O antigo presidente da Assembleia da República Mota Amaral elogiou esta quinta-feira a marca que o atual presidente, Ferro Rodrigues, deixa na história do parlamento, desejou-lhe felicidades nas “novas tarefas”, mas sublinhou que “os políticos nunca se reformam”.
João Bosco Mota Amaral, que presidiu ao parlamento na IX legislatura entre 9 de abril de 2002 a 9 de março de 2005, reuniu-se esta quinta-feira durante meia hora com Eduardo Ferro Rodrigues, na Assembleia da República.
Foi um encontro para agradecer as gentilezas que o presidente Ferro Rodrigues teve comigo durante esses anos em que estive à frente do parlamento e, ao mesmo tempo, vim despedir-me dele e desejar-lhes as maiores felicidades nas suas novas tarefas”, explicou, no final, em declarações aos jornalistas.
Na semana passada, Ferro Rodrigues comunicou aos líderes das diferentes bancadas parlamentares que não se recandidatará nas listas de deputados do PS nas próximas eleições legislativas.
No entanto, o também antigo presidente do Governo Regional dos Açores recusou que tal signifique uma reforma.
“É evidente que uma pessoa com o traquejo de Ferro Rodrigues não vai desaparecer da cena política. De forma nenhuma, os políticos nunca se reformam, é uma das minhas teses”, afirmou.
Mota Amaral fez ainda uma avaliação muito positiva do desempenho do cargo pelo atual presidente da Assembleia da República.
“Foi uma tarefa muito difícil, devido às razões que são óbvias, mas desempenhou muito bem, com muito vigor, e deixa uma marca na história do parlamento”, considerou.
“Por pouco, não batia todos os recordes levando até ao fim a legislatura, mas há surpresas na vida parlamentar”, acrescentou.
O recorde de longevidade de um presidente da Assembleia da República pertence a Almeida Santos, que exerceu funções entre novembro de 1995 e abril de 2002, seguido de perto por Jaime Gama, entre março de 2005 e junho de 2011.
Ferro Rodrigues deverá ficar muito perto dos seis anos e alguns meses destes dois antigos presidentes, já que só deixará de ser presidente da Assembleia da República com o arranque da nova legislatura, previsivelmente em fevereiro.
Ferro Rodrigues, secretário-geral do PS entre 2002 e 2004, ministro dos governos de António Guterres entre 1995 e 2001, foi eleito presidente da Assembleia da República em 23 de outubro de 2015, numa votação que sinalizou a inviabilidade parlamentar do executivo minoritário PSD/CDS saído das eleições legislativas desse ano.
Na primeira reunião plenária da XIII Legislatura, apoiado por PS, BE, PCP e PEV, Ferro Rodrigues foi eleito presidente da Assembleia da República, com 120 votos, enquanto o social-democrata Fernando Negrão, apoiado por PSD e CDS-PP, obteve 108 votos.
PSD e CDS-PP acusaram então o PS de romper uma tradição de eleger para este cargo o candidato do partido mais votado.
Ferro Rodrigues foi reeleito presidente da Assembleia da República a 25 de outubro de 2019, semanas depois de eleições legislativas que deram a vitória ao PS, embora sem maioria absoluta.
Na reeleição, em que foi candidato único ao segundo lugar da hierarquia do Estado, o clima político foi bem distinto do de 2015. Ferro Rodrigues teve 178 votos a favor, 44 brancos e oito nulos.
Após o anúncio dos resultados, foi aplaudido por deputados de todas as bancadas, enquanto a bancada do PS ovacionou-o de pé.