Depois de ter decretado o confinamento obrigatório para todos os não vacinados maiores de 12 anos — uma medida que afetaria 2 milhões de pessoas —, a Áustria tornou-se no primeiro país na Europa Ocidental a optar uma vez mais pelo confinamento nacional. A medida que visa combater a nova onda infeções não vem sozinha: o governo austríaco determinou também esta sexta-feira que, a partir de 1 de fevereiro, a vacinação é obrigatória. O novo confinamento, que arranca já na próxima segunda-feira, terá a duração máxima de 20 dias. Uma reduzida taxa de vacinação contribuiu para que a quarta vaga da pandemia propagasse no país que, assim, volta a fechar o comércio.
Áustria avança com confinamento apenas para pessoas não vacinadas
Quantas pessoas estão vacinadas no país?
O país tem uma população de aproximadamente 9 milhões e, atualmente, enfrenta a quarta vaga da pandemia. Cerca de dois terços da população austríaca estão totalmente vacinados, sendo esta uma das taxas de vacinação mais baixas da Europa Ocidental. Tanto que já antes o novo chanceler austríaco Alexander Schallenberg admitiu que a percentagem era “vergonhosamente baixa”. Apenas 64% da população austríaca está totalmente inoculada, segundo o Centro Europeu de Controlo de Doenças, sendo que a média da União Europeia é de 65.5%.
Áustria avança com confinamento apenas para pessoas não vacinadas
Isto acontece porque grande parte é cética em relação às vacinas, recorda a Reuters, posição que é encorajada pelo Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ, extrema-direita), o terceiro maior no parlamento.
Até 14 de novembro, foram administradas um total de 11.467.445 doses de vacinas, segundo a Organização Mundial da Saúde. O país tem a segunda menor taxa de vacinação da Europa Ocidental, depois do Liechtenstein.
“Não conseguimos convencer pessoas suficientes a serem vacinadas”, lamentou esta sexta-feira o responsável político de Tirol, onde esteve reunido com os chefes dos governos estaduais. Schallenberg foi mais longe e culpou mesmo os não vacinados pelo “ataque ao sistema de saúde”. Ainda assim, a procura em torno da vacinação aumentou nos últimos dias depois de o país ter decretado o confinamento obrigatório para os não vacinados no início desta semana.
O que sabemos sobre o novo confinamento?
Alexander Schallenberg anunciou, na conferência de imprensa de sexta-feira, o novo confinamento nacional que durará até 20 dias (as medidas serão, no entanto, reavaliadas ao fim de 10 dias). A decisão é a mais radical na Europa que se tem vindo a confrontar com a quarta vaga de infeções — diferentes governos consideraram uma vez mais confinar mas não totalmente, os Países Baixos, por exemplo, colocaram em prática um lockdown parcial (os bares e restaurantes estão a fechar às 20h).
“Custa que tais medidas ainda tenham de ser tomadas”, disse Schallenberg. “Muitos de nós não mostraram solidariedade suficiente. Peço a todos que ajudem. (…) Vamos tentar reduzir os nossos contactos sociais por um máximo de 20 dias para que as férias de Natal” estejam asseguradas. O chanceler assegurou ainda o país não deseja uma quinta onda, tampouco uma sexta ou sétima ondas.
A partir de segunda-feira, os austríacos não terão permissão para sair de casa, exceto para trabalhar, fazer compras essenciais (como alimentos e remédios) e para fazer exercício. Embora as escolas não estejam de portas encerradas, os pais são aconselhados a manter os filhos em casa.
A que ritmo sobem os casos?
Atualmente, o número de infeções por Covid-19 na Áustria estão entre as mais altas da Europa, com uma incidência de 991 casos por 100 mil habitantes nos últimos sete dias (a média, tendo em conta os últimos sete dias, ronda os 12 mil novos casos). Não está, no entanto, no grupo das mais preocupantes. Croácia, Eslovénia, Polónia, Hungria, Grécia e República Checa têm registado incidências que chegam a 2 mil casos por 100 mil habitantes, revelou esta sexta-feira Pinto Leite, da Direção-Geral de Saúde portuguesa, no encontro entre políticos e peritos no Infarmed.
