Uma semana depois do apuramento para os oitavos de final da Liga dos Campeões, na ressaca de uma goleada importante em Famalicão, antes de uma receção sempre complicada ao Marítimo e a cerca de sete dias da ida ao Dragão para jogar o futuro na Taça de Portugal: a Taça da Liga, para o Benfica, era o cúmulo de um calendário anti-climático. Mais ainda se tivermos em conta que, esta quarta-feira, os encarnados precisavam de ganhar por mais de dois golos para se manterem em todas as competições.
Contra o Sp. Covilhã, na Luz, o Benfica procurava não deixar que o empate com o V. Guimarães na primeira jornada da fase de grupos da Taça da Liga tivesse proporções desmedidas. Sem Otamendi, que Jorge Jesus nem levou a jogo depois do violento assalto sofrido na própria casa no início da semana, o treinador encarnado não escondia que a opção de poupar alguns dos jogadores mais utilizados poderia obrigar a um “risco total” — o risco total de atuar com quem nunca joga.
Ficha de jogo
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Benfica-Sp. Covilhã, 3-0
Fase de grupos da Taça da Liga
Estádio da Luz, em Lisboa
Árbitro: Gustavo Correia (AF Porto)
Benfica: Helton Leite, Tomás Araújo, Ferro (Yaremchuk, 65′), Morato, Everton, Meïté (Paulo Bernardo, 45′), Taarabt, Gil Dias, Seferovic (Darwin, 45′), Gonçalo Ramos (André Almeida, 81′), Pizzi (Rafa, 45′)
Suplentes não utilizados: Svilar, Gilberto, Lázaro, Gedson
Treinador: João de Deus
Sp. Covilhã: Léo, David Santos, Héliton (André Almeida, 57′), Arnold, Gilberto (Tiago Moreira, 78′), Jean Filipe, Tembeng, Deivid Silva (Ahmed Isaiah, 71′), Sena (Felipe Dini, 57′), Jô (Ryan Teague, 57′)
Suplentes não utilizados: Igor Araújo, Jorge Vilela, Cornélio, Lucas Barros
Treinador: Leonel Pontes
Golos: Seferovic (28′), Darwin (68′, gp, 73′)
Ação disciplinar: cartão amarelo a Meïté (5′), a Tembeng (20′), a Héliton (43′), a Taarabt (84′), a Arnold (85′), a André Almeida (90+1′); cartão vermelho direto a Tembeng (39′)
“O Sp. Covilhã já está eliminado, por isso, já não tem qualquer objetivo. Vamos encontrar uma equipa a defender muito, que não se vai preocupar muito com pontos. Vão estar sempre serenos, para eles é igual. Mesmo a perder, os jogadores vão estar serenos. O jogo de amanhã implica assumirmos uma estrutura tática defensiva de risco. É diferente jogar com uma linha de três ou uma linha de quatro. O Otamendi e o Vertonghen têm jogado sempre e esses dois jogadores deixam-me intranquilo porque não sei se vale a pena arriscar a utilização. Sobra-nos o Ferro, o Morato e o menino, o Tomás [Araújo]. Se tivermos de ir para o risco total, vamos. Os jogadores do Benfica sentem-se bem assim”, disse o treinador encarnado na antevisão.
Ora, a pouco mais de uma hora do apito inicial, o risco total ficou confirmado: o Benfica ia a jogo com três centrais e com Tomás Araújo, que fazia a estreia absoluta na equipa principal, Ferro, que não era titular há quase um ano, e Morato, que apesar de ser o mais utilizado do trio continua a ter apenas 20 anos. Meïté e Taarabt apareciam no meio-campo, Gil Dias e Everton ficavam nos corredores e Seferovic era apoiado por Pizzi e Gonçalo Ramos. No banco, estavam Gilberto, André Almeida, Rafa, Darwin e Yaremchuk mas não estava Jorge Jesus, que foi suspenso pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol e viu o recurso do Benfica para o TAD não chegar a tempo da partida.
Aos 19 anos, Tomás Araújo estreia-se pela equipa principal do ????Benfica
⚠Esta época, Tomás Araújo já realizou 18 jogos:
11 II Liga
6 UEFA Youth League
1 Nacional Sub 23 pic.twitter.com/KEJGiaDoKf— Playmaker (@playmaker_PT) December 15, 2021
A primeira parte acabou por decorrer de forma algo surpreendente. Nos primeiros 20 minutos, o Benfica teve muitas dificuldades para criar oportunidades de golo, para chegar ao último terço adversário e para se impor na partida, sendo sempre travado e anulado pela movimentação defensiva do Sp. Covilhã. Empurrada pela noção clara de que estava a causar dificuldades aos encarnados, a equipa de Leonel Pontes foi subindo no relvado e alongando os setores tendo a capacidade para criar as primeiras verdadeiras ocasiões de golo do encontro. Gilberto Silva atirou em força para uma defesa atenta de Helton Leite (19′) e Jô, logo no lance consequente, cabeceou à trave depois da cobrança do canto (19′).
