Corrigido às 15h35 com comunicado que indica também restrição de produção no Alto Rabagão.

O Governo deu ordens para suspender a produção hidroelétrica em cinco barragens, todas da EDP, por causa dos efeitos da seca meteorológica que está a afetar todo o país. O Alto Lindoso/Touvedo, Alto Rabagão,  Vilar/Tabuaço, Cabril e Castelo de Bode no Zêzere são para já as barragens que param de produzir eletricidade a partir da água, para além do mínimo para o equilíbrio do sistema, revelou o ministro do Ambiente João Matos Fernandes após uma reunião da comissão de acompanhamento da seca.

Fica também suspenso o abastecimento de água para a rega a partir da albufeira da Bravura em Lagos. Estas são medidas específicas serão reavaliadas. Matos Fernandes admite a preocupação com a situação, mas refere que se chover o normal em fevereiro e março ainda será possível reverter o atual quadro de seca. Isto depois de um mês de janeiro em que praticamente não choveu em Portugal continental e no qual a produção hidroelétrica recuou 52%.

Produção hidroelétrica cai para metade em janeiro e atinge “valor baixo” para a época do ano, indica REN

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“Para já não sentimos a necessidade de tomar medidas genéricas para o país ou aplicadas a outras zonas de restrição no uso da água”, afirmou Matos Fernandes. Durante fevereiro e março será feito um acompanhamento diário para que eventualmente possam daqui a um mês serem adotadas restrições mais genéricas.

No caso das barragens em que o nível das albufeiras está claramente abaixo do que seria normal nesta época do ano foram fixadas quotas mínimas que garantem o abastecimento de água para consumo humano durante dois anos. Esta é a prioridade. O ministro do Ambiente destacou ainda que as bacias do Douro e do Guadiana apresentam níveis acima da média para esta época do ano, “o que nos dá alguma capacidade de gestão”, destacando os casos das barragens do Baixo Sabor e de Foz Tua. Também o Alqueva cumpre as condições para continuar transferir água para outras barragens para rega, acrescentou o ministro.

O Alto Lindoso no rio Lima e na fronteira com a Galiza tem sido notícia pelo nível anormalmente reduzido da água na albufeira que já tornou visível uma aldeia espanhola que ficou inundada com a construção desta barragem. Esta barragem estava já sujeita a restrições no que toca à produção de eletricidade, o que por si só permitiu recuperar um pouco o nível de água.

Para além do Alto Lindoso, e segundo o comunicado do Ministério, a restrição hoje anunciada atinge as barragens do Alto Rabagão em Trás-os-Montes (rio Rabagão), Vilar/Tabuaço em Moimenta da Beira (rio Távora), Cabril e Castelo de Bode (no rio Zézere). Castelo de Bode no distrito de Santarém é a principal reserva de água a Lisboa.

IPMA já avisou que a situação de seca se vai agravar

O Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA) revelou na semana passada que quase todo o país se encontra em seca meteorológica, com 34% do território em seca extrema. Pior só no mês de janeiro de 2005. Tendo em conta previsões que apontam para que a chuva em fevereiro seja inferior ao normal para aquele mês, o IPMA avisa que será muito provável  “o agravamento da situação de seca meteorológica no final de fevereiro, em todo o território do continente”.

Para esta “situação de seca diminuir significativamente ou mesmo cessar no mês de fevereiro, seria necessário que nas regiões do Norte e Centro ocorressem quantidades de precipitação superiores a 200/250 mm e na região Sul superiores a 150 mm, situação que somente ocorre em 20% dos anos”.

Governo já contactou Bruxelas para acelerar apoios à agricultura

Na mesma conferência, a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, afirmou que o Governo já contactou a Comissão Europeia para fazer “um reforço e simplificação dos adiantamentos” de apoios aos agricultores para fazerem face à situação. As culturas de inverno e pastagens foram lançadas, mas a falta de chuva perturbou-as, exigindo aos agricultores “custos acrescidos” para as manter viáveis, indicou.Segundo Maria do Céu Antunes, ainda não há situações em que esteja comprometido o abastecimento de água para fins agrícolas mas que as direções regionais de agricultura estão prontas para assegurar que haja transporte e disponibilização de cisternas com água para as necessidades.

Uma das principais urgências causadas pela falta de chuva tem a ver com a água para o gado. O Governo pretende reiniciar o levantamento da evolução das necessidades de investimento em captação e transporte de água e aquisição de equipamentos para o abeberamento de gado. A avaliação da possibilidade de instalar pontos de água ou cisternas associadas a albufeiras públicas para criar uma rede de suporte para eventuais secas é outro dos pontos referido pelo Governo em comunicado.