– Ocupação?
– Estudante do ensino secundário.
A apresentação de Kamila Valieva na página oficial dos Jogos Olímpicos de Inverno não engana em relação à idade. Aos 15 anos, a russa que já tem mais de 230.000 seguidores no Instagram deveria ser uma rapariga a apostar nos estudos para entrar na faculdade, com um animal de estimação especial que faz questão sempre que pode de mostrar ao mundo, com uma paixão por karts e velocidades, com o gosto pelo desenho e pelas artes. Mas não, é bem mais do que isso. E teve em Pequim aquele que foi o momento mais alto da carreira (para já) ao arriscar e conseguir o que nunca antes ninguém conseguira: um salto quádruplo.
Tonight history was made in women’s figure skating. Kamila Valieva threw three quad jumps in her free skate (with raised arms). No woman has ever successfully thrown a quad in Olympic competition. She is 15 years old… She fell on her last quad. At least we know she is human. ⛸ pic.twitter.com/5d5QblX5pN
— KAS (@kasmagikas) February 7, 2022
“Quando tinha três anos, desejei ser campeã olímpica. Agora, o meu sonho de infância concretizou-se”, disse após a prova que deu ao Comité Olímpico Russo a medalha de ouro por equipas na patinagem artística. Para se ter noção do feito, Kamila Valieva, que tem como primeira memória de grande competição os Jogos de Sochi em 2014, chegou a falhar a aterragem no segundo toe loop quádruplo, foi penalizada pela falha e mesmo assim terminou com mais de 30 pontos de vantagem em relação à japonesa Kaori Sakamoto no programa livre individual feminino por equipas já depois de ter ganho o programa curto.
A história foi feita ao som de Bolero, de Maurice Ravel, o arranque tinha sido com o In Memoriam de Kirill Richter, em homenagem à avó que morreu em 2019, ano em que começou a entrar em competições mais a sério no plano internacional, tendo sido campeã júnior mundial (2020) e sénior europeia (2022) até à primeira medalha olímpica que, em condições normais, não será a única nesta edição de Pequim.
History made. At 15 years old, Kamila Valieva of Russia became the first woman ever to land a quadruple jump at an Olympics.
Her free skate propelled the Russian figure skating team to victory at #Beijing2022. https://t.co/GIw94AfW18 pic.twitter.com/aAThKLE4jU
— The New York Times (@nytimes) February 7, 2022
Nascida em Kazan, de onde se mudou depois para Moscovo com a mãe para perseguir os sonhos que agora começa a atingir, Kamila Valieva começou cedo a praticar ginástica, ballet e patinagem artística, não tendo demorado a fazer uma opção. “Deslizar no gelo e com velocidade é algo incrível. A ginástica foi um pouco dolorosa e no ballet serve para fazer algum exercício mas, como a música lenta, de alguma forma adormeci”, contou à Athlete em dezembro de 2019, quando começou a dar os primeiros sinais no gelo com um técnico com toque de Midas na Rússia: Eteri Tutberidze, que liderou a também campeã Alina Zagitova.
07 Feb -Day 3️⃣#FigureSkating – Team – Women Single Skating – FS
#Gold Team ROC
Congratulations!
#Beijing2022 #Olympics #BingDwenDwen#TogetherForASharedFuture
???? Getty Images pic.twitter.com/zRgyHjhDQ6— Beijing 2022 (@Beijing2022) February 7, 2022
O trabalho não deu os frutos que desejava no ano passado, por não ter ainda idade para participar nos Mundiais de seniores, mas a estreia em Europeus absolutos dificilmente poderia ter sido melhor: além da medalha de ouro, tornou-se a primeira mulher de sempre a superar os 90 pontos no programa curto com um novo recorde mundial de 90.45. “Influência? Se estiver bem, ninguém me consegue bater nem mudar a minha mentalidade de alguma forma. Por isso, acho que sou apenas eu”, contou ao site da União Internacional de Patinagem. “A filosofia é apenas trabalhar, trabalhar muito e quanto mais trabalhar, melhor. Se alguém realmente trabalhar consegue sempre mostrar isso na competição”, acrescentou.
The pressure was palpable at the #Beijing2022 Olympics team figure skating.
Zhu Yi of China left the ice in tears. Several Russian skaters, including Kamila Valieva, fell and got back up to win the gold. Here's the night in pictures. https://t.co/FrFBNLDyUF pic.twitter.com/e65A1j7dsS
— The New York Times (@nytimes) February 7, 2022