Desde que saiu do Seixal para o estrangeiro, com passagens por Valencia, Inter, Juventus e Manchester City, João Cancelo nunca tinha feito mais do que cinco assistências numa temporada. Agora, em dezembro, leva sete. E também nunca tinha marcado mais do que três golos numa época, registo que já igualou depois de outro remate certeiro sensacional diante do Newcastle no último encontro antes do Natal. A vida corre bem aos portugueses do plantel de Pep Guardiola e João Cancelo é exemplo paradigmático disso mesmo.

Um trouxe estabilidade, o outro trouxe um golo, o último trouxe quase tudo: Bernardo, Rúben e João são os três Reis Magos do City

No seguimento do jogo 100 pelos citizens, “celebrado” com um golo e uma assistência, o lateral tornou-se notícia pela tentativa de blindagem por parte do campeão inglês para prolongar o vínculo com o português, com um aumento para 292 mil euros semanais segundo o Daily Star, e, em paralelo, pela sondagem que o Barcelona terá feito para contratar o internacional no seguimento das conversas que envolveram o negócio de Ferran Torres (que deve ser anunciado oficialmente esta segunda-feira, por 55 milhões de euros mais dez em variáveis). Da parte de Guardiola sobravam elogios para os feitos do jogador de 27 anos.

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“Um bom resultado mas não foi uma boa performance. Tivemos sorte porque o Newcastle não defendeu bem no primeiro golo e depois tivemos uma ação brilhante do João Cancelo no segundo golo. A primeira parte foi uma das piores que fizemos esta época, a segunda já foi melhor. Jogámos melhor com a bola, tocámos mais a bola, mas na primeira perdemos imensas vezes a posse. No intervalo acalmámos e falámos sobre o que devíamos ser feito. Foi um golo fantástico. Sabemos a qualidade que tem no último terço. Atacou muito bem a zona inferior, fintou e marcou. Foi importante”, disse o técnico antes do Natal.

Agora, com três pontos de avanço sobre o Liverpool e seis do Chelsea, o Manchester City entrava no Boxing Day sabendo que os reds tinham visto o seu jogo adiado pelos casos de Covid-19 no Leeds e que podiam chegar a um recorde de 35 vitórias no último encontro do ano em casa, numa fase em que levavam oito encontros consecutivos na Premier League a ganhar com 24 golos marcados e cinco jogos sem sofrer golos. E foi João Cancelo o escolhido para abordar a partida desta tarde nas plataformas do clube.

“Somos uma equipa muito forte e que atravessa nesta fase um bom momento. É importante que todos nós estejamos ao melhor nível para alcançarmos os nossos objetivos no final da época, que passam por ganhar o maior máximo possível de troféus. O City, o Liverpool e o Chelsea já mostraram condições para chegarem ao título e são os principais candidatos”, referiu, antes de comentar declarações de Fernando Santos, que o considerou o melhor lateral da atualidade. “É um motivo de orgulho. Trabalhei sempre ao máximo para ser o melhor possível, nos treinos e nos jogos, e sou profissional 24/7. Números? As pessoas olham muitas vezes para isso, dos golos e das assistências, mas não ligo. Acho que a minha época no ano passado já tinha sido muito boa. Há números que não refletem o que se passa. O Bernardo [Silva] é um jogador excecional, esta temporada com números excecionais, mas até no ano passado quando as estatísticas não eram tão boas ele deixava de ser um dos melhores jogadores do mundo, completou.

Durante 45 minutos, foi isso que se viu mais uma vez. Mesmo sem tocar na bola, Rúben Dias foi o líder que a equipa precisou em termos defensivos para controlar toda a linha recuada. Mesmo sem tocar na bola (assim tantas vezes, pelo menos), João Cancelo conseguia fazer a diferença pela forma como jogava em terrenos mais interiores ou abria no flanco direito. Mesmo sem tocar na bola, Bernardo Silva abria espaços que eram depois aproveitados pelos elementos mais adiantados para fazerem a diferença no último terço. No entanto, e apesar do 4-0 no descanso, o Leicester vendeu cara a derrota e tudo acabou em 6-3.

A resistência dos foxes durou menos de cinco minutos, com uma entrada asfixiante do City em campo a dar oportunidade a Kevin de Bruyne de inaugurar o marcador após passe de Fernandinho numa jogada coletiva de envolvimento que empurrou toda a equipa do Leicester para perto da sua área (e mesmo assim sem a capacidade para travar a enxurrada). No entanto, esse seria apenas um aperitivo para a festa de golos na primeira parte, que prosseguiu com uma grande penalidade convertida por Riyad Mahrez (14′).

[Clique nas imagens para ver os golos do Manchester City-Leicester em vídeo]

Sem capacidade de saída, a perder várias vezes a bola no seu meio-campo e sem posse nem jogo que ainda fosse permitindo que os avançados segurassem na frente para a equipa “respirar”, o Leicester teve uma única boa oportunidade num livre direto de Maddison que Ederson desviou para a trave (18′) mas a partir daí voltou o rolo compressor da equipa da casa, que chegou ao intervalo já a ganhar por 4-0 com golos de Gündogan (após defesa incompleta de Kasper Schmeichel num cruzamento de João Cancelo, 21′) e de Raheem Sterling (numa grande penalidade sofrida pelo próprio de novo cometida por Tielemans, 25′).

Em condições normais, o encontro estava resolvido. Em condições normais, Guardiola podia até aproveitar para ir descansando alguns jogadores neste período mais denso do calendário. No entanto, o espanhol sabia que, em condições normais, o Leicester iria sempre trabalhar para corrigir a imagem que deixara no primeiro tempo. Estava certo. Tão certo que, a meio da segunda parte, já vencia apenas por 4-3: Maddison reduziu numa saída rápida onde Laporte escorregou e motivou uma série de desequilíbrios (55′), Lookman concluiu mais uma transição (59′), Iheanacho colocou o jogo pela margem mínima num lance caricato em que a bola bateu primeiro na trave e sobrou depois para o avançado dos foxes (65′).

O encontro ficava de novo em aberto mas um golo de Laporte na sequência de um canto de Mahrez acabou por fechar em definitivo as contas da partida (69′), antes de Sterling bisar e fazer o 6-3 final a três minutos dos 90′. No entanto, fica como aviso para o Manchester City e para todos os restantes candidatos ao título que ninguém pode facilitar nesta Premier League – mesmo que seja a equipa que melhor joga…