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Gilberto, a nova corda que a equipa ioiô redescobriu (a crónica do Benfica-V. Guimarães)

Este artigo tem mais de 2 anos

Num jogo que poderia ter sido diferente se o V. Guimarães tivesse sido mais eficaz, Benfica venceu com duas assistências de Gilberto — a nova constante de uma equipa que luta contra a inconsistência.

SL Benfica v Vitoria Guimaraes SC - Liga Portugal Bwin
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Darwin marcou dois dos três golos da equipa de Nélson Veríssimo

DeFodi Images via Getty Images

Darwin marcou dois dos três golos da equipa de Nélson Veríssimo

DeFodi Images via Getty Images

Desde que Nélson Veríssimo chegou ao comando técnico do Benfica, para substituir Jorge Jesus, o Benfica assumiu a característica de ser uma equipa ioiô. Faz exibições positivas e prometedoras, como no jogo contra o Tondela e o último contra o Ajax para a Liga dos Campeões, e faz exibições manifestamente pobres e negativas, como no empate com o Moreirense ou a derrota com o Gil Vicente. Mais do que não garantir consistência em termos de resultados, esta particularidade faz com que nunca seja possível antecipar que Benfica vai entrar em campo — se o Benfica positivo e prometedor ou o Benfica pobre e negativo.

Este domingo, era precisamente essa a incerteza. Os encarnados demonstraram um nível exibicional elevado a meio da semana, na primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões e contra um Ajax que goleou duas vezes o Sporting na fase de grupos, e poderiam até ter conquistado mais do que o empate. Nada disso, porém, garantia que essa lógica se mantivesse no Campeonato e contra um V. Guimarães que só venceu um dos últimos quatro jogos e que está a atravessar um período complexo a nível institucional, com eleições marcadas para a próxima semana e a suspensão do diretor desportivo Flávio Meireles por estar associado a uma lista de oposição à atual direção. Ainda que Veríssimo, por seu lado, não concordasse propriamente com o facto de o Benfica ser uma equipa ioiô.

Ficha de jogo

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Benfica-V. Guimarães, 3-0

24.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: André Narciso (AF Setúbal)

Benfica: Vlachodimos, Gilberto, Vertonghen (Tomás Araújo, 90+3′), Morato, Grimaldo, Rafa (Diogo Gonçalves, 79′), Meïté, Taarabt (João Mário, 62′), Everton, Gonçalo Ramos (Paulo Bernardo, 79′), Darwin (Yaremchuk, 62′)

Suplentes não utilizados: Helton Leite, Lázaro, Radonjic, Rafael Brito

Treinador: Nélson Veríssimo

V. Guimarães: Bruno Varela, Miguel Maga, Mumin, Jorge Fernandes, Rafa Soares, André Almeida, Alfa Semedo (Bamba, 58′), Tiago Silva (Janvier, 79′), Rúben Lameiras (Geny Catamo, 71′), Rochinha (Ricardo Quaresma, 58′), Oscar Estupiñán (Bruno Duarte, 71′)

Suplentes não utilizados: Trnal, Borevkovic, Nélson da Luz, Sílvio

Treinador: Pepa

Golos: Gonçalo Ramos (23′), Darwin (37′ e 52′, gp)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Alfa Semedo (3′), a Everton (35′), a Mumin (55′)

“Não diria tanto. Já tive a oportunidade de falar em relação ao que foi o jogo do Bessa [empate com o Boavista]. Relativamente ao do Ajax, o objetivo era transportar o que de bom fizemos nos primeiros 60 minutos e dar maior continuidade. Na nossa opinião, conseguimos. E percebo que se fale mais da segunda parte mas acho que fizemos um jogo consistente, com boas ações ofensivas e defensivas. Não há uma explicação efetiva, o certo ou o errado, mas o objetivo para o último jogo era esse e eles conseguiram. A evolução e o crescimento das equipas revela-se pelo que é a consistência nessas exibições e o nosso desafio passa por transportar o que é o jogo anterior para o jogo frente ao V. Guimarães. Temos de ganhar e jogar bem para consolidar o que temos vindo a fazer”, explicou o treinador encarnado na antecâmara da receção aos vimaranenses.

