O bebé de 13 meses, infetado com Covid-19 e internado na unidade de cuidados intensivos pediátricos do Centro Hospitalar Universitário São João, no Porto, está estável e com uma evolução positiva, informou o hospital. O bebé foi esta noite transferido de urgência para este centro hospitalar com alterações cardíacas, obrigando a ativar os protocolos de respiração mecânica assistida e suporte circulatório com ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorporal).

Numa conferência de imprensa realizada esta tarde, apesar de confirmar o estado estável, a diretora clínica do Hospital de São João, Maria João Baptista, comunicou que ainda se trata “de um quadro grave” e que tudo indica que se trata de um caso de miocardite provocada pela infeção de Covid-19, apesar de ainda estarem a ser realizados mais exames para confirmar este quadro clínico.

Segundo a médica do São João, o bebé de 13 meses foi “transferido com o diagnóstico de Covid-19 e com um quadro clínico que era compatível com a existência de uma miocardite”. A criança estava “clinicamente muito doente, tinha arritmias cardíacas que foram muito difíceis de controlar” e, por isso, a equipa médica esteve “várias horas” a tentar estabilizá-la. Apesar de todas as medidas, o bebé acabou por entrar em choque cardiogénico, ou seja, o seu coração deixou de ser capaz de assegurar a circulação do sangue, havendo necessidade de a equipa médica colocá-lo em ECMO, explica a responsável.

O bebé foi ficando estável, a equipa clínica está neste momento a prestar todos os cuidados que o bebé necessita e neste momento a situação está controlada”, assegurou a responsável hospitalar.

Quanto à eventual existência de outros problemas de saúde, Maria João Baptista informou que, para já, não foram detetados outros problemas associados e o bebé será saudável, sendo que neste momento tudo indica que se trata de uma infeção de Covid-19 com um quadro de miocardite. Ainda assim, a equipa médica vai realizar mais exames para confirmar a causa. “Sabemos que este bebé tinha tido um quadro de febre, que teve inicialmente um teste de Covid-19 negativo e depois voltou ao hospital e teve um teste positivo. É nesse contexto — do agravamento clínico e do teste de Covid-19 positivo — que parece tratar-se de uma infeção de Covid-19 com um quadro de miocardite”, referiu a diretora clínica, acrescentando que esta “parece ser a causa mais provável”.

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Há outras miocardites que são provocadas por outros vírus e, neste momento, este momento estamos a pesquisar outros vírus que não foram identificados até ao momento. O bebé era saudável previamente, tanto quanto se conhece, mas vamos ter de fazer uma série de estudos para saber se ele eventualmente tem outra doença que não era conhecida e que possa ter desencadeado todo este processo”, explicou Maria João Baptista.

A criança estava internada no Centro Materno Infantil do Norte, mas “dada a gravidade do quadro, a equipa clínica teve necessidade de assegurar ventilação mecânica e suporte circulatório com ECMO”, informou o Centro Hospitalar Universitário São João.

O mecanismo da ECMO é, muitas vezes, o último recurso médico para tratar pessoas com doenças graves respiratórias e/ou cardíacas e é o que permite a chegada do sangue oxigenado aos órgãos. Maria João Baptista assegurou que este é um caso raro de infeção em idade pediátrica, e que, por isso, deve manter-se a tranquilidade. Ao mesmo tempo, alerta, os pais devem “ser prudentes” e tomar medidas para evitar infeções.

Sabemos que um bebé desta idade é frágil e corre sempre o risco, perante uma infeção por um vírus, de ter um processo mais grave e pode ter de necessitar de cuidados intensivos e de entrar em ECMO. Mas o que devemos fazer é ser prudentes. Não é provável que uma criança vá ter um quadro clínico destes. Os pais não têm de ficar alarmados e não estamos à espera de ter um aumento de casos deste género. Aquilo que temos de saber é que há medidas que nos protegem a todos para evitar as infeções e, sobretudo, a gravidade das infeções”, referiu a diretora clínica.

Nos próximos dias, a equipa médica vai continuar a avaliar a situação clínica do bebé mas, para já, os médicos vão “deixar que o bebé descanse um pouco”. “O bebé agora precisa de ficar mais estável para depois, no próximos dias, tentarmos retirar a ECMO e perceber se o coração funciona normalmente”, explicou Maria João Baptista.

Ordem dos Médicos alerta: é importante “não se desvalorizarem os efeitos desta infeção nas mais variadas faixas etárias”

Entretanto, numa nota enviada às redações, o Bastonário da Ordem dos Médicos vem “insistir publicamente na importância de não se desvalorizarem os efeitos desta infeção nas mais variadas faixas etárias”, endereçando todo o apoio à equipa que está a acompanhar a criança e solidariedade à família.

“Mesmo na nova fase da pandemia em que nos encontramos, e que tem permitido a reabertura progressiva da sociedade, é essencial que não nos esqueçamos do caminho difícil que percorremos e do que conseguimos alcançar”, sublinha Miguel Guimarães. “Todas as vidas importam e a vida de uma criança deve ser protegida de forma ainda mais especial, pelo que nos preocupa o palco que é dado a discursos inconsistentes e que, sobretudo, não têm qualquer respaldo na evidência científica produzida sobre os efetivos riscos da doença nas crianças e a segurança e benefícios da vacinação”, acrescenta o bastonário.

No mesmo sentido, o coordenador do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos e pneumologista, Filipe Froes, vem reforçar que, “no caso concreto das crianças, é verdade que a infeção tende a ser mais benigna, mas os casos graves existem e não devem ser desvalorizados.”

(Artigo atualizado às 19h, com mais informações sobre o estado de saúde do bebé de 13 meses)