Não tem nem os títulos, nem o currículo nem talvez o protagonismo que as mini armadas portuguesas nos dois rivais de Manchester conseguiram (Bernardo Silva, João Cancelo e Rúben Dias no City, Ronaldo, Bruno Fernandes e Diogo Dalot no United) mas não só era maior como até albergava mais campeões europeus de seleções em 2016 por Portugal. Dez anos depois de um título na Ligue 1 que quebrou um jejum de mais de 55 anos, o Lille foi a grande revelação em França da última época e conseguiu mesmo sagrar-se campeão frente ao todo poderoso PSG com quatro portugueses no plantel. Agora, desafiava mais um capítulo do que parecia ser impossível. E logo contra o atual campeão europeu, que acabou por ficar em segundo na fase de grupos mas cruzou com o “brinde” que todos procuravam. Pelo menos no plano teórico, claro está.

Foi-se o Deus, ficou uma mão sem pés nem cabeça (a crónica da final do Mundial de Clubes)

Acabado de ganhar o Mundial de Clubes em Abu Dhabi frente ao Palmeiras de Abel Ferreira, o Chelsea não tem propriamente grande horizonte para voltar a lutar pela conquista da Premier League que lhe foge desde 2017 perante as campanhas de Manchester City e Liverpool mas continua nas duas taças (jogando a primeira final no domingo, a Taça da Liga) e volta a olhar de outra forma para a Liga dos Campeões mesmo com todas as baixas por lesão que assolam nesta altura a equipa, sabendo da diferença de valores entre ambos que como o FC Porto mostrou nos quartos da última temporada muitas vezes não passam disso mesmo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Da parte do Lille, como mostravam os muitos adeptos presentes em Stamford Bridge, imperava o sonho. O sonho de prosseguir a epopeia europeia para compensar a caminhada menos conseguida na Ligue 1 (que mesmo assim foi melhorando nas últimas jornadas, depois de ter andado em lugares perto da descida), o sonho de ter mais uma demonstração de força individual e coletiva como teve na fase de grupos com Sevilha, Wolfsburgo e Salzburgo, o sonho de poder valorizar ainda mais o plantel que ainda no último mercado voltou a perder jogadores, neste caso Ikoné (Fiorentina) e Reinildo (Atl. Madrid). E era também aqui que encaixava Renato Sanches, recuperado de mais uma arreliadora lesão para se assumir como um dos melhores.

A versão “sei o que podia ter feito no verão passado” de Renato Sanches: “Se não me tivesse lesionado, estava no Barcelona”

“O Renato tem vindo a sentir-se melhor. Anda com um pequeno problema na pélvis e no adutor que, não sendo nada de sério, já se arrasta há algum tempo. Se vai ser titular? Vamos decidir sem pressão”, tinha comentado Joucelyn Gourvennec, técnico do Lille, na antecâmara do jogo e a recordar o regresso à equipa na última sexta-feira diante do Metz onde jogou oito minutos. Foi mesmo. E de forma natural acabou por ser o fator diferenciador do conjunto gaulês, com acelerações, arrancadas, um controlo posicional de posse quase “anormal” e uma capacidade de fazer esticar a equipa com passes longos até de pé esquerdo que mostrou o porquê de estar (ou continuar) a ser cobiçado nesta fase por várias equipas de topo de ligas europeias.

Como o próprio médio que saiu do Benfica para o Bayern em 2016 admitiu, só mesmo uma lesão no início da temporada impediu que se transferisse para o Barcelona no mercado de verão. E agora em Itália são várias as publicações que garantem haver já um acordo com clube e jogador para reforçar o AC Milan. Uma coisa é certa: depois da experiência falhada na Baviera e do crescimento nos últimos anos, Renato Sanches entrou numa segunda vida. E mesmo com a derrota do Lille por 2-0 em Londres, saiu de novo valorizado num jogo onde esteve quase sempre à direita e viu Kanté fazer a diferença pelo corredor central.

Kai Havertz, o herói da conquista da Champions e também do Mundial de Clubes, continua numa relação com os golos e mostrou que à terceira é mesmo de vez: primeiro desviou por cima na pequena área um bom cruzamento de Azpilicueta (4′), depois obrigou o guarda-redes Léo Jardim, que passou por Boavista e Rio Ave, a defesa apertada para canto (7′) e na sequência da bola parada fez o 1-0, surgindo de rompante sem marcação ao primeiro poste para o golo inaugural (8′). O Lille demorou a estabilizar e acabou por pagar por isso, criando perigo em dois cantos e num cruzamento de Renato Sanches desviado para canto de uma forma atabalhoada por Rüdiger (11′) no melhor momento que não trouxe resultados práticos mas que permitiu assentar e fechar um pouco mais os caminhos da sua baliza com outra capacidade de réplica até ao intervalo.

José Fonte tentava liderar a defesa, Tiago Djaló ia disfarçando a falta de rotinas no lado esquerdo da defesa, Xeka procurava controlar mais o meio-campo mas Renato Sanches era mesmo o grande destaque nacional, tendo mais uma jogada em força da esquerda para o meio a passar por três adversários mas a rematar muito por cima (40′). O intervalo chegava com a vantagem mínima e o Chelsea nem entrou particularmente rápido para um segundo tempo onde perdeu por lesão Kovacic e Ziyech mas bastou mais uma aceleração de Kanté pelo meio para isolar Pulisic e ver o americano fazer o 2-0 numa fase em que o Lille parecia ter o encontro controlado no plano defensivo. Quando é Champions, é (ainda mais) território de Kanté, o melhor nos quartos, nas meias e na final pelo Chelsea da última época. E foi ele que decidiu, com e sem bola.