A decisão tardou, mas chegou. Depois de vários adiamentos, tanto a pedido da defesa, como por problemas técnicos, o juiz do Tribunal de Verulam, na África do Sul, decidiu manter João Rendeiro preso pelo menos até dia 10 de janeiro, altura em que começa o processo de extradição do caso. “A África do Sul não pode dar-se ao luxo de ser um lugar seguro para fugitivos”, disse o juiz, que lembrou que se o antigo banqueiro fosse libertado sob a caução de 2200 euros que pedia, que o mais provável era fugir. No final da audiência, Rendeiro olhou para o chão e remeteu-se ao silêncio. À saída, ao contrário do que fez nos últimos dias, não respondeu aos jornalistas.

O juiz começou por ler um resumo do processo. O antigo banqueiro é procurado para cumprir uma pena de cadeia de cinco anos e oito meses por falsidade informática e falsificação de documentos. Num segundo processo, condenado a uma pena de dez anos por fraude fiscal, é também procurado — mas para ficar em prisão preventiva, depois de ter comunicado que não pretendia regressar a Portugal. Já em fuga, o banqueiro foi condenado num terceiro processo por burla qualificada a três anos e seis meses. Estes dois últimos processos estão ainda em recurso.

O ex-banqueiro João Rendeiro na sala de tribunal em Verulam, Durban, África do Sul onde foi presente ao juiz. 17 de dezembro de 2021. João Rendeiro foi preso no sábado, num hotel em Durban, na província sul-africana do KwaZulu-Natal, numa operação que resultou da cooperação entre as polícias portuguesa, angolana e sul-africana. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

João Rendeiro fotografado pelo Observador no Tribunal de Verulam. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O juiz Rajesh Parshotam lembrou que o arguido foi alvo de dois mandados de detenção e resumiu os processos de que é alvo em Portugal. Sublinhou que se terá apropriado de 31 milhões de euros entre 2003 e 2008 e fez um resumo da situação processual do arguido.

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O magistrado enumerou as provas que foram entregues ao tribunal para que ele concedesse a liberdade a João Rendeiro. O juiz falou também das provas que o Ministério Público tem e disse não concordar com os argumentos da defesa de que os mandados de detenção contra o antigo banqueiro seriam inválidos.

Em relação aos alegados três passaportes que o Ministério Público diz que Rendeiro tem, e que ele nega, o tribunal lembra que “milhares de pessoas atravessam as nossas fronteiras sem documentação legal” e que o “tribunal tem de considerar todos os fatores para decidir se arguido pode fugir”. O magistrado lembrou também que Rendeiro saiu de Portugal mal percebeu que um dos seus processos ia transitar em julgado e que depois manifestou mesmo junto do tribunal que não pretenderia regressar a Portugal. Reiterou-o depois numa entrevista que deu à CNN.

Rendeiro quer pagar caução de 2.190 euros para ficar em liberdade

“O réu não tem respeito pelo processo em Portugal, porque o teria em África do Sul?”, interrogou mesmo o juiz, sublinhando que o réu não é sequer claro e relação aos bens que tem. “O tribunal entende que ele vai muito provavelmente fugir se for libertado”, acrescentou o juiz, que à medida que ia avançando na fundamentação da decisão tornava os seus argumentos contra a defesa cada vez mais agressivos. “A África do Sul não pode dar-se ao luxo de ser um lugar seguro para fugitivos. Não queremos fazer deste país um santuário para fugitivos internacionais”, disse o magistrado, tendo em conta também a cobertura mediática do caso.

O magistrado rejeitou que as cadeias sul africanas não tenham condições e que os reclusos não tenham toda a assistência necessária. Considerou também que João Rendeiro nem sequer tem uma ligação emocional à África do Sul e que mesmo tendo uma mulher, ela está em Portugal.

Desde segunda-feira que se espera uma decisão do caso, mas primeiro a defesa começou por pedir adiamentos para estudar o processo, e depois o tribunal foi sendo confrontado com vários problemas técnicos — incluindo um falha de energia no tribunal — foram empurrando a audiência que só se realizou ao final da manhã de quarta-feira, no Tribunal de Família de Verulam, a 100 metros daquele onde era suposto ser ouvido e onde regressou esta sexta-feira, em Durban. Quinta-feira foi feriado, por isso a decisão acabou por ser tomada hoje, depois de mais um adiamento da audição e outro corte de energia.

O Ministério Público pediu ao juiz Rajesh Parshotam que mantivesse João Rendeiro preso preventivamente até decorrer o processo extradição que o poderá entregar a Portugal para cumprir uma pena de cadeia de cinco anos e oito meses. O procurador lembrou que Rendeiro tinha na sua posse três passaportes, vários cartões de crédito, telemóveis e iPad. A defesa do arguido, no entanto, pediu que o tribunal libertasse o antigo presidente do BPP, sob pagamento de uma caução de cerca de 2.200 euros  e a obrigação de apresentar-se periodicamente às autoridades.

Rendeiro foi detido de pijama e foi para a prisão de camisa cor-de-rosa