Na quinta-feira, o país registou um novo máximo, com mais de 15 mil novos casos (15.145) — no mesmo dia morreram mais 55 pessoas, segundo a informação disponibilizada pela plataforma Our World in Data. O pico face ao número de óbitos foi, no entanto, em meados de dezembro do ano passado (a 17 desse mês morreram 218 pessoas).
As hospitalizações, mortes e o número de doentes infetados com Covid-19 em Unidades de Cuidados Intensivos estão também a aumentar rapidamente no país. A 14 de novembro, por exemplo, estavam quase 2.000 pessoas hospitalizadas e mais de 400 em UCI.
Desde o dia 3 de janeiro de 2020 até à última quinta-feira, dia 18 de novembro, foram confirmados 996.064 casos de infeção por Covid-19 e 11.486 pessoas perderam a vida, de acordo com dados compilados pela Organização Mundial da Saúde.
Como é que a Áustria viveu as primeiras três vagas?
O primeiro caso de Covid-19 no país foi detetado no final de fevereiro de 2020, com o primeiro confinamento generalizado a começar a 16 de março desse ano, pouco depois da Itália. A intervenção precoce e dura do governo fez com que todo o sistema público fosse encerrado — escolas, restaurantes, bares, teatros e lojas não essenciais ficaram de portas fechadas e os encontros de mais de cinco pessoas foram proibidos.
A reabertura acontecia em abril desse ano, numa altura em que a Áustria registava um total de quase 15 mil infeções (sensivelmente o mesmo número que registou só nas últimas 24 horas) e 470 mortes. Também os testes começaram cedo e aplicaram-se a funcionários em lares de idosos e nos hospitais, e a pessoas com condições de saúde mais debilitadas.
No início de abril, a Time escrevia que a Áustria seria um dos primeiros países da Europa a aligeirar o bloqueio imposto para combater o surto de Covid-19, com o governo a anunciar, à data, planos para reabrir lojas não essenciais nos dias seguintes, numa altura em que as novas infeções diárias estavam em queda. Em cima da mesa estava também a exigência do uso de máscaras faciais em supermercados, transportes públicos e lojas.
O país voltou ao confinamento em novembro do ano passado, aquando da segunda vaga. O terceiro lockdown começou a 26 de dezembro e acabou por se prolongar até 8 de fevereiro, sendo que a partir dessa data reabriram lojas e escolas. A vacinação foi avançando e a 13 de março, a Áustria atinge a marca de um milhão de inoculantes administradas.
No início da primavera, a situação variava consoante a região do país. Enquanto no oeste do país a pandemia estava mais controlada, no leste (incluindo a capital, Viena) estiveram num confinamento parcial, devido ao aumento de casos e à pressão sob os sistemas de saúde.
Só no início de maio é que os casos voltaram a descer um pouco por todo o país, assistindo-se à reabertura da economia e das escolas (em todas as regiões só abriram a 17 de maio). A partir daqui, a Áustria apostou numa estratégia de testagem, sendo que apenas vacinados, recuperados ou pessoas com teste negativo podiam entrar em certos estabelecimentos, como restaurantes ou hotéis.
Com o calor e com a vacinação a avançar, a pandemia parecia estar a dar tréguas na Áustria com o levantamento de várias medidas. Em vários dias de julho, as infeções diárias não superavam uma centena, numa altura em que Portugal e alguns países da Europa lutavam contra a variante Delta. No entanto, o verão trouxe um problema: a estagnação da campanha de imunização, que não conseguia superar a barreira de 60% da população inoculada.
No meio de agosto, os casos diários voltaram a aumentar para a ordem das centenas, tendência que se prolongou até o mês seguinte. Face à subida de contágios, o governo austríaco decidiu repor novas restrições em setembro, impondo a utilização da máscara em espaços fechados e obrigando à apresentação do certificado digital à entrada de espaços fechados como discotecas ou mesmo concertos.
O outono trouxe um aumento acentuado dos casos diários. No final de outubro, reportavam-se já aproximadamente sete mil contágios, numa situação que rapidamente se escalou — e o país contabilizou aos 10 mil casos a 10 de novembro. Face à escalada de infeções diárias, o governo austríaco implementou um confinamento para não-vacinados — mas esta sexta-feira recuou, tendo decretado um confinamento geral, o primeiro da Europa Ocidental desde a primavera.