O primeiro-ministro e secretário-geral do PS, António Costa, espera obter para os socialistas uma maioria absoluta nas próximas eleições legislativas, agendadas para o dia 30 de janeiro. Recusa também um bloco central, garantindo que um acordo com o Rui Rio, presidente do PSD, é “um cenário que nunca se colocará”. Sobre o futuro, diz que é provável que Pedro Nuno Santos, atual ministro das Infraestruturas, se torne primeiro-ministro.
Ainda sobre os próximos anos, o atual primeiro-ministro assegura que não se vai candidatar a Belém. Presidente da República? “Tenho a certeza que é um cargo que nunca exercerei”, assegura, não descartando, por outro lado, aceitar um convite a um cargo europeu.
Numa entrevista à CNN Portugal, transmitida na noite desta segunda-feira, o primeiro-ministro foi pressionado a traçar um objetivo eleitoral concreto para o partido, algo que tem procurado contornar nas últimas semanas.
“O que eu acho que é fundamental para o futuro do país, já que me pergunta, é que haja uma estabilidade para um governo para quatro anos”, começou por dizer Costa, sem especificar o que significa essa estabilidade.
Questionado sobre se isso significa uma maioria absoluta, António Costa não se comprometeu com o conceito e referiu apenas que queria uma “maioria” (o que, em rigor, deve ser interpretado como ser o partido que reúne o maior número de votos). Uma maioria absoluta, em contraste, é mais do que isso: é uma votação que confere ao partido pelo menos 116 deputados, de acordo com o método de Hondt.
“É preciso que o PS tenha uma maioria que lhe permita governar quatro anos”, insistiu. Questionado sobre se a expressão “maioria absoluta” queima ao ponto de a evitar pronunciar, Costa respondeu: “Não é uma questão de queimar, a maioria é maioria. O que é que é maioria? É metade mais um. É isso.”
Nas últimas eleições legislativas, realizadas em 2019, o PS obteve uma maioria (36,34% dos votos, que lhe permitiram eleger 108 deputados, formando o maior grupo parlamentar da Assembleia da República), mas não uma maioria absoluta (os restantes partidos, juntos, tinham mais peso do que o PS).
Após seis anos a governar com o apoio parlamentar do Bloco de Esquerda, PCP e Verdes, o PS quer agora reunir força eleitoral suficiente para governar sozinho na próxima legislatura — precisando para isso da maioria absoluta que António Costa traça, agora, claramente como objetivo.
Já na última quinta-feira o primeiro-ministro havia sublinhado que o objetivo do PS nestas eleições era “mesmo” ganhar com maioria. “As eleições nunca estão antecipadamente ganhas e desta vez precisamos mesmo de ganhar com maioria”, disse Costa num vídeo publicado no Facebook.
Governo provisório de dois anos com Rio? “É uma proposta de quem não tem experiência da ação governativa”
Questionado sobre se no pós-eleições vai encetar conversações com Rui Rio de maneira a garantir uma solução governativa, Costa recusou esse cenário, dizendo que a proposta do líder dos sociais-democratas de “uma espécie de acordo para um governo provisório de dois anos” vem de alguém que “não tem experiência de ação governativa”.
“O país não precisa de governos provisórios de dois anos, o país precisa mesmo é de estabilidade durante quatro anos. Precisa de uma solução para quatro anos”, sublinhou o primeiro-ministro, acrescentando que é “absolutamente indesejável” para a democracia portuguesa. “Acho que ninguém deseja isso.”
Se perder eleições, Costa diz que se demite
Na mesma entrevista, o primeiro-ministro assegura que se demite do cargo de secretário-geral do PS caso não vença as eleições legislativas.
“Se uma pessoa é primeiro-ministro durante seis anos, se durante seis anos os portugueses têm oportunidade de acompanhar e avaliar o trabalho e se, ao fim de seis anos, não dão confiança ao primeiro-ministro com uma vitória eleitoral, isso é manifestamente um voto de desconfiança dos portugueses no primeiro-ministro, e aí eu tenho de tirar as devidas conclusões”, disse Costa. “Demitindo-me, isso é evidente.”
António Costa foi ainda questionado sobre a instabilidade em torno dos membros do Governo na reta final da legislatura, particularmente sobre a manutenção de Eduardo Cabrita no cargo de ministro da Administração Interna.
