A maioria dos hospitais dos grandes centros urbanos estiveram apenas a assegurar os serviços mínimos no turno da noite, devido à greve da função pública, disse à Lusa o coordenador da Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública.
“A esmagadora maioria dos serviços estiveram em serviços mínimos. O turno da manhã está a iniciar-se agora com os processos de rendição de trabalhadores e ainda vamos ter de avaliar. Ainda assim, durante a noite a greve foi bastante expressiva no setor da saúde, na recolha do lixo, nos centros educativos, nos centros de vigilância eletrónica”, adiantou Sebastião Santana.
De acordo com o coordenador da Frente Comum, estes dados relativos ao turno da noite demonstram a justeza da greve com uma grande adesão dos trabalhadores.
De manhã, em frente ao Hospital de São José, fez um balanço da greve à Rádio Observador e disse que “Agora durante a manhã está-se a continuar a greve e está a demonstrar que as reivindicações de aumentos de salários, de valorização das carreiras, do fim da precariedade na administração pública, de melhores serviços públicos são justas e oportunas.”
Greve da função pública afeta escolas, hospitais e serviços públicos. “É prova que faz sentido”
Sebastião Santana justificou a greve com um conjunto de problemas que dura há mais de 10 anos e que não têm tido qualquer resposta deste Governo e dos que lhe antecederam.
“Falamos da questão salarial. É preciso lembrar que os trabalhadores da Administração Pública vão para o 13.º ano sem aumentos. O que houve neste período foi duas atualizações de acordo com a inflação desse ano, nunca recuperando o poder de compra perdido”, disse.
Na opinião do coordenador da Frente Comum, o Governo insiste numa política de desvalorização das carreiras, dos trabalhadores com vínculos precários.
“Nós temos neste momento muito perto de 100 mil trabalhadores com vínculo precário na Administração Pública apesar dos programas de integração que houve, que ficaram aquém das necessidades e mesmo nesses programas falta cumprir etapas como por exemplo a contabilização do tempo de serviço a estes trabalhadores”, disse.
Sebastião Santana destacou também um conjunto de reivindicações distintas como os descontos na ADSE, a questão das férias dos trabalhadores e da valorização dos próprios serviços públicos.
“Há aqui um conjunto de matérias que mesmo não existindo agora Orçamento do Estado para 2022 podiam resolver-se já. Primeiro porque ainda não esgotámos o Orçamento do Estado de 2021 e há muita coisa que era suposto ter acontecido e não aconteceu, nomeadamente a questão das contabilizações dos tempos de serviço para trabalhadores precários integrados e pessoal militar, que sai da carreira militar e ingressa na Administração Pública.
Por outro lado, sublinha Sebastião Santana, “é preciso marcar desde já aquilo que virá a ser um futuro Orçamento do Estado”.
Os trabalhadores não vão aceitar que se prossiga esta política de desvalorização dos trabalhadores e dos serviços públicos”, concluiu.
A greve da função pública, marcada pela Frente Comum para esta sexta-feira, começou ao final da noite de quinta-feira, altura em que se registou uma grande adesão nos setores da recolha do lixo e higiene urbana.
“Nos primeiros serviços de recolha noturna a entrar em funcionamento — Almada, Amadora, Évora, Loures, Odivelas, Palmela, Moita e Seixal — registou-se uma adesão de 100%, não tendo sido efetuada a recolha de lixo e serviços de higiene urbana noturna nestes concelhos”, indicou o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional (STAL), em comunicado.
A Frente Comum (CGTP) reivindica aumentos de 90 euros para todos os trabalhadores e um salário mínimo de 850 euros na administração pública, mas o Governo vai fazer uma atualização salarial de 0,9%.
Na quarta-feira, realizou-se uma nova ronda negocial com a equipa do Ministério da Modernização do Estado e da Administração Pública, mas o Governo não alterou a sua proposta, estando agendada nova reunião para a próxima semana.
A Federação dos Sindicatos da Administração Pública (UGT) também tinha marcado uma greve para hoje contra a desvalorização dos salários e carreiras da Administração Pública, mas desmarcou-a na semana passada, face ao cenário de dissolução da Assembleia da República.