Um cirurgião francês está a enfrentar um processo judicial e uma possível acusação disciplinar depois de tentar vender um raio-X de uma vítima do ataque terrorista ao Bataclan, em Paris, como se se tratasse de um NFT (produto digital não reprodutível). A tentativa de venda não terá tido o consentimento do paciente, noticiou o Mediapart, citado pela Agence France-Presse. Ao mesmo jornal, Emmanuel Masmejean, que até agora trabalha no hospital público de Georges Pompidou no sul de Paris, reconheceu que atitude foi “um erro” e lamentou não ter pedido autorização à vítima.
A moda dos NFT. Que arte digital é esta que vale milhões de euros?
A imagem mostra o antebraço esquerdo com uma bala de Kalashnikov, e estava à venda por aproximadamente 2.776 dólares (cerca de 2.447 euros) no site OpenSea, especializado na venda de NFT (em português, token não fungível). O cirurgião mencionou ainda que operou “pessoalmente” cinco vítimas do sexo feminino aquando dos ataques ao Bataclan, lê-se no anúncio do site.
A surgeon in Paris selling his X-ray radio from her patient who lost her boyfriend in the Bataclan terrorist attack. People are shameless.https://t.co/LVMpFRx2In pic.twitter.com/z78FsVpfOl
— Julien Bouteloup (@bneiluj) January 23, 2022
O médico garantiu ao Mediapart que o raio-X já não está à venda, mas a imagem ainda estaria no OpenSea no domingo. A vítima não é identificada, porém é descrita como uma jovem cujo namorado foi morto no ataque ao Bataclan, que fez parte da onda de terrorismo na capital francesa que matou 130 pessoas e feriu mais de 350 em Paris em novembro de 2015.
O chefe dos hospitais públicos de Paris, Martin Hirsch, confirmou no sábado que uma queixa criminal e profissional seria apresentada contra o cirurgião dada a sua decisão “vergonhosa” e “escandalosa”, escreveu na mensagem enviada aos profissionais de saúde, partilhada no Twitter. “Este ato é contrário à deontologia médica, coloca em risco o sigilo profissional e vai contra os valores da AP-HP (hospitais de Paris) e do serviço público”, acrescentou.
Pour qu’il n’y ait aucune ambiguïté sur notre indignation, je partage exceptionnellement le message que j’ai adressé ce soir à l’ensemble de l’@APHP pic.twitter.com/VLbfICPuhc
— Martin Hirsch (@MartinHirsch) January 22, 2022
A associação de vítimas Life for Paris garantiu ter “ficado ao lado da vítima do ataque que hoje é vítima da estupidez … por um ‘médico’ que evidentemente se esqueceu do código de ética”, em nota. Outra associação, a Fraternité et Vérité condenou o “comportamento de ódio”, no entanto salvaguardou que era “isolado e não representativo dos profissionais de saúde da AP-HP nos quais há total confiança”, no Twitter.