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Comadre. A trattoria e restaurante vintage onde há comida para partilhar em ambiente Wes Anderson

Este artigo tem mais de 3 anos

A amizade de 18 anos da dupla Melissa e Meguy culminou na abertura de um restaurante em Lisboa. A comida é caseira inspirada em Itália e no Médio Oriente, há cocktails de autor e decoração vintage.

Comadre Lisboa
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O andar de baixo do Comadre tem salas privadas para grupos

O andar de baixo do Comadre tem salas privadas para grupos

A história

A amizade é, por norma, um forte alicerce para coisas maiores que podem nascer dessa ligação entre pessoas — e a comida é um desses elementos que consegue ser consensual na hora de juntar gente em redor da mesa. Melissa Domingues e Meguy Pereira conhecem-se há 18 anos, são amigas desde então, e foi dessa afeição que juntaram ideias, as respetivas experiências e vontades para abrirem juntas o Comadre, um restaurante a um passo do Marquês de Pombal, em Lisboa, com comida caseira e de partilha, com direito a salas privadas e uma zona de trattoria a abrir em breve para take-away.

Há quase duas décadas, Paris foi a cidade que as juntou e, apesar de cada uma ter seguido o seu caminho durante uns bons anos, Lisboa acabou por ser a cidade que as voltou a juntar, como se nunca tivessem estado separadas. Meguy enveredou pela cozinha, estudou na Cordon Bleu em Paris e passou pelo Belcanto e Mini-Bar de Avillez, pelo Sheraton, e tornou-se consultora de novos espaços na cidade; já Melissa é formada em Art Market Expertise pelo Institut Supérieur des Arts em Paris, trabalhou em vendas de leilão, passou por Berlim onde foi responsável de comunicação e marketing e, em Lisboa, apaixonou-se pela restauração do ponto de vista comunicativo, tendo sido supervisora de operações para a rede de restaurantes Café Janis, Farès, Dallas e Palma Cantina. O know-how de ambas aliado à amizade resistente tornaram-se os ingredientes necessários para a receita que viria a ser o Comadre.

Comadre Lisboa

Melissa Domingues é uma das fundadoras do espaço

“Sempre quisemos ter um projeto em comum, que fosse a nossa cara, e como a Meguy sempre trabalhou na restauração e eu com comunicação também ligada a restaurantes surgiu a ideia de ter um espaço que seja parte da nossa vida, de partilha”, conta Melissa. “É uma forma de celebrar a amizade, somos comadres de alguma maneira, duas mulheres de negócio.”

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Em novembro de 2020 encontraram o espaço, em março deste ano tinham as chaves na mão e os materiais prontos para começar uma intervenção séria naquela que era outrora uma antiga casa de fados. Quando a dupla encontrou este sítio o local estava completamente descaracterizado, com pladur a cobrir as paredes originais e duas camadas de chão a esconder o mosaico axadrezado também original.

Comadre Lisboa comadre lisboa comadre lisboa

Quase tudo o que compõe o espaço é vintage ou em segunda mão

“Quisemos voltar ao que era, voltar a pôr o espaço cru, meio que inacabado para combinar com a nossa ideia de decoração daquilo que seria o Comadre”, conta Melissa que, durante pouco mais de seis meses, com ajuda de Meguy e uns tantos amigos puseram de pé o sonho de uma amizade duradoura.

O espaço

À primeira vista ninguém adivinha a dimensão do espaço que o Comadre esconde para lá da porta de madeira escura com um grande espelho e uma maçaneta — é quase um convite para entrar em Nárnia, como se a porta do armário se abrisse e os comensais fossem transportados para outra dimensão. Uma dimensão que rapidamente se transforma num salão de refeições com um grande pé-direito, com uma cozinha aberta para a sala, um balcão que serve de bar com uma instalação de flores secas a pender do teto e uma mão cheia de mesas e cadeiras vintage — algumas delas de cinema, daquelas antigas de madeira e veludo vermelho.

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A porta que dá acesso à sala de refeições ©Inês Costa Monteiro

Este, diga-se, é o espaço principal do Comadre, a chamada “casa de amigos”, mas antes de lá chegar há um hall de entrada com meia dúzia de cadeiras, uma selva urbana a dar ambiente para quem quer começar (ou acabar) a noite de copo com cocktails. Nesse espaço à entrada está também uma longa vitrine ainda vazia — comprada em segunda mão — onde vai funcionar a partir do início do próximo ano a dita Feitoria que se pode ler no quadro que é a imagem do Comadre. “Não há uma palavra em português que traduza exatamente o conceito que queremos ter aqui, que é o de trattoria italiana, em francês traiteur, que é um espaço para take-away. Optamos por Feitoria que encaixa de certa maneira naquilo que queremos ser”, explica Melissa. É nessa mercearia-balcão que vão ter comida para take-away que vai desde as sobremesas, focaccias, saladas ou até pratos mais compostos, a pensar numa cozinha muito caseira e sazonal, que muda todas as semanas.

“Não queremos estar nas plataformas de entrega, porque deturpam os preços e a qualidade da comida de certa maneira. Aqui a Feitoria vai ser mais uma coisa de bairro, que serve para, por exemplo, quem tem um jantar em casa de amigos e quer levar uma sobremesa ou uma entrada, algo que não seja vinho, e aqui consegues encontrar”, refere a co-fundadora.

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Na sala interior, onde a magia vai acontecendo há ainda uma outra dimensão, mas é preciso descer uma escadaria escondida a um dos cantos. O piso inferior é um verdadeiro tesourinho pronto para ser descoberto por quem ali entra, cada detalhe decorativo, cada cor escolhida e cada peça de mobiliário foram pensados ao pormenor pelas duas sócias. Praticamente tudo é vintage e em segunda mão, resultado de uma busca incessante pela “decoração perfeita e harmoniosa sem que tudo parecesse um caos”. É quase impossível não tirar o telefone do bolso para registar alguns dos muitos detalhes do espaço.

