O líder da Fretilin, Mari Alkatiri, considera “impossível” um reatamento da relação de proximidade com Xanana Gusmão, líder do segundo partido, o CNRT, acusando-o de responsabilidade pelo crescente distanciamento, “porque não sabe perder”.

“Espaço para reaproximação? Entre nós os dois? Impossível”, afirmou o secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), em declarações à Lusa.

Alkatiri rejeita assumir qualquer responsabilidade pela degradação da relação com Xanana Gusmão, e afirma que isso se deve apenas ao ex-Presidente da República.

“Quem deve assumir é Xanana Gusmão que não sabe perder. A Fretilin já provou que mesmo perdendo reconhece as eleições e não fazemos mais nada, contribuímos e colaboramos. Não vamos como o CNRT [Conselho Nacional de Resistência Timorense] ao tribunal, o tribunal não decide como eles querem e o tribunal também está errado”, disse.

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O líder da Fretilin reconhece que a aproximação entre ambos, no passado, foi positiva, mas que o custo tornou-se demasiado elevado.

“A partir de 2009 tomei a iniciativa de me aproximar de Xanana para encontrar o pacto de regime que estava a despolitizar todo o ambiente. E todos acharam que foi positivo. Mas o pacto não significava que eu tinha que aceitar perder as eleições”, comentou.

Entre 2014 e 2017 — o CNRT liderava o Governo -, Timor-Leste viveu o período de maior proximidade entre os dois líderes e os seus partidos, com muitas decisões, incluindo sobre o Orçamento, a terem apoio unânime no parlamento, mesmo perante vetos do então chefe de Estado, Taur Matan Ruak, hoje primeiro-ministro.

A situação degradou-se depois da vitória por uma curta margem da Fretilin nas eleições de 2017, das tentativas frustradas de Alkatiri formar uma coligação de maioria, e de uma nova coligação, liderada por Xanana Gusmão com o CNRT, PLP e KHUNTO.

Uma tensão que foi crescendo com o chumbo do programa do Governo liderado por Alkatiri, a dissolução do parlamento e eleições antecipadas em 2018 em que os três partidos se apresentaram (e venceram com maioria absoluta) como a coligação AMP.

Francisco Guterres Lú-Olo, presidente da República e presidente da Fretilin, não deu posse à maioria dos membros do Governo nomeados pelo CNRT, a tensão interna na AMP cresceu levando ao chumbo do OGE para 2020 e à substituição do CNRT pela Fretilin no Governo.

Referindo-se à arriscada decisão da Fretilin viabilizar o atual Governo, Alkatiri insiste que se fosse hoje tomaria a mesma decisão, frisou que o seu partido “sempre tomou riscos, desde o início da luta pela independência” e que o atual modelo servir de “lição”.

Até aqui, disse, a tradição é de pequenos partidos ajudarem a viabilizar “o Governo de um grande”, mas esta “é a primeira vez que um grande partido está a viabilizar um governo de pequenos partidos”.

“O objetivo é mesmo mudar as mentes”, disse, explicando que a decisão de entrar só foi tomada depois da saída do CNRT já que, se isso não tivesse ocorrido, a Fretilin poderia ter dado apoio, como o fez ao Governo liderado pelo CNRT a partir do final de 2014, em acordos pontuais no parlamento.

“A Fretilin quer ser também uma organização que eduque. A democracia não é só está no Governo, mas é também não provocar crises e contribuir todos para a construção de um Estado de direito democrático. O que não tem acontecido”, afirmou.

“Os que reclamam agora que querem repor o estado de direito democrático são as pessoas que nunca respeitaram o estado de direito democrático. Com que coragem é que dizem que eles é que vão repor isso?”, questionou, referindo-se às posturas políticas do CNRT, de Xanana Gusmão, que questiona a legitimidade política quer do atual Governo quer da atual maioria parlamentar.