O secretário-geral da NATO disse, esta quinta-feira, recear — à semelhança do que os Estados Unidos já tinham dito — que a Rússia “esteja a tentar criar um pretexto para lançar um ataque armado à Ucrânia” e reiterou que a NATO “continua à espera” de uma resposta da Rússia sobre um acordo de segurança proposto em janeiro.
“Estamos à espera de uma resposta da Rússia. Recebemos em dezembro uma proposta de um acordo de segurança que a Rússia queria assinar com a NATO. Enviámos as nossas propostas à Rússia, em que listamos questões como o controlo de armas (…), acreditamos que são áreas em que há espaço para entendimentos. O controlo de armas é bom par todos nós, vai aumentar a segurança da Rússia e dos aliados da NATO. Ainda não recebemos qualquer resposta, continuamos à espera”, disse o secretário-geral, Jens Stoltenberg.
Em conferência de imprensa após uma reunião em Bruxelas, Stoltenberg realçou que, “apesar das declarações de Moscovo”, a organização não viu “até agora qualquer sinal de retirada” das tropas russas das zonas fronteiriças com a Ucrânia, parecendo antes registar-se um aumento das forças.
“Não vimos até agora qualquer sinal de retirada ou de desanuviamento. Pelo contrário, a acumulação [de forças e meios militares] da Rússia parece continuar. Exortamos a Rússia a fazer o que diz, e a retirar as suas forças das fronteiras da Ucrânia”, declarou Jens Stoltenberg, no final da reunião de dois dias dos ministros da Defesa da Aliança Atlântica, em Bruxelas.
Apontando que a NATO continua a monitorizar “de muito perto” a evolução dos acontecimentos no terreno, o secretário-geral da organização comentou que a retirada das forças militares russas, tal como anunciado pelo Kremlin (Presidência russa), constituiria “um primeiro passo importante no sentido de uma solução política pacífica”.
Stoltenberg garantiu que “a NATO continua aberta a envolver-se com a Rússia de boa-fé” e reiterou que “os aliados estão prontos a sentar-se com a Rússia no Conselho NATO-Rússia”, para “abordar uma vasta gama de questões e encontrar pontos de convergência”.
Neste segundo dia de trabalhos, os ministros da Defesa da NATO reuniram-se com os seus homólogos da Ucrânia e da Geórgia, tendo discutido “a contínua ameaça de agressão russa” e “a deterioração da situação de segurança na região do Mar Negro”, com os aliados a expressarem uma vez mais o “forte apoio político e prático da NATO a ambos os países”, apontou o representante.
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“A NATO e os aliados estão a ajudar a Ucrânia a aumentar a sua capacidade de se defender. A auto-defesa é um direito consagrado na Carta das Nações Unidas, e os aliados estão a ajudar a Ucrânia a defender esse direito, incluindo com formação e equipamento militar para as forças armadas ucranianas, perícia cibernética e de inteligência, e um apoio financeiro significativo”, sublinhou.
O responsável norueguês acrescentou que também foi discutida “a presença de forças russas nas regiões georgianas da Abecásia e da Ossétia do Sul”, assim como o recente voto da câmara baixa do parlamento russo (Duma) a recomendar o reconhecimento das autoproclamadas repúblicas (separatistas) populares de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia.
“Todos concordamos que isso seria mais uma violação flagrante da integridade territorial e da soberania da Ucrânia, assim como dos Acordos de Minsk, minando os esforços para encontrar uma solução política no Formato da Normandia [que integra Rússia, Ucrânia, Alemanha e França]”, advertiu.
A terminar, reiterou o “forte apoio da NATO à soberania e integridade territorial tanto da Geórgia como da Ucrânia” e ao “direito de cada nação de escolher o seu próprio caminho”.
“Não podemos aceitar um regresso a uma era de esferas de influência, em que as grandes potências intimidam e impõem a sua vontade aos outros. Não pode haver decisões sobre a Ucrânia sem a Ucrânia, e não pode haver decisões sobre a Geórgia sem a Geórgia”, disse.
Portugal esteve representado nesta reunião pelo ministro João Gomes Cravinho, que, na quarta-feira à noite, em declarações à imprensa no final do primeiro dia de trabalhos, comentou igualmente que a situação a leste “permanece extremamente perigosa”, pois, apesar das palavras de Moscovo, a NATO ainda não viu “nenhuma alteração” no terreno.
“Embora tenha havido alguns sinais positivos em termos de afirmações [das autoridades russas}, na realidade, no terreno, ainda não vimos nenhuma alteração. Ou seja, continuamos numa situação em que a Rússia tem capacidade para uma ação militar de grande envergadura com pouco ou nenhum pré-aviso”, disse.
Gomes Cravinho sublinhou que, para a NATO, “diálogo e diplomacia são a chave para a resolução desta situação e o desanuviamento das tensões”, mas, ao mesmo tempo, a organização transatlântica considera que “dissuasão e diálogo são duas faces da mesma moeda, e é muito importante os aliados da NATO terem uma postura de grande dissuasão, precisamente para precaver contra qualquer aventureirismo, qualquer atitude que ponha em causa a segurança da Aliança”.
Numa altura em que o Kremlin garante que concluiu as manobras militares nas zonas fronteiriças, um anúncio recebido com muita cautela pela NATO e União Europeia, a crise Rússia-Ucrânia foi também objeto, hoje mesmo, de uma discussão ao mais alto nível entre os chefes de Estado e de Governo dos 27 do bloco comunitário, numa ‘mini-cimeira’ informal realizada imediatamente antes da cimeira UE-África, com a participação do primeiro-ministro, António Costa.