Rui Pedro Soares e Rui Costa surgiram na sala de imprensa do Estádio Nacional do Jamor depois do apito final num jogo que teve apenas 45 minutos e 20 jogadores e concordaram, essencialmente, numa questão: a culpa de a partida não ter sido adiada não foi do Belenenses SAD e não foi do Benfica, sobrando para as autoridades de saúde e para a Liga de Clubes. O presidente dos azuis garante que pediu à Liga o adiamento da partida durante a tarde, sendo que o organismo referiu ao jornal O Jogo que não existiu “qualquer pedido formal”.
“A primeira palavra vai para os meus jogadores. Há 48 anos que vejo futebol e nunca vi jogadores tão dignos como estes que foram obrigados a jogar. Para eles, um sentimento de profunda compreensão, mostraram a todos o que é ter dignidade. Termos jogado aqui hoje foi uma vergonha para todos nós menos para os nove que se apresentaram em campo. Ontem fizemos testes antigénio e esses testes deram um conjunto de resultados positivos que foram comunicados. Durante o dia de hoje, foram realizados testes PCR para confirmar os antigénio. A meio da tarde, colocámos à Liga que não queríamos realizar o jogo mas foi-nos dito que tínhamos oito jogadores em condições de ir a jogo. E que, como tal, se não fôssemos a jogo tínhamos falta de comparência. Desses oito, havia um que estava lesionado há meses e outro que estava na África do Sul porque foi impedido de entrar em Portugal por não ter visto de residente, apesar de morar aqui há mais de quatro anos. Ainda não conseguiu viajar para cá. Só que os regulamentos não preveem que a falta desse jogador fosse considerada justificada. Esse jogador estava apto para o jogo”, começou por dizer Rui Pedro Soares, que se mostrou sempre muito exaltado durante a conferência de imprensa e chegou a levantar-se para regressar de imediato, justificando que ainda tinha de “esclarecer” algumas questões.
Questões que, de forma natural, estavam relacionadas com o facto de, ainda este sábado de manhã, o presidente do Belenenses SAD ter garantido que não só não tinha pedido como não pretendia pedir o adiamento do jogo. “Uma coisa é a vergonha a que assistimos, outra pior são faltas de comparência, pois resultam em perdas de pontos. Foi entendido que tínhamos jogadores suficientes para ir a jogo. Às 19h13 temos o lote final de jogadores, que era diferente do que tínhamos ontem. Isto porque houve um caso que ontem deu positivo e hoje negativo e outro o contrário. Passámos a ter nove jogadores em condições de ir a jogo, dois deles guarda-redes. O que aconteceu hoje foi uma grande vergonha, não há regulamento e calendário que justifiquem o que aconteceu hoje. Nunca na minha vida assisti a um comportamento tão digno como o daqueles nove”, acrescentou Rui Pedro Soares, revelando depois que pediu o adiamento ao Benfica.
“A meio da tarde, pedimos à Liga o adiamento. O que nos responderam foi que tínhamos oito jogadores para ir a jogo. A nossa alternativa era ter falta de comparência. Às 19h, havia um lesionado e um que não estava cá. Não havia sequer condições para jogar. Às 19h13, há revisão da lista de disponíveis, que resulta dos testes PCR, e nós pedimos para não jogar às 19h13. Pedimos ao Benfica para não jogar às 19h13. Falei com a Liga bastante mais cedo do que com o Benfica e disseram-me que tinha oito jogadores para ir a jogo. A alternativa era a falta de comparência e perder dois a cinco pontos. Essa era a alternativa às 15h”, sublinhou o presidente dos azuis.
Pouco depois, foi a vez de Rui Costa aparecer na sala de imprensa. “Queria essencialmente lamentar o que aconteceu hoje no Jamor, lamentar esta página negra do futebol português e do próprio país. O Benfica simplesmente cumpriu com o regulamento da mesma forma que o Belenenses SAD foi obrigado ir a jogo. Se o Benfica não se apresentasse também perderia o jogo. Devemos estar todos envergonhados com o que aconteceu mas o Benfica não é responsável por esta página negra. Não nos agradou de forma nenhuma entrar em campo nestas condições. O Benfica foi, assim como o Belenenses SAD, obrigado a entrar em campo. As duas entidades responsáveis não adiaram o jogo, não seria o Benfica a fazê-lo também”, explicou o presidente encarnado.
“Não podia ser o Benfica nem o Belenenses SAD a adiar este jogo. Para além dos jogadores infetados, muitos outros estavam em casa negativos, por isso mesmo o Belenenses SAD não sabia. Houve várias conversas mas em nenhuma circunstância este jogo esteve para ser adiado. Até à folha do jogo não sabíamos quantos jogadores o Belenenses SAD teria. Àquela hora do jogo, não havia condições para adiar até porque o Belenenses SAD não formalizou nada para que este jogo não se realizasse. As indicações que o Benfica teve foi para ir para dentro de campo. Não foi às 19h15 ou às 18h da tarde que soubemos. Ao Benfica, não agradou fazer este jogo. Não permitiria, ao passar o que passei o ano passado, que o futebol português passasse outra vez por isso. Desde que eu tivesse possibilidade. Não foi o que aconteceu. Se isto tivesse sido um jogo de menor expressão, não se falava deste jogo ou se calhar resolvia-se de outra forma. Nem eu nem o Benfica gostámos desta situação. Fui jogador, sei como é que os jogadores se sentiram dentro de campo”, acrescentou Rui Costa.
Mais à frente, o presidente do Benfica garantiu que teria aceitado o pedido de adiamento do Belenenses SAD se essa hipótese tivesse sido permitida pela Liga. “Ter-se-ia conversado, como é óbvio. Neste caso, não poderiam ser nem o Benfica nem o Belenenses SAD. Acabámos, os dois clubes, por ser obrigados a ir para dentro de campo. Era possível haver adiamento, claro que sim. Nestas circunstâncias, claro que sim. O problema aqui foi a conjuntura total. O facto de o Belenenses SAD não saber quantos jogadores ia ter, nós a sermos obrigados a entrar, a Liga a fazer-nos cumprir o regulamento e a DGS a não querer adiar o jogo. Tem de haver uma mudança. Esperamos que não se repita. Desejo que os jogadores do Belenenses SAD que estão a passar por isto, que tenham uma recuperação rápida. Respeitamos o Belenenses SAD pelo que se passou hoje aqui, sabemos bem o que isso é. Esperamos que voltem rapidamente aos campos”, terminou.