Nos últimos quatro anos, a Força Aérea formalizou ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) 17 pedidos para caçar nas instalações militares do campo de tiro de Alcochete, que estão agora a ser investigadas pela Polícia Judiciária Militar. Destes pedidos, nove foram para montarias e oito para esperas de forma a controlar a excessiva densidade de javalis naquela zona. Estas não foram as únicas instalações militares onde se registaram caçadas, também é frequente haver caçadas na Tapada de Mafra.

A Polícia Judiciária Militar está a investigar várias caçadas ocorridas em Alcochete por suspeita de terem sido convidados empresários por altas patentes militares que ali se deslocam. Segundo a resposta do ICNF ao Observador, nos últimos quatro anos foram feitos nove pedidos de montarias: na época 2018/2019 foram autorizadas cinco ações, uma em novembro, outra em dezembro, duas em janeiro e uma fevereiro; já na época de 2019/2020 foram autorizadas quatro montarias, nos meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro. As montarias envolvem vários caçadores, organizados por várias portas de acesso à zona de caça.

O país confinou depois por causa da pandemia de Covid-19 e foi, já e 2021, o próprio ICNF que publicou um edital com o apelo para uma correção extraordinária de javalis com vista à prevenção da peste suína africana (PSA), assim como para a  minimização de danos causados em culturas agrícolas e florestais — que tinha agravado, porque não havendo caça, por imposição das medidas anti-Covid, importava “promover mais ações de âmbito nacional que conduzam a um maior controlo daquelas populações”.

Assim, a Força Aérea pediu em julho de 2021 quatro credenciais para esperas e em novembro outras quatro. Foi depois desta última espera, com data de 10 de novembro, que veio a público a investigação que corria nas mãos da Polícia Judiciária Militar. A investigação acabou por ser confirmada pelo porta-voz desta polícia, Marco Ermidas, que afirmou estar em causa um “caso de caça ilegal no campo de tiro de Alcochete”, nos quais os suspeitos envolvidos são “militares e não militares”. Um processo aberto há cerca de seis meses e ainda em segredo de justiça.

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A CNN avançou na altura que “denúncias internas”  foram o gatilho para a investigação, apontando suspeitas de “favorecimento” com “suspeitas de contrapartidas financeiras para os responsáveis militares, uma vez que os convidados em causa gerem empresas que têm contratos públicos celebrados com as Forças Armadas”.

O Observador perguntou à Força Aérea se nestas montarias e esperas autorizadas participaram civis e quais os critérios de escolha para os caçadores. Mas a Força Aérea reencaminhou a resposta para o comunicado emitido na altura em que refere que os militares se limitaram a controlar de algumas espécies cinegéticas que têm “provocado desequilíbrios  ecológicos” que levam à “redução ou eliminação” de outras. Assim, diz a Força Aérea, têm feito o controlo das espécies naquele local, exclusivamente de javalis. E sempre depois de  autorizado pelo ICNF.

Ao Observador o ICNF refere que “todos os pedidos de correção de densidades solicitados a este instituto identificam quais as espécies cuja densidade excessiva irá ser objeto de correção”. No entanto, o controlo por parte do ICNF é só feito quando “se justifique”. “Sempre que se justifique é efetuado um controlo prévio no terreno, por técnicos qualificados, sendo recolhidos indícios da presença das espécies alvo de correção de densidades, como por  exemplo comprovação de estragos, existência de pegadas, passagens”, responde o ICNF por escrito.

De acordo com os dados do ICNF houve também pedidos semelhantes da Tapada Militar de Mafra, também instalação militar.

O Observador apurou que o processo continua em segredo de justiça, mas que já terá arguidos.