O fóssil de um crocodilo que habitou a Austrália há 95 milhões de anos foi analisado durante mais de dez anos e os resultados mostram uma conclusão inesperada: no dia em que morreu, este crocodilo tinha comido um dinossauro.

O anúncio foi feito pelo Museu Australiano da Era dos Dinossauros. Os restos do crocodilo, pertencente a uma nova espécie descoberta intitulada Confractosuchus sauoktonos —  que significa “Assassino de Dinossauros Quebrados” — foram encontrados em 2010, em Winton. O local foi escavado por membros do museu, mas o estado frágil dos ossos fossilizados, que se encontravam unidos num aglomerado rochoso, levou a que estes não fossem separados imediatamente dos sedimentos.

A investigação, a cargo do cientista associado do museu, Matt White, da Universidade de Nova Inglaterra, foi realizada em conjunto com a Organização Australiana de Tecnologia e Ciência Nuclear (ANSTO, na sigla em inglês). Para que o animal fosse inicialmente identificado, o aglomerado foi analisado por Joseph Bevitt, cientista da ANSTO, que utilizou instrumentos de raio-x para mapear as diferentes partes dos ossos descobertos.

Os dados das análises foram depois entregues a Matt White para que pudesse organizar os fósseis digitalmente, um processo que durou, segundo o comunicado do museu, cerca de dez meses. Por fim, foi criada uma reconstrução em três dimensões dos restos descobertos em Winton.

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Cerca de 35% dos restos do crocodilo de 95 milhões de anos foram preservados até aos nossos dias, como explicou Matt White. O crânio do “assassino de dinossauros” foi preservado na sua quase totalidade, embora faltem partes do corpo do animal, como as suas patas traseiras.

Na altura da sua morte, este crocodilo de água doce media cerca de 2,5 metros e continuava em crescimento”, afirmou Matt White. “Embora a preferência do Confractosuchus não fosse comer dinossauros, não teria feito vista grossa a uma refeição fácil, como os restos do jovem ornitópode encontrados no seu estômago.”

Evidências de restos das articulações da jovem presa — que na altura pesaria cerca de 1,7 quilogramas — mostraram que o dinossauro teria sido morto pelo crocodilo, ou pelo menos servido de refeição pouco depois da sua morte. Um dos fémures fossilizados do ornitópode apresentava-se partido em dois pedaços, e o outro fémur terá sido mordido com tal força que a marca de um dente do crocodilo era ainda visível num entalhe cravado no osso.

É provável que os dinossauros fossem uma fonte importante na cadeia alimentar do Período Cretáceo”, explicou Matt White. “Em função da falta de outros espécimes a nível global, este crocodilo pré-histórico e a sua última refeição vão continuar a fornecer-nos pistas sobre as relações e os comportamentos entre os diversos animais que habitaram a Austrália há milhões de anos.”

A região de Winton, no oeste da província de Queensland, é, segundo o diretor do museu, a principal fonte australiana de “fósseis de dinossauros de grandes dimensões”.