Os riscos potenciais de interferência do serviço de 5G com equipamentos de aviões não se colocam em Portugal, nem sequer na Europa. O tema tem suscitado alertas nos Estados Unidos da América com as grandes companhias aéreas a admitir cancelamentos em massa esta semana com a utilização da uma banda atribuída por leilão a algumas operadoras de telecomunicações, tendo, inclusivamente, sido adiado o lançamento desta tecnologia devido aos problemas levantados, como avançou a BBC.

Companhias aéreas americanas alertam para o risco de cancelamentos em massa com arranque do 5G

Em resposta ao Observador, fonte oficial da ANAC (Autoridade Nacional da Aviação Civil) confirma que as interferências nos sistemas de altimetria das aeronaves é um problema que não se põe em Portugal. A questão coloca-se apenas nos Estados Unidos e porque a “gama de frequências aí adotada estar muito perto do intervalo das frequências dos radio-altímetros, o que não acontece na Europa”.

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A ANAC indica que as redes 5G nos EUA operam numa faixa de frequências — 3,7 GHz a 3,98 GHz (gigahertz) — que é mais próxima da utilizada pelos radio-altímetros dos aviões (4,2 GHz – 4,4 GHz). Estes instrumentos permitem medir a distância entre o aparelho e o nível do mar e são fundamentais na navegação aeronáutica sobretudo em condições de má visibilidade. Esta proximidade traduz-se, “do ponto de vista teórico, num risco acrescido para que ocorram interferências dado o modo de funcionamento de um sistema de rádio altímetro (emitindo um sinal, e depois analisando o sinal refletido no solo para calcular a distância ao mesmo), podendo as estações 5G mais próximas interferir no sinal refletido, resultando em leituras erradas de altimetria”.

O regulador nacional refere ainda que a EASA (regulador europeu da aviação) já desenvolveu um estudo sobre o tema, tendo concluído que não há interferência das redes europeias 5G nos radio-altímetros, mas publicou um aviso dirigido aos operadores autorizados a voar para os USA, entre os quais a TAP, para chamar à atenção dos eventuais problemas aí existentes e das normas vigentes.

Questionada pelo Observador, a transportadora diz apenas que a TAP está a acompanhar o assunto em conjunto com as autoridades americanas. Mas acrescenta que “não é expectável que haja impacto na nossa operação”.

A ANAC refere ainda que o regulador das comunicações, a ANACOM autorizou em Portugal as bandas de frequências no leilão 5G, sendo a frequência mais alta a da faixa de 3.6GHz (3.4GHz – 3.8GHz) esta ultima frequência está muito longe da mínima de operação da dos radio-altímetros. E apesar de não se conheceram quaisquer interferências  nos sistemas rádio de altimetria instalados a bordo das aeronaves, o regulador da aviação vai continuar a monitorizar o tema.

No Reino Unido, como avançou a BBC, a entidade nacional de aviação (a CAA, na sigla original), também desvalorizou o problema. “Não houve casos confirmados em que a interferência 5G resultou em mau funcionamento do sistema da aeronave ou comportamento inesperado”, disse esta entidade. Não obstante, frisou: “Diferentes estratégias nacionais de telecomunicações móveis podem significar que alguns [países] têm uma exposição a ameaças maior do que outros”. A CAA disse que está a trabalhar “internacionalmente” para perceber eventuais problemas que ainda não foram previstos.

AT&T adiou lançamento devido a problemas levantados pela companhias aéreas

Com a questão no ar, a AT&T, a operadora dos EUA que, além da Verizon, vai lançar a nova banda de frequências no país, anunciou que vai adiar mais uma vez o lançamento perto de pistas de aeroportos. Apesar disso, a empresa afirmou à BBC: “Estamos frustrados com a incapacidade da Administração Federal de Aviação (FAA) de fazer o que quase 40 países fizeram, que é implementar com segurança a tecnologia 5G sem interromper os serviços de aviação, e pedimos que faça isso em tempo útil”.

No domingo, em comunicado, a FAA disse que abriu “cerca de 45% da frota comercial dos EUA para realizar aterragens de baixa visibilidade em muitos dos aeroportos onde a banda C 5G será implementada”. A Verizon ainda não anunciou se vai ou não adiar mais uma vez o lançamento da utilização desta banda de frequência após as críticas das companhias aéreas.