O Ministério Publico (MP) instaurou um inquérito para apurar as causas da morte de um bebé de oito dias no hospital de Portalegre, por alegada falta de socorro médico após ter sofrido uma paragem cardiorrespiratória.

Também o hospital de Portalegre tinha anunciado esta sexta-feira a abertura de um inquérito a este caso. Ilídio Pinto Cardoso, porta-voz da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano, avançou que a administração esteve reunida de urgência esta manhã para se debruçar sobre o caso do bebé.

Fonte oficial do hospital confirmou ao Observador que a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER), que deveria ter intervido quando se verificou o quadro de paragem cardiorrespiratória, esteve sem médico entre as nove da manhã e as 15h40 de quinta-feira — um período de seis horas e 40 minutos em que, segundo a diretora clínica Vera Escoto, se fizeram “todos os esforços para colmatar essa situação” .

De acordo com os bombeiros que acudiram a criança, foi precisamente nesse intervalo de tempo, às 9h33, que o alerta foi dado. A médica justifica a falha da VMER com as exigências da Covid-19 naquele hospital: “Os médicos têm várias solicitações e, por isso, pontualmente, houve a falha neste período”.

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Em comunicado partilhado com os jornalistas, o Conselho de Administração da unidade avançou que o bebé será autopsiado e o caso investigado para o “apuramento cabal de todas as circunstâncias”. Mas “não pode deixar de realçar o profissionalismo de todos os técnicos de saúde, do serviço de urgência, envolvidos no socorro a esta situação”.

A reação do hospital chega depois de a Ordem dos Médicos ter exigido que a morte da criança seja “investigada até às últimas consequências para que todas as possíveis falhas sejam rapidamente corrigidas e a confiança da população na resposta de emergência seja restabelecida”.

O bastonário Miguel Guimarães insistiu em comunicado que a ordem já alertou “por diversas vezes” que a emergência médica pré-hospitalar representa “uma área fulcral para o sucesso do nosso sistema de saúde” e que “qualquer disrupção no funcionamento deste sistema pode ter consequências negativas e imprevisíveis”.

Temos conhecimento de vários buracos nas escalas das equipas médicas de suporte avançado de vida em várias zonas do país. Recordamos que são estas equipas que integram as VMER e que devem ser acionadas para situações mais delicadas, como a de Portalegre, pelo que nenhuma falha é admissível. Esta é uma área em que não podemos permitir falhas conjunturais, mas ainda menos estruturais”.

Segundo o Jornal de Notícias, a criança foi acudida pelos Bombeiros Voluntários de Portalegre, mas as manobras de suporte básico de vida não bastaram. O óbito veio a ser declarado no Hospital Dr. José Maria Grande, incluído naquela unidade local de saúde. A família recebeu apoio psicológico após saber da morte do recém-nascido.

Segundo Pedro Bezerra, comandante dos bombeiros, o alerta para o caso de um bebé com dificuldades respiratórias foi dado pelo pai. Quando os voluntários chegaram junto à criança, ela já estaria em paragem cardiorrespiratória e necessitava de “ajuda diferenciada”, cita o Jornal de Notícias. Essa ajuda nunca chegou e as tentativas de reanimação revelaram-se “infrutíferas”.

Em casos como este, e como o bebé estava em Alagoa, perto do hospital distrital de Portalegre, a assistência especializada teria de ser dada pela VMER. Mas ela “não estava disponível”, explicou Pedro Bezerra, por isso os dois bombeiros transportaram a criança para o hospital enquanto aplicavam as manobras de reanimação.

Ordem reitera preocupação com falta de médicos “generalizada” em hospitais do Sul

O esforço não bastou e “o óbito foi declarado já em meio hospitalar”, descreveu o comandante. Segundo a Sábado, que cita fontes do Centro de Orientação de Doentes Urgentes, a VMER ficou indisponível até às 20h desta quinta-feira por falta de médico.

Notícia atualizada às 17h32