“Não acho que o país tenha nada a ganhar em particular com mudanças sucessivas. Nem acho que se governa bem inventando bodes expiatórios para os problemas que existem. Um dos problemas que o país tem tido é, em vários ministérios, haver uma instabilidade permanente. Orgulho-me bastante de ter tido um Governo bastante estável”, assegurou Costa.
Quanto a uma eventual remodelação governamental, o primeiro-ministro clarificou que pretendia levá-la a cabo depois da aprovação do Orçamento do Estado. “De facto, tinha pensado que, depois de concluído o processo orçamental, devia haver uma remodelação governamental. Não houve aprovação do Orçamento e, portanto, todo esse calendário se alterou“, disse.
Sobre Eduardo Cabrita, Costa não adiantou mais. “Eduardo Cabrita foi o ministro que mais tempo esteve em funções enquanto ministro da Administração Interna”, disse, rejeitando que houvesse motivos para o retirar do cargo antes. “Se eu achasse isso, teria feito essa remodelação.”
Geringonça. “Não lhe davam um ano de vida. Durou seis anos”
O primeiro-ministro refletiu ainda sobre os últimos seis anos de governação, elogiando os sucessos da “geringonça” e destacando que talvez um dia volte a haver condições para o entendimento com os partidos da esquerda.
“Sempre achei que a geringonça podia fazer bastante mais que eliminar aquilo que eram as malfeitorias da troika e que podia ter um projeto conjunto para o país”, disse Costa. “Não lhe davam sequer um ano de vida. E a verdade é que esta solução durou quatro anos de uma forma sólida e mais dois numa forma algo instável, com formatos variáveis, mas durou seis anos.”
“Se os portugueses desejaram que haja uma persecução de um trabalho, então devem votar no Partido Socialista”, acrescentou o primeiro-ministro. “Porventura, um dia haverá condições para haver entendimentos de novo com o PCP e com o Bloco de Esquerda. Manifestamente, neste momento não há.”
António Costa descreveu a geringonça como uma “das soluções interpartidárias mais estáveis que houve no país até agora”, sendo mais estável do que a Aliança Democrática, mais estáveis do que qualquer uma outra”. “Enfim, com altos e baixos, mas durou seis anos.”
Pedro Nuno Santos como próximo primeiro-ministro? “É provável”
Costa foi desafiado a imaginar se Pedro Nuno Santos poderá ser primeiro-ministro. “Sim, é provável”, reconheceu, acrescentando que o atual ministro das Infraestruturas “tem boa idade”. Mas isto apenas “se for a vontade da generalidade dos socialistas”.
O primeiro-ministro reiterou também que não se preocupará sobre quem será o seu sucessor. “Quando eu deixar de ser secretário-geral, felizmente o PS tem muitas e muitos recursos humanos altamente qualificados e preparados para poderem exercer funções de liderança e para poderem exercer funções de primeiro-ministro”, afirmou.
Além disso, o secretário-geral dos socialistas sinalizou que uma das “preocupações” que tem tido é dar oportunidades “para toda a gente das novas gerações poderem ganhar experiência”. Isso faz com que, no presente e no futuro, o PS possa “ter quadros altamente qualificados que assegurarão a governabilidade”. “Nunca tive a ideia de ser eterno.”
Costa como Presidente da República? “É um cargo que nunca exercerei”
Confrontado sobre a possibilidade de se tornar Presidente da República, António Costa rejeitou essa possibilidade, destacando que cada “um deve ser aquilo onde se sente bem a ser”. “A experiência também nos indica que quem gostou de ser primeiro-ministro nunca deu bom Presidente da República”, explicou, dizendo ainda que “não é bom porque quem gosta de funções executivas depois é muito difícil estar na Presidência”.
Sobre um cargo europeu, Costa mencionou o convite do Conselho Europeu, realçando que na altura “não podia aceitar e não podia deixar o país”. “Não vamos especular”, atirou, afirmando que “raras vezes o comboio para duas vezes na mesma estação”.
Em relação a Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro assegurou que os dois têm mantido “um excelente relacionamento”, mas salientou que o Presidente da República pertence a outra “família política” e que é “legítimo” que queira acabar o mandato com um governo liderado pelo PSD.
“Acho que os portugueses têm apreciado este equilíbrio e a forma como temos sabido exercer conjuntamente essa função”, vincou.
Notícia atualizada às 22h27