– Ocupação?
– Estudante do ensino secundário.

A apresentação de Kamila Valieva na página oficial dos Jogos Olímpicos de Inverno não engana em relação à idade. Aos 15 anos, a russa que já tem mais de 230.000 seguidores no Instagram deveria ser uma rapariga a apostar nos estudos para entrar na faculdade, com um animal de estimação especial que faz questão sempre que pode de mostrar ao mundo, com uma paixão por karts e velocidades, com o gosto pelo desenho e pelas artes. Mas não, é bem mais do que isso. E teve em Pequim aquele que foi o momento mais alto da carreira (para já) ao arriscar e conseguir o que nunca antes ninguém conseguira: um salto quádruplo.

“Quando tinha três anos, desejei ser campeã olímpica. Agora, o meu sonho de infância concretizou-se”, disse após a prova que deu ao Comité Olímpico Russo a medalha de ouro por equipas na patinagem artística. Para se ter noção do feito, Kamila Valieva, que tem como primeira memória de grande competição os Jogos de Sochi em 2014, chegou a falhar a aterragem no segundo toe loop quádruplo, foi penalizada pela falha e mesmo assim terminou com mais de 30 pontos de vantagem em relação à japonesa Kaori Sakamoto no programa livre individual feminino por equipas já depois de ter ganho o programa curto.

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A história foi feita ao som de Bolero, de Maurice Ravel, o arranque tinha sido com o In Memoriam de Kirill Richter, em homenagem à avó que morreu em 2019, ano em que começou a entrar em competições mais a sério no plano internacional, tendo sido campeã júnior mundial (2020) e sénior europeia (2022) até à primeira medalha olímpica que, em condições normais, não será a única nesta edição de Pequim.

Nascida em Kazan, de onde se mudou depois para Moscovo com a mãe para perseguir os sonhos que agora começa a atingir, Kamila Valieva começou cedo a praticar ginástica, ballet e patinagem artística, não tendo demorado a fazer uma opção. “Deslizar no gelo e com velocidade é algo incrível. A ginástica foi um pouco dolorosa e no ballet serve para fazer algum exercício mas, como a música lenta, de alguma forma adormeci”, contou à Athlete em dezembro de 2019, quando começou a dar os primeiros sinais no gelo com um técnico com toque de Midas na Rússia: Eteri Tutberidze, que liderou a também campeã Alina Zagitova.

O trabalho não deu os frutos que desejava no ano passado, por não ter ainda idade para participar nos Mundiais de seniores, mas a estreia em Europeus absolutos dificilmente poderia ter sido melhor: além da medalha de ouro, tornou-se a primeira mulher de sempre a superar os 90 pontos no programa curto com um novo recorde mundial de 90.45. “Influência? Se estiver bem, ninguém me consegue bater nem mudar a minha mentalidade de alguma forma. Por isso, acho que sou apenas eu”, contou ao site da União Internacional de Patinagem. “A filosofia é apenas trabalhar, trabalhar muito e quanto mais trabalhar, melhor. Se alguém realmente trabalhar consegue sempre mostrar isso na competição”, acrescentou.