O Governo do primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, utilizou, esta segunda-feira, um poder constitucional dos mais gravosos e sem precedentes para reprimir os protestos contra as restrições de combate à pandemia de Covid-19 que paralisaram a capital, designados de “Comboio de Liberdade”, e bloquearam passagens fronteiriças.
Trudeau reuniu-se virtualmente com os líderes das províncias do Canadá para debater a questão durante a manhã e dirigiu-se ao país às 16h30 locais (21h30 em Lisboa).
Na declaração, o primeiro-ministro canadiano disse, segundo a Reuters, que os “bloqueios estão a prejudicar a economia e a pôr em perigo a segurança pública”. “Não podemos e não vamos permitir que estas atividades perigosas e ilegais continuem.”
“Apesar dos nossos melhores esforços, é agora claro que há desafios sérios do ponto de vista legislativo para efetivamente fazer cumprir a lei”, afirmou Trudeau.
Este poder constitucional, designado do Emergency Act, define uma emergência nacional como uma situação “urgente e crítica”, que coloca “seriamente” em risco as “vidas, a saúde e a segurança dos canadianos”. “As proporções são de tal modo, que excedem a capacidade ou autoridade da província para lidar” com o problema, argumenta o governo.
Este poder constitucional dá a possibilidade de “tomar medidas temporárias especiais que podem não ser apropriadas em tempos normais”, de modo a lidar com uma “situação urgente e crítica”.
Esta garantia é temporária e dá o governo poderes limitados, tendo de ser, no entanto, aprovada no Parlamento.
Há mais de duas semanas, centenas e, às vezes, milhares de manifestantes em camiões e outros veículos entupiram as ruas de Otava, a capital, contestando a vacinação obrigatória para camionistas e outras medidas de combate à pandemia adotadas pelo Governo liberal de Trudeau.
Membros da chamada “Comboio da Liberdade” bloquearam também vários postos fronteiriços entre o Canadá e os Estados Unidos, embora o mais importante e mais movimentado — a ponte Ambassador, que liga Windsor, Ontário, à cidade norte-americana de Detroit — tenha sido reaberto no domingo, após intervenção da polícia, que deteve os últimos manifestantes e pôs fim ao cerco de quase uma semana que fez parar a indústria automóvel nos dois países, por falta de componentes.
Apesar do fim do bloqueio a esse eixo fronteiriço, a crise prosseguiu esta segunda-feira no Canadá, levando o Ontário a anunciar o abandono da exigência de certificado de vacinação e Trudeau a equacionar acionar a lei sobre medidas de emergência.
Esta segunda-feira, a polícia canadiana apreendeu armas e munições e deteve 11 pessoas no bloqueio fronteiriço de Coutts, em Alberta (oeste), ponto de passagem para os Estados Unidos paralisado há uma semana.
As autoridades confiscaram 13 armas de fogo, vários coletes à prova de bala e uma grande quantidade de munições.
A Covid-19 fez pelo menos 5.813.329 mortos em todo o mundo desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência noticiosa francesa France-Presse, com base em dados oficiais.