Ainda assim, acabou por prevalecer a qualidade individual. Na primeira vez em que se aproximou com perigo da baliza de Léo, o Benfica abriu o marcador graças a um lance totalmente estudado: Taarabt cobrou um livre na esquerda, Pizzi desmarcou Gonçalo Ramos com um passe vertical e o avançado atraiu o guarda-redes para assistir Seferovic, que encostou para dentro da baliza (28′). Apesar de não estar a demonstrar grande critério na hora das decisões, de não estar a conseguir desenhar jogadas de envolvimento e de não estar a esforçar-se o suficiente para chegar à final four da Taça da Liga, a equipa de Jorge Jesus conseguiu chegar o golo. O problema, nesta fase, é que ainda faltavam mais dois.
4.º ⚽golo de Seferovic esta época, o 73.º pelo Benfica
⚠Há 3 anos que Seferovic não marcava na Taça da Liga: em dezembro de 2018, marcou ao CD Aves pic.twitter.com/bHi5TBIfn6
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Gil Dias ficou perto de aumentar a vantagem com um remate que desviou num adversário (31′), Gonçalo Ramos falhou o golo na cara de Léo (38′) e Pizzi ainda teve tempo para atirar por cima já no interior da grande área (44′). Pelo meio, o Sp. Covilhã ficou reduzido a dez elementos depois de uma falta dura (e incompreensível) de Tembeng sobre Everton e viu a já difícil tarefa de travar o Benfica tornar-se praticamente hercúlea. Ainda assim, até ao intervalo, os encarnados não conseguiram marcar mais golos e não conseguiram materializar o ascendente e a superioridade — e muito por culpa do acerto defensivo do Sp. Covilhã, que tinha o seu principal expoente na exibição positiva de Héliton.
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[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Benfica-Sp. Covilhã:]
No início da segunda parte, o Benfica assumiu que estava numa autêntica corrida contra o tempo e fez três alterações, tirando Meïté, Pizzi e Seferovic para lançar Paulo Bernardo, Rafa e Darwin. Os encarnados assentaram completamente no meio-campo adversário, empurraram o Sp. Covilhã para trás e iniciaram aquilo que seria um segundo tempo de total controlo e asfixia, sem que a equipa de Leonel Pontes conseguisse sequer sair em contra-ataque e transição rápida. Ainda assim, continuavam a verificar-se os problemas da primeira parte: o Benfica tinha pouco critério, jogadores como Gil Dias, Morato e Everton falhavam passes de forma consecutiva e as oportunidades não apareciam, contando-se apenas um remate sem ângulo de Darwin neste período (52′).
Ainda a perder pela margem mínima, Leonel Pontes também fez três substituições e refrescou a equipa — que estava sempre sem bola e com menos um elemento — com André, Felipe Dini e Ryan Teague. O Benfica continuou a insistir com Yaremchuk, que entrou para o lugar de Ferro e corrigiu a linha defensiva de três para quatro elementos, mas acabou por ser o nome que é cada vez mais o do costume a resolver a situação: Darwin. O avançado uruguaio aumentou a vantagem ao converter uma grande penalidade cometida por Gilberto sobre Rafa (68′) e bisou instantes depois, com um remate de longe que deixou o guarda-redes Léo francamente mal na fotografia (73′). Com dois golos em cinco minutos por parte do avançado uruguaio, os encarnados colocavam-se virtualmente na final four da Taça da Liga e tinham apenas de gerir até ao apito final.
Darwin Nunez chega aos 16 ⚽golos na época e iguala o seu melhor registo da carreira (2019/20, ao serviço do Almeria) pic.twitter.com/AWleGMtCS0
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E foi isso que fizeram. André Almeida ainda entrou mas a equipa perdeu propositadamente toda a objetividade, aguardando apenas até ao final do jogo. O Benfica venceu o Sp. Covilhã por mais de dois golos e juntou-se ao Sporting na final four da Taça da Liga, mantendo-se em competição em todas as provas em que está inserido. Jorge Jesus foi em frente com o risco total — até porque tem jogadores como Darwin, que vai mostrando cada vez mais que é capaz de riscar qualquer risco.
O Benfica está na Final Four da Taça da Liga pela 2.ª época: os encarnados são a equipa com + títulos na competição (7) e procuram erguer o troféu 6 anos depois pic.twitter.com/a3WfmPgizG
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