A sede da SAD do FC Porto está a ser alvo de buscas pelo Ministério Público, esta segunda-feira, numa megaoperação que também está a visar a casa do presidente do clube, Jorge Nuno Pinto da Costa, do filho deste, Alexandre Pinto da Costa, e de outros empresários ligados ao futebol, como Pedro Pinho. A notícia das buscas foi avançada pela Sábado, que diz que em causa podem estar suspeitas de fraude, abuso de confiança e branqueamento de capitais em negócios ligadas ao clube. O Correio da Manhã avança que as suspeitas também envolvem um negócio com a venda de direitos televisivos. As buscas resultam da Operação Cartão Vermelho.

De acordo com o jornal, em causa está, por exemplo, a venda de direitos televisivos do FC Porto à antiga Portugal Telecom (agora Altice), num negócio que envolve o filho de Pinto da Costa, Alexandre Pinto da Costa. O negócio foi intermediado pela empresa de Bruno Macedo, arguido na Operação Cartão Vermelho, que terá recebido uma comissão de 20 milhões de euros pela mediação do negócio. De acordo com a CMTV, pelo menos 2,5 milhões terão revertido para o filho de Pinto da Costa. O montante pago teria como objetivo que Alexandre Pinto da Costa facilitasse o negócio com a agora Altice, que, segundo apurou o Observador, não está a ser alvo de buscas.

“No âmbito de um inquérito dirigido pelo Ministério Público do Departamento Central de Investigação e Ação Penal cuja investigação se encontra a cargo da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) e conta com a estreita colaboração da Polícia de Segurança Pública (PSP), foram cumpridos, no dia de hoje [segunda-feira], 33 mandados de busca, principalmente no Porto e em Lisboa, abrangendo instalações de sociedades, incluindo uma SAD e uma instituição bancária, bem como diversas residências. As diligências de recolha de prova visam investigar a suspeita de prática de crimes de fraude fiscal, burla, abuso de confiança e branqueamento, relacionados com transferências de jogadores de futebol e com circuitos financeiros que envolvem os intermediários nesses negócios”, confirmou o Ministério Público em comunicado.

“Estão em causa factos ocorridos pelo menos desde 2017 até ao presente, com forte dimensão internacional e que envolvem operações de pagamento de comissões de mais de 20 (vinte) milhões de euros. Na execução das buscas participaram 85 elementos da Inspeção Tributária da AT e da PSP, bem como magistrados do Ministério Público. O inquérito encontra-se em segredo de justiça”, acrescentou o texto.

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“A Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD (a “FCP SAD”), nos termos do artigo 248º A do Código dos Valores Mobiliários, vem informar o mercado que foi alvo de um mandato de busca, ao longo do dia de hoje, nas suas instalações, por suspeitas das entidades judiciais de crimes de abuso de confiança, fraude fiscal e branqueamento de capitais que tiveram a sua génese em movimentos financeiros relativos a transferências de jogadores de futebol. A FC Porto – Futebol, SAD colaborou com a equipa de investigadores cujo trabalho visou a apreensão de documentos que pudessem interessar à investigação”, confirmaram os portistas à CMVM.

Cartão Vermelho. MP também investiga Porto, família Pinto da Costa e empresa Altice

O jornal Nascer do Sol acrescenta, por sua vez, que Pinto da Costa é suspeito de ter desviado 40 milhões de euros da SAD no âmbito de negócios de transferência de jogadores. À Lusa, fonte ligada ao processo indicou que este inquérito é um processo autónomo do Cartão Vermelho, no qual no último verão o MP investigou crimes económicos relacionados com o ex-presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, que chegou a ser detido. Essas diligências incluíram também o filho, Tiago Vieira, e os empresários José Manuel dos Santos e Bruno Macedo.

A investigação está a olhar para os negócios de Bruno Macedo, Pedro Pinho e Alexandre Pinto da Costa, assim como outros intermediários, e, concretamente, para transferências de jogadores. Segundo explica a TVI24, Bruno Macedo e Pedro Pinho são considerados pela investigação testas de ferro do filho do presidente portista.

O MP e a Autoridade Tributária, que também participa nas buscas, suspeitam que uma parte do dinheiro proveniente dos negócios não foi declarado ao fisco e está a coberto de empresas, offshores e intermediários que escondem o destino do dinheiro no Brasil ou no Dubai. Estão ainda a ser investigados contratos alegadamente fictícios de compra e venda de direitos desportivos. A Polícia de Segurança Pública (PSP) também participa nas buscas.

Um dos negócios que já foi investigado é a compra e venda de Éder Militão, que assinou um contrato de cinco épocas com o Porto em 2018. O defesa central foi adquirido ao São Paulo por cerca de 8,5 milhões de euros, mas acabou por ser vendido ao Real Madrid, numa transferência de 50 milhões de euros “que gerou uma mais-valia de 28.437.285 euros”.

Segundo as contas de 2019 da SAD do Porto, a BM Consulting e a Yes Sports, ambas do empresário Bruno Macedo, foram credoras de cerca de 5,5 milhões de euros (dos quais 3,5 milhões pela intermediação na transferência de Militão para o Real Madrid).

A investigação estende-se ao empresário brasileiro Giuliano Bertolucci, que terá participado, com Bruno Macedo, na transferência de Militão para o Real Madrid.

Também o Banco Carregosa, no Porto, está a ser alvo de buscas.