As celebrações do Ano Novo Lunar, um ponto alto para o turismo de Macau, estão de volta após dois anos de interregno, mas os surtos de Covid-19 na China baixaram as expectativas dos comerciantes.

Lau gere um dos poucos espaços onde ainda se fabricam os tradicionais chouriços chineses, numa esquina junto à rua dos Mercadores, onde se vendem também carnes doces, peixe salgado e biscoitos de amêndoa.

A maioria dos clientes são turistas da China e por isso mesmo a Covid-19 trouxe um grande rombo ao negócio. “Antigamente, a gente sujava as mãos, mas ainda se ganhava algum dinheiro”, disse à Lusa o octogenário.

Macau recebeu 7,7 milhões de visitantes em 2021, mais 30,7% do que no anterior, mas muito longe dos 39,4 milhões registados em 2019, antes do início da pandemia.

Estes visitantes são quase todos oriundos da China, que beneficia de exceções face às restrições fronteiriças determinadas no âmbito do combate à pandemia do novo coronavírus. Se não existir qualquer surto no país, quem passa a fronteira deve apresentar um teste negativo à Covid-19 e um código de saúde digital.

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Apesar de ser uma das festas mais importantes para as famílias chinesas, Pequim pediu à população para não viajar durante os feriados.

Mesmo assim, a Direção dos Serviços de Turismo de Macau já garantiu a realização do espetáculo de fogo de artifício do Ano Novo Lunar, bem como a tradicional parada para assinalar a efeméride, ambas canceladas tanto em 2020 como em 2021.

O fogo de artifício vai acontecer nas noites de 03, 07 e 15 de fevereiro, esta última a coincidir com o tradicional Festival das Lanternas.

Quanto à parada de celebração do ano do tigre, esta vai acontecer nos dias 03 e 12 de fevereiro sob o tema “Virando a Fortuna com o poderoso Tigre”: 14 carros alegóricos, acompanhados por 22 grupos chineses e locais, vão passar por diferentes zonas da cidade nesses dois dias.

Lau disse esperar ver mais visitantes em Macau durante o Ano Novo Lunar, que se assinala a partir de 01 de fevereiro. “Têm fechado tantas lojas que há certas ruas em que até dá pena andar à noite”, lamentou o comerciante.

A grande incógnita, acrescentou Lau, são os surtos de Covid-19 que se têm registado na China. “Basta haver uma pessoa aqui em Macau que apanhe ‘isso’ e teremos que fechar tudo”, sublinhou.

Zhuhai, cidade chinesa adjacente a Macau, esteve em alerta após ter sido a segunda cidade da China a detetar a variante altamente contagiosa Ómicron, com 14 casos identificados em quatro dias.

A incerteza não afeta apenas os negócios mais virados para os visitantes.

A loja Va Heng, na rua da Tercena, fica longe das rotas turísticas e os maiores clientes das massas de farinha, secas em caixas de madeira, são de Macau, incluindo restaurantes.

A dona, Lei, disse à Lusa que a loja, que tem capacidade para produzir até 300 quilogramas por dia, teve de reduzir o ritmo porque a procura caiu a pique. “Mesmo os nossos clientes mais regulares compram menos. Está toda a gente a tentar poupar porque ninguém sabe o dia de amanhã”, explicou a comerciante.

A taxa de desemprego subiu de 1,7% no final de 2019, antes do início da pandemia de Covid-19, atingindo os 2,8% em novembro, sendo que as empresas locais perderam quase 26 mil trabalhadores não residentes.