No primeiro de dois dias de campanha interna na Madeira, Rui Rio aproveitou um encontro com Miguel Albuquerque para acentuar o contraste que tem tentado marcar em relação a Paulo Rangel. Se o adversário sonha com uma maioria absoluta, Rio pede pés na terra e bom senso. Se o adversário diz que com o PS jamais, Rio lembra que o PSD tem de ser maduro o suficiente para garantir a governabilidade do país. Se o adversário fala como verdadeiro candidato a primeiro-ministro, Rio vai jogando a cartada da humildade comedida. “Não sou um fanfarrão. Não vou dizer que as eleições estão ganhas.”
Baralhando e dando de novo: se Rangel diz mata, Rui Rio vai tentando não dizer esfola, até porque entende que essa estratégia pode aumentar as probabilidades de captar aquilo a que se convencionou chamar de “voto livre” nos partidos.
Ainda esta segunda-feira, em entrevista à TSF, o líder social-democrata reconheceu que o adversário pode levar vantagem na contagem de espingardas internas e que só aquilo a que chamou “militantes livres” podem mudar o curso da história. Daí a necessidade de adaptar a mensagem: um líder que não vende sonhos maioritários, predisposto a dialogar com o PS e que não toma como garantida a vitória nas eleições internas terá mais potencial para captar um eleitorado mais conversador e menos seduzível pela alternativa chamada Rangel.
Se isso será ou não suficiente para convencer o partido logo se verá. Até lá, Rio não deve desarmar. Na moção estratégica com que se apresenta a votos, voltou a deixar claro que não considera provável uma maioria absoluta deo PSD. “Importa construir uma nova maioria sem linhas vermelhas, assente no diálogo e no compromisso, à esquerda ou à direita, cujo único limite será a da moderação, do respeito pelas instituições constitucionais e a do superior interesse nacional”, escreveu o presidente do PSD na sua moção estratégica.
Esta tarde, na Madeira, Rio acrescentaria: “A maioria difícil é extraordinariamente difícil”, começou por dizer aos jornalistas, já depois do encontro à porta fechada de quase uma hora com Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira.
E sem maioria óbvia e possível à direita sobra um apoio informal do ou ao PS — solução que o adversário direto tem resistido em assumir. Rio, no entanto, prefere pôr as cartas na mesa e dizer ao que vai. “Temos [PSD] de estar disponíveis para garantir governabilidade do país. Ganhando ou perdendo.”
De resto, a referência à maioria absoluta foi a única deixa que Rui Rio aproveitou para deixar uma provocação a Rangel. Se o adversário direto a pede, sugeriu o líder do PSD, foi porque o partido só agora está em condições de a pedir. “É um grande elogio a todo o trabalho que tenho feito”, ironizou.
A visita à Madeira tem um sentido estratégico muito relevante na contabilidade interna. Com quase três mil militantes em condições de votar nestas diretas, com o apoio de Alberto João Jardim, um resultado expressivo no arquipélago pode baralhar as contas e anular algum do favoritismo teórico que Rangel tem junto das estruturas do PSD.
Rio, que há poucas semanas garantiu que não ia fazer campanha interna para se dedicar em preparar o partido para as próximas legislativas, assume que esta visita tem um caráter excecional e que vai mesmo tentar convencer os militantes madeirenses a darem-lhe o apoio e a vitória a 27 de novembro — vitória em que Rui Rio ainda acredita.
Acredita apesar das probabilidades jogarem contra ele. “Fé e esperança”, resumiu esta manhã Salvador Malheiro, vice-presidente do PSD e diretor de campanha do líder social-democrata. Rio aproveitou a deixa e, aos jornalistas, moderou o tom para militante ver. “Não sou fanfarrão. Não vou dizer as eleições estão ganha. Mas estou confiante.”
Mesmo a terminar, um lampejo do que pode ser a campanha para as legislativas caso venha a derrotar Paulo Rangel: o apelo ao voto útil à direita. Desafiado a comentar o psicodrama nos Açores e os avanços e recuos de André Ventura, Rio argumentou que quanto mais força se dá aos partidos emergentes menos estabilidade terá o país. “Quanto mais fragmentado for o voto, mais isto vai acontecer. A instabilidade é muito grande. Um deputado ou dois deputados fazerem chantagem”, despediu-se Rui Rio.