Um cirurgião francês está a enfrentar um processo judicial e uma possível acusação disciplinar depois de tentar vender um raio-X de uma vítima do ataque terrorista ao Bataclan, em Paris, como se se tratasse de um NFT (produto digital não reprodutível). A tentativa de venda não terá tido o consentimento do paciente, noticiou o Mediapart, citado pela Agence France-Presse. Ao mesmo jornal, Emmanuel Masmejean, que até agora trabalha no hospital público de Georges Pompidou no sul de Paris, reconheceu que atitude foi “um erro” e lamentou não ter pedido autorização à vítima.

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A imagem mostra o antebraço esquerdo com uma bala de Kalashnikov, e estava à venda por aproximadamente 2.776 dólares (cerca de 2.447 euros) no site OpenSea, especializado na venda de NFT (em português, token não fungível). O cirurgião mencionou ainda que operou “pessoalmente” cinco vítimas do sexo feminino aquando dos ataques ao Bataclan, lê-se no anúncio do site.

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O médico garantiu ao Mediapart que o raio-X já não está à venda, mas a imagem ainda estaria no OpenSea no domingo. A vítima não é identificada, porém é descrita como uma jovem cujo namorado foi morto no ataque ao Bataclan, que fez parte da onda de terrorismo na capital francesa que matou 130 pessoas e feriu mais de 350 em Paris em novembro de 2015.

O chefe dos hospitais públicos de Paris, Martin Hirsch, confirmou no sábado que uma queixa criminal e profissional seria apresentada contra o cirurgião dada a sua decisão “vergonhosa” e “escandalosa”, escreveu na mensagem enviada aos profissionais de saúde, partilhada no Twitter. “Este ato é contrário à deontologia médica, coloca em risco o sigilo profissional e vai contra os valores da AP-HP (hospitais de Paris) e do serviço público”, acrescentou.

A associação de vítimas Life for Paris garantiu ter “ficado ao lado da vítima do ataque que hoje é vítima da estupidez … por um ‘médico’ que evidentemente se esqueceu do código de ética”, em nota. Outra associação, a Fraternité et Vérité condenou o “comportamento de ódio”, no entanto salvaguardou que era “isolado e não representativo dos profissionais de saúde da AP-HP nos quais há total confiança”, no Twitter.