Refugiados rohingya processaram o Facebook na segunda-feira, exigindo uma indemnização de 150 mil milhões de dólares (133 mil milhões de euros) à rede social, que acusam de contribuir para propagar mensagens de ódio contra aquela minoria étnica.

A ação, apresentada na segunda-feira num tribunal da Califórnia, onde o Facebook tem a sua sede, alega que os algoritmos utilizados pelo gigante tecnológico fomentaram a desinformação e as ideologias extremistas, traduzindo-se em atos violentos contra aquela minoria muçulmana.

O Facebook é como um robot programado para uma única missão: crescer. E a realidade inegável é que o crescimento do Facebook, alimentado pelo ódio, divisão e desinformação, deixou centenas de milhares de vidas de rohingya devastadas”, pode ler-se no documento, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).

Os rohingya, uma minoria étnica muçulmana, são perseguidos em Myanmar, onde são considerados “imigrantes ilegais” do vizinho Bangladesh, apesar de viverem no país há várias gerações.

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Em agosto de 2017, em resposta a um ataque de um grupo guerrilheiro rohingya, os militares birmaneses lançaram uma operação de limpeza que causou o êxodo para o Bangladesh nos meses seguintes de mais de 730 mil membros desta minoria perseguida.

Muitos dos que permanecem no país enfrentam a violência e a discriminação por parte da junta militar no poder.

Em 2020, no terceiro aniversário da limpeza étnica desta comunidade predominantemente muçulmana, a Amnistia Internacional acusou as autoridades de continuarem a ocupar terrenos pertencentes aos rohingya, apesar das medidas cautelares impostas a Myanmar pelo Tribunal Internacional de Justiça de Haia, no âmbito do processo por alegado genocídio contra aquela minoria.

A ação que deu entrada num tribunal de São Francisco alega que os algoritmos usados pelo Facebook instigam alguns utilizadores a frequentar grupos extremistas, uma situação ideal para “governantes e regimes autocráticos”.

Há muito que as organizações de direitos humanos criticam o Facebook por não fazer o suficiente para combater a desinformação.

Os críticos dizem que, mesmo quando a plataforma é alertada para mensagens de ódio, não reage, o que leva à perseguição de minorias e pode mesmo afetar o resultado de eleições.

A denunciante Frances Haugen, que deixou o Facebook em maio para alertar para as práticas do seu antigo empregador, disse ao Congresso dos Estados Unidos que a rede, cuja empresa-mãe foi recentemente rebatizada Meta, estava a alimentar a “violência étnica” em alguns países, incluindo contra os rohingya em Myanmar.

Fundador do eBay e grupo de advogados ajudam Frances Haugen, denunciante do Facebook

Em novembro de 2018, o Facebook admitiu que não impediu que a plataforma fosse usada para “incitar violência offline” em Myanmar, após um relatório independente acusar a rede social de criar um “ambiente propício” ao discurso de ódio e à violação dos direitos humanos.

Em março desse ano, o chefe da missão de investigação da ONU em Myanmar, Marzuki Darusman, disse que o Facebook tinha desempenhado um “papel determinante” na propagação do discurso de ódio contra aquela minoria étnica.

Ao abrigo da lei norte-americana, é pouco provável que o Facebook seja responsabilizado pelas mensagens publicadas pelos seus utilizadores.

Para contornar este obstáculo legal, a ação apresentada argumenta que a lei birmanesa, que não oferece tal proteção, deve ter precedência.

Contactado pela AFP, o Facebook não reagiu.