O primeiro-ministro está esta segunda-feira a visitar a missão militar portuguesa na República Centro Africana (RCA), uma das mais difíceis no plano da segurança e em que 11 elementos nacionais foram já constituídos arguidos por suspeita de crimes.

António Costa chegou a Bangui ao fim da manhã, onde permanecerá cerca de três horas, vindo de São Tomé e Príncipe, e está acompanhado pelo ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, e pelo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, almirante António Silva Ribeiro.

De acordo com dados disponibilizados pelo Estado-Maior-General das Forças Armadas, atualmente estão empenhados na RCA 191 militares portugueses no âmbito da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA) e 45 meios. Também na RCA, mas no âmbito da missão de treino da União Europeia (EUTM-RCA), estão no terreno 26 militares.

O primeiro ponto do programa do líder do executivo será assistir a um briefing sobre a operação por parte do segundo comandante da MINUSCA, tirando depois uma fotografia de grupo com os militares portugueses.

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Ainda antes do almoço de Natal com os militares, António Costa grava uma mensagem de Natal dedicada a todas as Forças Nacionais Destacadas espalhadas pelo mundo. No final do almoço, está prevista uma entrega de presentes.

Antes de regressar a Lisboa, o primeiro-ministro terá uma breve reunião com o seu homólogo da RCA, bem como outros representantes políticos e militares deste país, num encontro em que também estarão presentes responsáveis pelas missões das Nações Unidas e da União Europeia.

No plano político, a 25 de novembro, o Governo propôs ao Presidente da República a prorrogação até 29 de abril de 2022 da nomeação do major-general Paulo Maia Pereira no cargo de segundo comandante da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA).

Maia Pereira, do Exército português, foi nomeado pela primeira vez para o cargo em janeiro do ano passado e tomou posse em fevereiro. Ao longo da sua carreira, o major-general desempenhou funções como chefe da Divisão de Planeamento Estratégico Militar (DIPLAEM) do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), e no Quartel-General do Comando Supremo das Forças Aliadas na Europa.

Em termos públicos, a missão na RCA ficou marcada pela ação da Polícia Judiciária (PJ), quando, a 8 de novembro, executou 100 mandados de busca e fez 11 detenções, incluindo militares, um advogado, um agente da PSP e um guarda da GNR, na sequência de suspeitas de tráfico de diamantes, ouro e droga.

Dois dias depois, o juiz de instrução Carlos Alexandre decidiu aplicar a medida de coação mais gravosa — prisão preventiva — a dois dos 11 arguidos detidos.

Ficou então a saber-se que desde dezembro de 2019 o ministro da Defesa conhecia que um grupo de militares portugueses estava envolvido em suspeitas de participação numa rede criminosa. João Gomes Cravinho informou então a chefia da missão das Nações Unidas, mas não o Presidente da República, que transmitiu ele próprio publicamente esse facto.

Na reação à operação da PJ, Marcelo Rebelo de Sousa disse que não é “um ou 10 casos” que possam vir a acontecer que vão abalar a reputação dos militares naquela que é a décima missão na RCA.

Por sua vez, o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas expressou “profunda tristeza” por haver militares e ex-militares suspeitos na Operação Miríade, que investiga tráfico de diamantes, ouro e droga, mas definiu este caso como um “fenómeno restrito”.

A missão na RCA é também uma das que levanta maiores dúvidas em termos de política externa da União Europeia.

Ainda este mês, a presença do grupo russo de segurança privada Wagner RCA e o seu aparente controlo sobre este país motivou protestos formais por parte da União Europeia, que já admitiu acabar com a sua missão de formação das forças armadas centro-africanas.

A RCA entrou numa conjuntura de violência em 2013, após o derrube do então Presidente François Bozizé por grupos armados juntos na Séléka, o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas na anti-Balaka.

Desde então, o território centro-africano tem sido palco de confrontos entre estes grupos, que obrigaram quase um quarto dos 4,7 milhões de habitantes do país a abandonarem as suas casas.