Os produtores de leite voltaram esta sexta-feira a apelar a uma intervenção “urgente” do Governo no sentido de aumentar o preço pago à produção, alertando para que a guerra na Ucrânia veio ainda “agravar” a já “difícil situação” que viviam.

“Os acontecimentos dramáticos da guerra na Ucrânia vieram agravar a difícil situação dos produtores de leite portugueses, que pagam os custos de produção (rações, adubos e energia) ao mesmo nível dos colegas europeus, mas recebem o pior preço da Europa, 10 cêntimos abaixo da média comunitária, segundo os últimos dados fornecidos pela Comissão Europeia”, sustenta a Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep) em comunicado.

Garantindo que o setor precisa de “ajuda urgente”, a associação reclama “um aumento imediato do preço do leite ao produtor em cerca de oito cêntimos por litro” e “um mecanismo para atualizar o preço do leite de acordo com os custos de produção”.

“O mercado do leite não funciona em Portugal e o Governo tem que intervir. Senhor Primeiro-Ministro, é tempo de agir!”, enfatiza.

Segundo a Aprolep, “o aumento do preço do leite registado em Portugal a partir de 1 de janeiro de 2022 chegou com um ano de atraso e já foi anulado pelos aumentos dos custos em 2022“. “Um saco de adubo que custava seis euros custa agora 16“, precisa, enquanto “o milho já passa os 300 euros/tonelada e a soja 550 euros/tonelada”.

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A Aprolep destaca ainda o impacto da atual guerra na Ucrânia no setor, lembrando que este país “era o primeiro produtor europeu de adubo azotado“.

“Não sabemos, sequer, que milho haverá para entrega, tendo em conta que a Ucrânia era a principal fornecedora de Portugal, que um navio de cereais foi atingido por um míssil e os portos estão fechados. Tudo isto vai destabilizar ainda mais o mercado mundial de cereais, que já estava em ebulição por causa do aumento de consumo da China e das secas nas regiões produtoras na América do Sul do Norte”, sublinha.

E, se “surgem notícias de que os alimentos vão aumentar aos consumidores”, a associação diz não haver “qualquer sinal de que as cooperativas e indústrias façam qualquer atualização do preço do leite pago aos agricultores”. “Interpelados por produtores desesperados, atiram as culpas para a distribuição”, acusa.

Por seu lado, “as várias cadeias de distribuição atiram a responsabilidade para a indústria ou para os concorrentes”.

Quanto ao Governo, diz a Aprolep, “mandou fazer o “relatório da PARCA” [Plataforma de Acompanhamento das Relações na Cadeia Agroalimentar], mas não deu qualquer seguimento”.

“Esse relatório, que demorou seis meses desde que foi prometido até ser divulgado, deve estar numa gaveta à espera do próximo Governo que ainda vai demorar dois meses a tomar posse e começar a trabalhar”, lamenta.