O filme “Aos nossos filhos”, realizado por Maria de Medeiros, chega às salas francesas em fevereiro, embora ainda sem data prevista de estreia no Brasil, onde foi rodado e a cineasta pensa haver “uma atualidade importante” para ser mostrado.
“Toda a equipa acha que há uma atualidade importante e que devemos falar sobre tudo isto o mais rápido possível, mas também é importante que possa chegar ao público. Estamos a calcular este equilíbrio”, disse Maria de Medeiros, explicando que a Covid-19 ainda não permite a estreia no Brasil, em declarações à Lusa.
“Aos nossos filhos” foi mostrado este sábado no cinema mk2 Beaugourg no âmbito do Festival Chéries-Chéris, festival internacional do filme LGBTQ & ++ de Paris, que mostra longas-metragens de ficção, mas também documentários e curtas-metragens ligadas à realidades destas comunidades, incluindo a lésbica, ‘gay’, bissexual, transexual e ‘queer’, em todo o mundo.
O filme realizado por Maria de Medeiros conta a história de duas mulheres lésbicas que querem ter um filho, sendo que a mãe de uma delas foi presa durante a ditadura no Brasil e, devido a traumas pessoais, tem dificuldades em aceitar os meios de conceção utilizados pelo casal.
A mãe, Vera, é interpretada pela atriz brasileira Marieta Severa, num elenco que conta ainda com Laura Castro, Marta Nóbrega, José de Abreu, Cláudio Lins ou Ricardo Pereira.
Maria de Medeiros aproximou-se desta história por ter interpretado Vera no teatro, tendo percorrido o Brasil com a peça e decidido depois transpor a trama para cinema. O filme terminou as gravações entre as duas voltas das eleições presidenciais do Brasil, em 2018, que levaram ao poder Jaír Bolsonaro, um evento que deu outro sentido ao projeto.
“O Brasil estava naquela altura muito confiante na sua democracia, na sua sociedade, no seu futuro. Surpreendeu-me até a facilidade com que conseguimos fundos para o filme. Começámos a escrever esta história como um género de comédia solar, próxima da realidade e ao longo de cinco anos, o Brasil mudou completamente e a sociedade tornou-se mais cinzenta. O nosso guião também”, explicou a realizadora.
Maria de Medeiros esteve recentemente no Brasil e descreve que será difícil reconstruir o que se perdeu nos últimos anos em termos artísticos, mas também noutros setores como a educação.
“Eu estive agora seis meses no Brasil e a sensação que dá é que há um ritmo de destruição muito grande e muito rápido. É vertiginoso pensar no tempo que vai levar a reconstruir o que se está a perder a todos os níveis”, lamentou.
Nesta longa-metragem, Maria de Medeiros mostrou através da personagem Vera a tortura feita às mulheres durante a ditadura militar e os efeitos a longo prazo vividos pelos prisioneiros desse regime.
Sem data de estreia no Brasil, o filme também ainda não tem data de estreia em Portugal, estando ainda à procura de um distribuidor em terras lusas.
Maria de Medeiros está agora a preparar a sua próxima longa-metragem, que será uma produção portuguesa, e onde um “destino pessoal se vai misturar à História” entre Portugal e Cuba.