Uma das maiores fábricas da empresa farmacêutica Johnson & Johnson suspendeu a produção até março da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela empresa (Janssen), avançou esta terça-feira o The New York Times. Esta pausa pode comprometer a chegada de vacinas a países mais pobres — que ainda não vacinaram a generalidade da população.

A fábrica que suspendeu a produção localiza-se em Leiden, nos Países Baixos, apesar de a farmacêutica garantir que não haverá qualquer quebra nas entregas, devido às vacinas que ainda têm em stock. No entanto, para repor o ritmo de produção antes da pausa, será necessário esperar até junho, o que poderá colocar em causa o envio de vacinas.

Em vez da vacina contra a Covid-19, a Johnson & Johnson alocou os recursos da fábrica holandesa para se tornar a primeira empresa a desenvolver uma vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR), sendo depois necessário um ensaio clínico para provar a eficácia e a segurança do fármaco. O objetivo da farmacêutica é conseguir tornar a vacina acessível para a generalidade da população, ainda que tal só se deva tornar possível daqui a alguns anos.

Jake Sargent, porta-voz da Johnson & Johnson, garantiu ao mesmo jornal que a empresa se compromete a “produzir múltiplos produtos”, devido à “obrigação de fornecer fármacos que possam mudar a vida de pacientes em todo o mundo”. Ainda assim, assegurou que a farmacêutica está “focada em assegurar que a vacina [contra a Covid-19] esteja disponível” para todos aqueles que não a têm e a rede de produção global está a “trabalhar dia e noite” para ajudar a combater a pandemia.

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Para produzir a vacina, a Johnson & Johnson utiliza não só a fábrica dos Países Baixos, empregando para o efeito duas nos Estados Unidos, uma na Índia e uma na África do Sul, esta última responsável pelo processo de colocar as vacinas em embalagens.

Em termos financeiros, a farmacêutica norte-americana gerou ganhos 2,4 mil milhões de dólares (cerca de 2,1 mil milhões de euros) com a vacina, o que corresponde a menos de 3% do total de lucros do total da empresa. Tendo prometido vendê-la sem fins lucrativos associados, a Johnson & Johnson ficou muito longe dos valores atingidos pelas concorrentes Pfizer e Moderna.

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Os principais clientes da Johnson & Johnson, entre os quais a União Africana e o Covax (o mecanismo da Organização das Nações Unidas para adquirir vacinas para os países mais pobres), manifestaram apreensão com a decisão. “Este não é a altura para trocar as linhas de produção de nada, quando a vida das pessoas um pouco por todo o mundo em desenvolvimento está em risco”, declarou ao jornal norte-americano Ayoade Alakija, responsável pelo programa de entrega de vacinas da União Africana.

Apesar de os países em desenvolvimento terem outras farmacêuticas por optar — aliás, o programa Covax já começou a procurar outras empresas —, o facto é que nenhuma reúne as condições da vacina da Johnson & Johnson. Em primeiro, por ser unidose (apesar de uma dose de reforço aumentar os anticorpos ao longo do tempo) e, em segundo, por não necessitar de condições de refrigeração tão exigentes como aquelas que utilizam a tecnologia mRNA (como a Pfizer ou a Moderna).

Apenas 11% da população africana está completamente vacinada e muitos países têm dificuldades em guardar e transportar as vacinas — característica em que a vacina da Johnson&Johnson apresenta um maior número de vantagens face às concorrentes.