O comentador Luís Marques Mendes considera que é “uma decisão pouco inteligente” não eleger um deputado do Chega para a vice-presidência da Assembleia da República. É “fazer o jogo do Chega”, que não estando preocupado com essa eleição, vai instrumentalizá-la para “fazer-se de vítima”: “André Ventura vai vitimizar-se, vai ter mais palco, mais protagonismo, mais visibilidade e mais força”.
O antigo ministro social-democrata sublinhou que a decisão que, segundo ele, os deputados se preparam para fazer de não depositar votos num candidato do Chega à vice-presidência da Assembleia é “legítima e democrática”, mas “é isso que engorda o monstro”: “Depois não se queixem que o Chega suba nas sondagens e votações e ameace a democracia”, avisou Marques Mendes.
Mudança de líder não basta para atrair eleitorado para o PSD
Sobre o Partido Social Democrata (PSD), de que é militante, Luís Marques Mendes aponta quatro nomes possíveis para substituírem Rui Rio: Montenegro, Rangel, Pinto Luz e Moreira da Silva. O primeiro está, no entanto, em vantagens porque tem mais apoios. Mas uma mudança de liderança não basta porque o PSD “não é um partido atrativo”.
O comentador apontou vários motivos para isso: o partido não atrai os jovens, que tendem a votar na Iniciativa Liberal; falta-lhe “coragem” para cortar qualquer possibilidade de governar com o Chega — um problema agravado pela fragmentação da direita; não convence os idosos por causa das dificuldades económicos nos tempos da troika; e é um partido “preguiçoso e monotemático”, que não menciona ideias em áreas como a cultura ou a ciência.
Quanto à data das eleições do partido, Marques Mendes relativiza as críticas ao calendário social-democrata, mas considerou que uma ida às urnas entre junho e julho é tardia. “Significa que o PSD passa dois terços do ano sem líder”, deixando o Chega e a Iniciativa Liberal ao comando da oposição à direita.
Marques Mendes diz que maioria absoluta pode ser positiva
O comentador da SIC opinou que as maiorias absolutas como a conquistada pelo Partido Socialista (PS), e que tantas preocupações suscita noutros peritos políticos, pode ser positiva para o país. Luís Marques Mendes considerou que um Governo com estas características traz estabilidade e previsibilidade, garante responsabilização e coerência; e são boas para a oposição, que assim compra tempo para se preparar como alternativa ao partido na liderança.
Mas há riscos, sobretudo se o novo Governo de António Costa for “recauchutado”. Luís Marques Mendes questiona aliás alguns dos nomes já noticiados. “Estarão todos os potenciais candidatos à liderança do PS: Pedro Nuno Santos, Mariana Vieira da Silva, Fernando Medina e Ana Catarina Mendes. Isto diz bem da preocupação do primeiro-ministro com a sua sucessão. Falta saber é a utilidade que tal opção vai ter para o país e para a governação”. O comentador atira mesmo um nome que seria “um bom sinal”: Francisco Assis. Mas “se for um governo feito em circuito fechado, corre o risco de ser só baralhar e dar de novo”.
Marques Mendes admite que o receio de uma maioria absoluta está relacionada com o facto de a liderança de José Sócrates ter culminado num “caso de polícia”, assim como com a “arrogância” dos últimos tempos de governação de Cavaco Silva.
Mas não tem de ser assim e “as vantagens são superiores aos riscos”. E prova disso está nas conquistas de Cavaco Silva: nesse período, Portugal teve a maior convergência com a União Europeia em toda a democracia — 12,6 pontos numa década — e o Governo criou o 14.º mês para reformados e pensionistas, naquela que foi a maior reforma estrutural em prol dos reformados.
Ainda sobre este tema, Luís Marques Mendes também criticou as declarações de Isabel Meireles que apontam as culpas “ao povo” pela maioria absoluta conquistada pelo Partido Socialista. Mas criticou também a esquerda política, que por sua vez acredita que a maioria absoluta foi culpa de Marcelo Rebelo de Sousa. São “explicações loucas”, classificou o social-democrata, “loucuras mansas da esquerda à extrema-direita”.
Quanto ao papel que o Presidente da República terá com um Governo com maioria absoluta, Luís Marques Mendes opinou que Marcelo Rebelo de Sousa herda duas funções adicionais: o de “fiscalizador” a eventuais excessos de António Costa; e o de “impulsionador” e acelerador de reformas no país.