O investigador Carlos Antunes defendeu esta terça-feira ser necessário “atuar no curto prazo” com medidas de saúde pública e que, nesta fase da pandemia, devia ser prioritário o reforço da vacinação nos maiores de 40 em vez das crianças.
“Nesta situação emergente que estamos agora, do meu ponto de vista, não é prioritária a vacinação das crianças, é prioritário certamente o reforço das camadas etárias dos 40 e 50 anos porque são esses que contribuem muito para os internamentos em enfermaria e também em cuidados intensivos”, disse à agência Lusa o matemático.
Contudo, observou, a vacinação dá uma proteção mais de longo prazo, essencialmente para os casos mais graves da doença, e o aumento de casos de Covid-19 é “uma situação mais urgente”.
“O que precisamos agora é atuar no curto prazo com medidas de saúde pública, nomeadamente o reforço de rastreadores e o reforço da testagem, e as medidas não farmacológicas que é a proteção individual, o distanciamento físico, a redução da lotação dos espaços fechados” e o arejamento destes espaços.
Para Carlos Antunes, são estas medidas que poderão compensar, juntamente com o reforço da testagem, a possibilidade de atenuar uma progressão mais rápida desta variante.
Sobre a transmissibilidade da variante Ómicron, afirmou que, do ponto de vista da monitorização epidemiológica do Reino Unido, é que está a aumentar essencialmente fora do seio familiar, onde o aumento “é ligeiro”.
“É no exterior e nos convívios fora do seio familiar que o aumento é muito mais significativo” o que é compatível com esta época do ano e com as faixas etárias dos 20 aos 39 anos e dos 10 aos 19.
“O fim das aulas, os jantares os encontros de amigos são aquilo que se sabe que ocorre nesta altura”, o que disse justificar que a Ómicron encontre nesses grupos maior possibilidade de se multiplicar e depois se venha a alastrar com o período das férias de Natal às restantes faixas etárias.
Sobre o impacto da terceira dose da vacina, afirmou que, segundo o que os números indicam, o fundamental foi haver “uma redução mais significativa nos internamentos em cuidados intensivos“.
Se não fosse o reforço vacinal, disse, “já estaríamos muito próximo das 255 camas de cuidados intensivos”, o valor crítico para o Serviço Nacional de Saúde, porque “a Ómicron vai ter a capacidade de invadir mesmo com a terceira dose”, havendo já “muitos casos”.
“Nós temos mais casos diários do que tínhamos em julho e temos menos camas em cuidados intensivos, ao passo que nas enfermarias temos mais camas ocupadas do que tínhamos em julho. Portanto, a situação do quadro grave foi de certo modo atenuada pelo reforço vacinal. Nos óbitos também se nota isso”, salientou.
Mas a faixa etária dos maiores de 80 anos “é mais vulnerável”, é inverno e, disse, “os óbitos vão aumentar nessa faixa”.
Carlos Antunes destacou a importância da testagem na atenuação do número de casos: “Estamos a testar como nunca testámos e isso permitiu de forma antecipada isolar os casos” e evitar que se traduzissem em mais casos.
É uma medida que já muito cedo reclamávamos e que era fundamental, porque é mais preventiva e permite-nos regressar à normalidade sem medidas mais restritivas”, disse, advertindo, contudo, que há um limite de capacidade de testagem como se está a observar.
Segundo dados do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, a variante Ómicron, detetada na África Austral, tem crescido exponencialmente na proporção de casos prováveis nas últimas duas semanas em Portugal, estimando-se que tenham atingido uma proporção de 46,9% na segunda-feira.