A variante Ómicron veio mudar as regras do jogo da pandemia da Covid-19. Com doença aparentemente mais ligeira apesar da elevada transmissibilidade, vários países estão a reduzir o número de dias de isolamento e descartam confinamentos nacionais. Espanha quer dar um passo ainda mais à frente, procedendo a uma transição na maneira como as autoridades de saúde registam e reportam os casos do SARS-CoV-2, passando a tratá-los como os da gripe.

O novo sistema, que ainda não tem uma data específica para ser implementado, vai alterar aquilo que tem sido o modus operandi desde o início da pandemia. Algumas das medidas passam pelo término da contabilização dos casos diários e ainda o fim da realização de teste diante do menor sintoma ou de um contacto de risco, informa o El País.

Designado de “sentinela”, o novo sistema consiste na escolha de um grupo de médicos, que, em colaboração com os hospitais, procedem à criação de uma amostra estatisticamente significativa, que permite calcular a transmissão da Covid-19 na comunidade, bem oferece a possibilidade de detetar se os casos são graves ou leves.

Esta estratégia está a ser planeada desde o verão de 2020, mas só agora está a entrar na fase final, devido às condições ideais proporcionadas não só pela variante Ómicron, como também pela elevada taxa de cobertura vacinal em Espanha. As autoridades sanitárias espanholas vão reunir-se esta semana para detalhar os últimos pormenores, mas não é expectável que seja adotada já.

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“Com a enorme transmissibilidade da Covid, é um desafio muito grande cumprir estritamente os protocolos de vigilância universal, está a fazer-se impossível”, aponta ao El País Amparo Larrauri, responsável do grupo de vigilância da gripe e outros vírus respiratórios, referindo que, perante esta nova realidade, as autoridades de saúde estão a trabalhar “na transição desde a vigilância universal a uma sentinela da infeção respiratória”.

No entanto, Amparo Larrarui destaca que esta mudança não pode ser feita do “dia para a noite”: “Temos compromissos internacionais [da notificações de novos casos] e há que consolidar os novos sistemas”. A responsável sinalizou também que já há cinco comunidades autónomas espanhola a adotar um projeto piloto neste âmbito.

Esta nova estratégia não é, no entanto, consensual. O vice-presidente da Sociedade Espanhola de Epidemiologia e especialista de Saúde Pública na Universidade de Valência, Óscar Zurriaga, rejeitou que este seja o momento para tratar a Covid-19, que “não é como o resto da doenças”, como uma gripe. “É uma pandemia e deveríamos continuar a trabalhar com isso em mente”, sublinhou.

Também a associação de médicos de atenção primária discordam do plano do governo espanhol em “gripalizar” a Covid-19 e questionam se é “normal” que haja “200 mortes diárias” por uma doença.