Noite de oportunidades em Amesterdão. O Sporting já apurado defrontava o Ajax, rei e senhor do primeiro lugar do Grupo C da Liga dos Campeões e responsável pela derrota mais pesada que os leões sofreram esta época (5-1), no Estádio José Alvalade. Foi o arranque verde e branco na Champions 2021/2022 e, como se vê agora, quaisquer notícias de um possível caminho agreste na liga milionária foram manifestamente exageradas. A partir daí, excluindo uma normal derrota por 1-0 no Signal Iduna Park frente ao B. Dortmund, saiu um embalo do leão rumo aos oitavos de final com três triunfos seguidos.

Seria fácil dizer que o encontro da noite desta terça-feira era como que uma révanche da equipa de Rúben Amorim. Poderia sempre sê-lo, apenas seria confirmado no final do jogo da Johan Cruyff Arena, mas seriam mesmo, até como defendeu o treinador português, as oportunidades a marcar desde cedo o jogo. De golo? Talvez, mas sobretudo, além de alcançar um recorde e de ganhar euros para os cofres de Alvalade, as de testar jogadores, ver atletas, lançar jovens leões às feras e ver como, segundo Amorim, funciona uma das equipas com melhor ataque posicional da Europa.

Primeiro, os rapazes. Rúben Amorim garantiu mudanças a começar pela baliza (João Virgínia vai jogar até porque o Sporting “tem uma decisão a tomar no final da época”) e até possíveis estreias, inclusivamente porque a Liga dos Campeões “é um espaço de crescimento” para os atletas e para o “projeto que é a longo prazo” do Sporting, que tem “grande responsabilidade e vai jogar para ganhar para honrar a camisola”. E claro, há os amarelos a ter em conta…: “Vamos aproveitar cada minuto deste jogo para ver alguns jogadores que queremos nesta competição, porque temos de ter atenção que temos muitos atletas que têm amarelo e temos que os proteger. Mas, mais do que proteger, temos de preparar os outros, porque podem ser chamados para uma segunda mão dos oitavos de final. Se todos estiverem muito bem preparados, sentem que podem ser titulares e é essa a nossa ideia”.

E com o Sporting a poder chegar pela primeira vez às quatro vitórias consecutivas em competições europeias, “entre Nazinho e o [Gonçalo] Esteves” um deles seria titular. “Temos de vencer mas temos um plano maior do que qualquer recorde”, disse Rúben Amorim sobre o jogo perante uma equipa que venceu no tal jogo do meio de setembro os leões por 5-1, um jogo que “marcou a equipa mas também lhe deu força”. De realçar que nunca um treinador em Alvalade perdeu menos jogos nos primeiros 75 encontros à frente do clube: foram sete derrotas. Mas, claro, e na realidade nacional principalmente, uma vitória na Liga dos Campeões vale cerca de 2,8 milhões de euros e, o “Sporting tem de vencer amanhã também por isso, porque é o que vai permitir manter mais jogadores no clube”.

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O Sporting chega ao campo do Ajax depois de uma categórica e sempre importante vitória no Estádio da Luz frente ao eterno rival Benfica (3-1), o que atribuirá, de forma quase inegável, um boost de moral à equipa de Alvalade, Rúben Amorim destaca que o seu conjunto teve “pouca bola” e que esta quarta-feira vai jogar “contra uma das melhores equipas da Europa a nível de ataque organizado”. “O Ajax tem um treinador que trabalha com esta equipa há cinco anos e nós queremos essa base de crescimento. Veremos daqui a cinco anos como estará a equipa do Sporting, se tiver o mesmo tempo de crescimento”, frisou o treinador, que reafirmou os objetivos da equipa, a vontade do clube e elogiou um jogador em particular: “Estamos num projeto longo, mais do que recordes, atingimos os oitavos mas temos sempre de ganhar, olhando para o futuro. Vamos estrear um miúdo, se puder meto mais, mas também não os quero queimar. É um crime o Dani [Daniel Bragança] não ter mais minutos, se jogássemos com três médios era titular. O grupo é unido porque acreditamos todos uns nos outros”.

Sem poder contar com cinco jogadores devido a problemas físicos, a saber: Feddal, Coates (Covid-19), Palhinha, Jovane e Vinagre, Rúben Amorim acabou mesmo por deixar Matheus Nunes e Pedro Porro fora do onze inicial, para não verem o tal amarelo (Palhinha e Feddal também estavam em perigo). Assim, cumprindo o que disse, o treinador do Sporting lançou Daniel Bragança para o meio-campo, a fazer dupla com Ugarte, que fez um jogaço na Luz. Com João Virgínia na baliza, Gonçalo Inácio, Matheus Reis e Neto na defesa, Esgaio e Gonçalo Esteves (em estreia na Champions e o mais novo leão a jogar a prova na história… até Essugo entrar) foram os alas. Na frente, Tiago Tomás, Nuno Santos e talvez a maior surpresa, Tabata.

