891kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Como vai funcionar e quanto tempo pode demorar a extradição de Rendeiro? Oposição de ex-banqueiro será difícil

Este artigo tem mais de 2 anos

Segundo Paulo Saragoça da Matta, o processo, mesmo com todos os possíveis constrangimentos, "deverá estar concluído entre seis e oito meses".

i

MÁRIO CRUZ/LUSA

MÁRIO CRUZ/LUSA

João Rendeiro foi detido esta manhã pela polícia sul-africana no hotel de luxo numa cidade da costa de Durban, a pedido das autoridades policiais portuguesas, e deverá ser ouvido por um juiz já esta segunda-feira. Até agora tudo o que foi feito aconteceu ao nível policial — e com encontros ao mais alto nível –, a Justiça portuguesa entra nos próximos dias em jogo.

O processo de extradição deverá processar-se ao abrigo da convenção europeia sobre extradição, de que a África do Sul é parte desde 2003, e, se assim for, serão concedidos 20 dias às autoridades portuguesas judiciárias portuguesas para a formalização deste processo — que ainda assim pode ser prorrogado. Durante este período e no resto do processo ficará sujeito a uma medida de coação que o juiz de instrução considere adequada e que poderá passar pela prisão preventiva ou qualquer outra privativa da sua liberdade — dado ser importante acautelar novas fugas.

Será já nessa segunda fase, com a formalização do pedido de extradição — que pode ter de ser aceite administrativamente num primeiro momento, como acontece em Portugal — que o processo é iniciado nos tribunais sul-africanos e Rendeiro será notificado para se opor à entrega às autoridades nacionais para cumprimento da pena, ou seja, para apresentar defesa, explica ao Observador o advogado Paulo Saragoça da Matta, adiantando que pode não se opor.

Rendeiro está em fuga. Mas levá-lo à Justiça é mesmo uma missão impossível?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Foi, aliás, isso que confirmou esta manhã Vishnu Naidoo, porta-voz da polícia daquele país em declarações à Lusa: “Ele não será extraditado automaticamente, o tribunal deve decidir se é extraditável ou não”.

Rendeiro poderá opor-se à extradição

Mas pode Rendeiro opor-se à sua entrega às autoridades de Lisboa durante o processo de extradição que agora vai ter início? Sim, mas será muito difícil que consiga apresentar argumentos às autoridades sul-africanas que apontem para que o seu processo português não foi justo à luz da lei daquele país africano. Sobretudo, porque num dos processos está em causa uma condenação já transitada em julgado.

Como o exemplo, o advogado explica: “Poderia ser aceite uma oposição se se dissesse ‘não posso ser extraditado para o meu país, porque me vão aplicar uma pena de morte e a Constituição da África do Sul não permite pena de morte'”. Ou seja, só no caso de não se concluir por uma justiça justa em Lisboa é que a Justiça sul-africana poderia aceitar uma possível oposição.

Mas a oposição fica ainda mais dificultada a partir do momento em que existe uma convenção europeia de que faz parte a África do Sul e em que essas questões gerais já foram estudadas. Dado tratar-se de Portugal e África do Sul, sublinha Saragoça da Matta, “tinha de ser uma coisa casuística e não geral”, porque as convenções quando se assinam já têm isso em conta: “Não é o típico caso de ‘não vamos extraditar para os EUA, porque lá há pena de morte’, tinha de ser do género ‘este processo é tudo nulo, porque…'”.

A partir desse momento, cabe à Justiça sul-africana seguir os passos, havendo instâncias de recurso, até à decisão final. Mas segundo Paulo Saragoça da Matta, o processo, mesmo com todos os possíveis constrangimentos, “deverá estar concluído entre seis e oito meses”.

Ainda se chegou a noticiar que Rendeiro poderia ter obtido uma segunda nacionalidade, mas esse dado, que poderia ser mais uma dificuldade para a extradição, não se verifica. O ex-banqueiro havia conseguido já era um visto de residência, alegadamente concedido a troco de algum investimento no país.

Rendeiro acusa advogado de o aconselhar a fugir. Isso é crime? E a hipotética dupla nacionalidade pode livrá-lo da extradição?

Ainda assim, se numa situação limite — e que não se consegue para já vislumbrar — a extradição de Rendeiro não fosse concedida, Portugal teria ainda mais mecanismos em mãos, como a transferência do processo para Durban, com vista ao cumprimento da pena lá.

Como seria se a extradição fosse pedida a Portugal pela África do Sul?

Em Portugal, depois de a extradição ser validada pelo Ministério da Justiça (fase administrativa), a pessoa procurada — que poderia estar já com uma medida de coação — seria levada a um “tribunal da Relação, que se certifica se a pessoa consente a extradição voluntária ou renuncia e pergunta-lhe ainda se é efetivamente a pessoa que se procura”, explicou em outubro Joaquim Pereira, diretor da Unidade de Cooperação Internacional da Polícia Judiciária ao Observador. O juiz não se foca em saber se a pessoa é culpada ou não, mas sim “se o outro Estado dá garantias de um julgamento justo”: “Se o processo formal for concluído e a decisão passar pela extradição é emitido um mandado de desligamento à ordem do gabinete nacional da Interpol.”

Depois disso, existe um prazo de 20 de dias no caso do mandado internacional para acordar a entrega com as autoridades policiais do outro Estado. E deverá algo semelhante que acontecerá no caso Rendeiro.

No dia da entrega de um detido, a polícia do país leva-o da prisão até ao interior do avião, onde estão as autoridades do outro estado. Na descolagem e aterragem o extraditando não pode estar algemado

Joaquim Pereira explicava em abstrato na altura, como hoje é cada vez mais difícil não ser localizado num mundo global e em que as autoridades dispõem de mais mecanismos de cooperação. “Nos últimos dias vi uma frase do Presidente angolano que diz o que lhe disse ainda há pouco: ‘Não é possível esconder-se de todos e durante todo o tempo, a menos que a pessoa acabe por se meter numa prisão também’.” Para o diretor da unidade da PJ responsável pela cooperação internacional, não há dúvidas quanto às dificuldades que alguém terá para encontrar um esconderijo para sempre.

Extradições atingiram já o total de 2020. “É cada vez mais difícil fugir sem ser apanhado”

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.