-presidente da Comissão Europeia para os Valores e Transparência, Věra Jourová, fez o anúncio na Web Summit: Bruxelas vai apresentar legislação para regular a propaganda política nas redes sociais.
Segundo um Eurobarómetro, quase quatro em dez europeus revelaram que foram expostos a conteúdos que não conseguiram determinar com facilidade se eram propaganda política ou não. A legislação será um complemento à Lei dos Serviços Digitais e à Lei dos Mercados Digitais, já anunciadas no ano passado.
Amy Poehler
A comediante norte-americana era apresentada como uma cabeça de cartaz desta Web Summit. Criou o projeto Smart Girls, que se dedica a ajudar jovens a tornarem-se líderes. Serve de exemplo. Não deixou de lado o “empoderamento” da próxima geração de mulheres líderes. As raparigas de hoje precisam é de “espaço para serem livres”, que lhes façam as “perguntas certas”. Os temas eram sérios. Amy Poehler conteve-se e despiu o seu papel de comediante. Não tirou risos à plateia.
Jen Wong
O Reddit é, ele próprio, uma estrela, depois do caso Gamestop. Na Web Summit, a líder de operações da rede social, Jen Wong admitiu o crescimento, e garantiu no evento que pretende agora colocar a rede social ao serviços dos anunciantes. “Têm sido uns incríveis 12/18 meses”, assumiu a chefe de operações da rede social. Mesmo assim, podia ter falado mais sobre o momento em que a plataforma abalou Wall Street. Porém, assumiu de forma direta como o serviço online que já tem 500 milhões de utilizadores ainda quer crescer.
Depois de crescer com Gamestop, Reddit quer chegar aos “grandes anunciantes”
Nick Clegg
A surpresa chegou logo no primeiro dia completo de conferências e com atraso. Depois de na noite anterior a denunciante do Facebook ter subido ao palco, os olhos estavam postos em Nick Clegg, da rede social, que teria a primeira oportunidade para defender a sua dama. Mas surgiu em palco… através de um ecrã. “Fizemos um progresso significativo”, defendeu numa conversa que acabou por ter vários problemas de ligação.
Afinal, Nick Clegg, vice-presidente do Facebook, não veio à Web Summit
Chris Cox
Segunda oportunidade para o Facebook. Chris Cox, diretor de operações da agora Meta, também acabou por surgir remotamente. A organização desvalorizou o facto de estas duas participações terem sido à distância, sem aviso prévio. Chris Cox também teve problemas na comunicação, mas o Altice Arena ainda o ouviu dizer: “Não somos perfeitos”.
Brad Smith
O presidente da Microsoft está para a Web Summit como a Ivete Sangalo está para o Rock in Rio. Não há Web Summit que não tenha a sua participação. Na deste ano preferiu falar das alterações climáticas e da tecnologia. Mas, longe, em Glasgow, decorria a cimeira do clima que avançava com medidas concretas para tentar salvar o planeta. Brad Smith deu uma aula, mas os alunos não se entusiasmaram.
O presidente da Microsoft deu uma aula sobre “contabilidade” do ambiente na Web Summit
Tim Berners-Lee
O pai da Web pediu desculpas pela falha que deixou na sua invenção. Começa também a ser um passageiro frequente da Web Summit, mas Tim Berners-Lee continua a acreditar na criação e de que as falhas têm conserto. A palestra do pai da Web foi a última antes do encerramento. Não motivou grandes reações. Mas a plateia não estava adormecida. A intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa, que se seguiu e fechou a Web Summit, mereceu aplausos de pé.