Mas mesmo já apurado o Ajax não apareceu para cumprir calendário porque, lá está, também era um jogo de oportunidades para os neerlandeses: com cinco vitórias no mesmo número de jogos, 16 golos marcados e três sofridos, a equipa de Amesterdão procurava tornar-se a primeira equipa dos Países Baixos a conseguir o pleno na fase de grupos da competição. E se o Sporting vencia há 12 jogos, a verdade é que o Ajax não perdia faz dez encontros e ainda não sofrera golos em casa esta época na Liga dos Campeões, sofrendo apenas um golo nos últimos dez desafios. Mesmo sem Pedro Gonçalves de início, que bisou nos últimos dois jogos da prova, o Sporting procurava continuar a senda que vem de há cinco jogos, marcando sempre pelo menos dois golos (um total de 11 nos últimos três da Champions).

Depois de outros miúdos do Sporting, os que participam na Youth League, terem virado um 0-2 para 3-2 frente ao Ajax, a equipa de Amorim entrava em campo frente a uma equipa em que a ausência mais notada era mesmo o craque Tadic. De resto, Haller, Blind, Antony, Gravenberch, todos foram a jogo. O Ajax também queria muito deste encontro. E cedo conseguiu: o árbitro italiano Davide Massa foi alertado pelo VAR de uma possível grande penalidade e descortinou ao ver as imagens uma falta de Bragança sobre Haller. Chamado a converter o costa-marfinense fez golo, marcando assim em todas as seis jornadas dos grupos da Liga dos Campeões, igualando algo que Cristiano Ronaldo fez no Real Madrid em 2017/2018. Ronaldo e Lewandowski também marcaram em todos os (até agora cinco) jogos desta fase de grupos de 2021/22. Frente a um estádio vazio, devido às restrições Covid-19, o Sporting tinha de ir atrás do resultado.

E, sem surpresa, que bem joga este Ajax. De pé para pé, na vertical, a explorar as alas e tentar jogar no meio, seja para Haller ou para a entrada da área, onde Mártinez quase fez golo (16′). O Sporting não acusou o golo e mostrou muita personalidade. E se são estas as segundas escolhas de Rúben Amorim, os primeiros 30′ deixaram o treinador satisfeito certamente. Era preciso descer no terreno por vezes? Era, mas o Sporting começou a encetar ataques rápidos e criação de finalização como tanto gosta e, após um cruzamento de Tabata para Nuno Santos, o português rematou de primeira para o empate. 1-1 aos 22′.  Ao chegar aos 13 golos, o Sporting de Amorim 2021/2022 tornou-se o melhor ataque de sempre dos leões na Champions.

O jogo pela camisola (e pelos recordes e euros, sim), ambos os conjuntos começaram a trabalhar bem o seu jogo. O Ajax a conseguir explorar a entrada da área, onde metia muita gente, obrigando João Virgínia (que mostrou serviço na primeira parte) a duas defesas por volta dos 40′. Com ambas as equipas a caminharem para o intervalo a tentar o golo, mas com a vibe de empate ao intervalo, Gonçalo Inácio acabou por ajudar o Ajax a colocar-se em vantagem. O jovem central leonino inventou e tentou sair a jogar muito perto de João Virgínia e a bola acabou nos pés do brasileiro Antony, que com muita calma deitou dois defesas e fez golo quando o guarda-redes do Sporting se aproximou.

E foi com o 2-1 que chegou o intervalo.

No segundo tempo o Sporting entrou pior no jogo e o Ajax, sempre que acelerava, causava calafrios nos leões que não conseguiam ter a bola. A equipa de Erik ten Haag joga e jogou mesmo muito bem, ainda que por vezes num ritmo cruzeiro. Mas a ideia estava lá: chegar à frente, fazer golos. E conseguiram. Os leões acabaram por se perder no campo, mesmo que por vezes tentassem subir as linhas de pressão, mas Rúben Amorim tinha razão. O Ajax tem um grande ataque posicional. E se aos 46′ estava 2-1, aos 66′ já estava 4-1. Um ataque rápido acabou com Neres a fazer golo pela esquerda na cara de João Virgínia; Klaassen apareceu com bola à entrada da área (recorrente), soltou em Berghuis que trabalhou muito bem e rematou forte para o quarto golo do Ajax. E, assim, o Sporting estava novamente a ser goleado pelo Ajax.

E chegados ao 4-1, existiam paradoxalmente duas verdades: o resultado era pesado para os miúdos de Amorim (Nazinho ainda entrou para o lugar de Esteves), mas o Ajax chegou aos golos com jogadas que mereciam o remate certeiro. Contas feitas e com o jogo fechado, o Ajax ficava com os tais 2,8 milhões de euros e tornava-se a primeira equipa dos Países Baixos a fazer seis em seis nos grupos da Champions.

O Sporting, sempre sério no jogo mesmo depois do pior momento dos primeiros 20′ da segunda parte, acabou por reduzir à entrada dos últimos dez minutos. Sarabia conduziu, Esgaio cruzou da direita para o centro da área uma bola rasteira e Tabata de primeira finalizou com força e qualidade. Excelente golo do brasileiro, a reduzir a desvantagem e a colocar o marcador muito provavelmente mais justo (4-2).

O Sporting termina a fase de grupos a sofrer mais uma vez muitos golos do Ajax, num resultado que nasce sobretudo de um descalabro no início da segunda parte e um erro de Gonçalo Inácio no final do primeiro tempo. Amorim lançou muitos miúdos, jogadores menos utilizados e colocou-os frente a um conjunto que, sem grandes nomes, tem no jogar bem futebol (afinal é o que interessa) a sua maior arma. Mais uma aprendizagem para os leões, porque a qualificação já estava, felizmente, no bolso.