O antigo presidente da RTP, Almerindo Marques, morreu esta quarta-feira, aos 81 anos. A notícia foi avançada pela RTP e confirmada entretanto pelo Observador.

Almerindo Marques foi secretário de Estado da Administração Escolar do I Governo Constitucional, tendo sido nomeado por Mário Soares. Assumiu posteriormente o cargo de deputado pelo Partido Socialista, entre 1983 e 1985. Mas foi como gestor sobretudo nas empresas do Estado ganhou maior reputação.

Passou pela administração de vários bancos públicos, incluindo a Caixa Geral de Depósitos da qual se demitiu em 2002 por divergências com a gestão do banco, tendo enviado uma carta ao Banco de Portugal a manifestar as discordâncias acabaram por se tornar públicas. Mas isso não o impediu de voltar a ser chamado para várias empresas privadas e públicas. Com o Governo de Durão Barroso é convidado para liderar a RTP e dar a volta à complicada situação financeira da televisão pública, cuja reestruturação conduziu até aos primeiros anos do Governo de José Sócrates.

Em 2007 é indicado pelos socialistas para liderar a Estradas de Portugal, empresa que ia iniciar um ciclo de investimentos rodoviários e liderar o lançamento das famosas concessões de autoestradas do Governo de Sócrates.

Almerindo demitiu-se quatro anos depois por incompatibilidades com o Executivo socialista que acusou de não cumprir as condições de financiamento à empresa que prometeu. No entanto, enquanto esteve em funções lutou para salvar os contratos de subconcessões chumbados no Tribunal de Contas em alinhamento com os objetivos do segundo Governo de José Sócrates. E foi a renegociação desses contratos que permitiu avançar com os investimentos polémicos e que o levaram a ser interrogado durante a investigação do inquérito do Ministério Público às Parcerias Público-Privadas, o gestor afirmou que chegou a destruir documentos que continham instruções para reformular contratos de concessões rodoviárias por ordem de terceiros.

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O testemunho do gestor foi recolhido pela investigação ao caso das PPP em 2019, no qual terá acusado o Governo socialista de ter cometido erros na negociação dos contratos das concessões rodoviárias, prejudicando a posição negocial do Estado. Almerindo Marques comprometeu também membros dos governos de Sócrates e elementos do Tribunal de Contas nas reuniões que conduziram à solução encontrada para contornar a recusa de visto e que veio a dar origem à investigação. Vários ex-governantes e alguns elementos da então Estradas de Portugal foram constituídos arguidos, mas o Ministério Público ainda não proferiu acusação.

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Depois de sair da Estradas de Portugal, Almerindo Marques ainda teve responsabilidades na gestão da Opway, a construtora do Grupo Espírito Santo que viria a entrar em insolvência no rescaldo da queda do GES.

Outro ex-presidente da RTP, Gonçalo Reis, já reagiu à notícia da morte do seu antecessor. No Facebook, Reis que trabalhou com o gestor na Estrada de Portugal, classificou Almerindo Marques como “uma referência enorme” e disse ter sido o gestor com quem mais aprendeu na vida. “Um senhor de grande categoria, que adorava situações difíceis, quanto mais difíceis melhor”, acrescentou.

Também a jornalista da RTP Fátima Campos Ferreira recorreu ao Facebook para assinalar a morte de Almerindo Marques. Na publicação, a jornalista afirma que “o seu labor nem sempre foi compreendido” e que o antigo presidente do canal público sempre foi “intransigente com a mediocridade”. “Ninguém lhe fica indiferente”, escreveu.