“Desde pequenas que sempre fomos muito manuais e sempre gostámos muito das coisas artísticas e de pintar, então o Comadre e tudo o que aqui temos é resultado de uma fusão das nossas ideias combinadas”, conta Melissa. “Criámos um universo específico à volta deste mundo esotérico, das pedras e dos cristais, queríamos uma coisa ao estilo gabinete de curiosidades.”

E todas estas escolhas são visíveis e palpáveis à medida que se descobre cada canto. Outra das grandes inspirações das duas fundadoras assentou no universo de Wes Anderson, com as simetrias e as cores utilizadas a saltarem à vista dos mais ávidos consumidores da cinematografia do cineasta.

É neste espaço mais privado que estão reservadas as salas para receber grupos (entre seis a 10 pessoas): a pink e a green room. “Notamos que as pessoas estão também a usar muito o piso de baixo como bar, por não ter aquela disposição fixa de restaurante, por isso acho que nós próprios estamos a descobrir o que queremos ter ali”, explica Melissa que tem em mente, num futuro próximo, passar a fazer eventos temáticos. Apesar de estes serem resultado de uma agenda própria, a fundadora do Comadre fala também na possibilidade de privatizar o espaço para aluguer a terceiros como uma das valências possíveis.

A comida

Se Melissa dá a cara pelo espaço e trata da comunicação, na cozinha está Meguy Pereira. As duas amigas não queriam uma cozinha pretensiosa, queriam, no fundo, uma cozinha com coisas que ambas gostassem de comer com inspirações claras na gastronomia do Médio Oriente e italiana. Na base do que sai das mãos de Meguy estão os produtos sazonais vindos de produtores locais para criar pratos caseiros e saborosos, uma espécie de comida da mamã mas com a modernidade que se quer num sítio destes.

O menu está dividido por capítulos, como se de um livro aberto se tratasse, e arranca com uma Introdução com três entradas: os pink oeuf mimosa, que são ovos tingidos em beterraba com maionese rosa, sementes de sésamo e cebolinho (4,50 euros), um suppli al telefono (4 euros) que é uma especialidade romana, uma espécie de croquete recheado de risotto e mozzarella, hummus com topping de legumes da época servido com tosta focaccia (7 euros), e ainda um chouriço mouro assado no barro com focaccia (10 euros).

nuggets de bacalhau

©Inês Costa Monteiro

A história segue para o Capítulo I com um prato de feta frito com diospiro grelhado, dukkah e manjericão (12 euros + 2 euros com focaccia). Para a mesa podem vir também uns generosos e crocantes nuggets caseiros de bacalhau com maionese rosa e cebolinho (12 euros), ou um prato com cogumelos temperados com molho de amendoim, feta, croutons e cebolinho (11 euros). O Capítulo II arranca com uma tábua de falafel para partilhar com dips da época, couve roxa e pão turco (11 euros), e fica-se pelo Médio Oriente com um kebab de borrego, labneh, molho de pimentos, couve roxa, pão turco e salada (14 euros) — para quem não come carne há uma versão vegetariana feita com cogumelos, molho de amendoim, pimentos, feta e couve roxa.

Comadre Lisboa Comadre Lisboa

©Inês Costa Monteiro

No campeonato dos pratos principais joga ainda uma salsicha artesanal com puré caseiro com parmesão e molho de tomar (12 euros), uma tosta de focaccia com almôndegas de carne de vaca, molho de tomate, mozzarella e manjericão (12 euros), ou umas batatas com queijo derretido (6,50 euros).

O Epílogo traz as sobremesas como o cannelé de caramelo salgado e chantilly (3 euros), uma tarte lemon curd com bolacha da casa (4 euros), um ​​fortune cookie com caramelo salgado e uma mensagem do universo (4,50 euros), o chamado brookie (4 euros), uma fatia daquilo que é uma fusão entre um brownie e uma cookie também com caramelo salgado e chantilly.

Comadre Lisboa

Além da carta de vinhos naturais, há uma só de cocktails clássicos

©Inês Costa Monteiro

Melissa confessa que também houve cuidado na escolha das bebidas com uma seleção da cerveja artesanal A.M.O. — que tem uma tap room uns metros acima naquela rua — “feita por mulheres de negócio como nós aqui”, diz a proprietária. Nos cocktails nada como os clássicos moscow mule (8 euros), margarita (7,50 euros), aperol spritz (7 euros), vodka mate (9 euros) ou um gin basil (8 euros). Os vinhos, por sua vez, são todos naturais, pedidos a copo ou à garrafa, como o Índio Rei Huniverso, o biodinâmico Quinta da Palmeirinha, o Crazy Javali, o Humus Balbúrdia, o petillant Javali Pet Nat, e um vinho laranja Rebuscado.

Para já, o Comadre abre apenas para jantares, mas no início de 2022 terá além da Feitoria um horário diurno para servir almoços.

O que interessa saber

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Nome:  Comadre Lisboa
Abriu em: outubro 2021
Onde fica: Rua Luciano Cordeiro, 81C, Lisboa
O que é: um restaurante com comida sem peneiras e do mundo, para partilhar e beber um copo de fim de tarde
Quem manda:  Melissa Domingues e XXXX
Quanto custa: preço médio de 25€/pessoa
Uma dica: experimentar os nuggets de bacalhau, o falafel e o brookie como sobremesa
Horário: terça a sábado das 19h às 01h.
Links importantes: Instagram

 

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