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Sem Otamendi e Weigl, ambos castigados depois de terem visto o quinto cartão amarelo contra o Boavista na última jornada, Nélson Veríssimo era forçado a lançar Morato e Meïté no onze inicial mas não fazia qualquer outra alteração: Gilberto era o escolhido para a direita da defesa em detrimento de Lázaro, Taarabt mantinha a titularidade no meio-campo, Rafa e Everton eram os eleitos para os corredores e Gonçalo Ramos aparecia no apoio a Darwin. Do outro lado, Pepa não podia contar com João Ferreira, jovem defesa que está emprestado pelo Benfica, e colocava Miguel Maga, Rafa Soares e André Almeida no onze em comparação com a derrota da última jornada contra o Arouca.

Na Luz, muitos adeptos do Benfica mostraram bandeiras da Ucrânia e cartazes que pediam o fim do conflito armado que está a decorrer naquela região da Europa. No aquecimento, assim que deu os primeiros passos no relvado, Yaremchuk foi muito aplaudido, acabando por ser também recordado pelos próprios colegas de equipa: todos os jogadores encarnados titulares entraram em campo com uma braçadeira com as cores ucranianas, o azul e o amarelo. A equipa de Nélson Veríssimo entrou bem, com vontade de assumir o controlo da partida e até com a primeira oportunidade com um remate ao lado de Gilberto (4′), mas depressa se percebeu que o V. Guimarães sabia qual era a chave para desmontar a defensiva adversária.

Em pouco mais de cinco minutos, Estupiñán poderia ter inaugurado o marcador duas vezes: primeiro, foi lançado na profundidade por Lameiras, permitindo a defesa de Vlachodimos com o pé (7′); depois, recebeu um passe cruzado do mesmo Lameiras, atirando novamente para uma grande intervenção do guarda-redes encarnado (14′). O espaço que o Benfica deixava nas costas da defesa, por querer naturalmente pressionar alto e construir já no meio-campo adversário, permitia ao V. Guimarães explorar a profundidade e a velocidade do avançado colombiano — que, quando aliado à qualidade e à visão de jogo de Lameiras, não precisava de muito para criar uma oportunidade de golo. Até estar cumprido o primeiro quarto de hora do jogo, e mesmo com o Benfica a ter mais posse de bola, os vimaranenses só não estavam a vencer na Luz porque Estupiñán não tinha sido eficaz.

O Benfica procurava atacar essencialmente a partir da esquerda, onde Everton e Grimaldo combinavam para o lateral espanhol desequilibrar nos espaços mais interiores, mas os grandes desequilíbrios — assim como os dois golos — surgiram através do lado contrário. Já depois de Vertonghen assinar o primeiro remate enquadrado dos encarnados, com um cabeceamento para defesa de Bruno Varela na sequência de um canto (18′), Gonçalo Ramos abriu o marcador na primeira vez em que tocou na bola em zona de perigo. Meïté abriu na direita em Gilberto e o lateral brasileiro tirou um cruzamento perfeito para a grande área, onde o jovem avançado apareceu a atirar de primeira na zona da marca de grande penalidade (23′). O Benfica colocava-se em vantagem no marcador, revelando uma eficácia bem acima da média, e conseguia marcar ainda dentro da primeira meia-hora de um jogo em que nem sequer estava a conseguir ter um grande caudal ofensivo.

O V. Guimarães procurou responder de forma imediata, com Lameiras a obrigar Vlachodimos a mais uma intervenção apertada depois de um remate cruzado na grande área (26′), mas a reação foi sol de pouca dura. A partir da meia-hora, a equipa de Pepa limitou-se a tentar condicionar o Benfica, defendendo à zona e sem grande intensidade, e deixou de conseguir entrar com perigo no meio-campo adversário, contando-se apenas um remate muito desenquadrado de Alfa Semedo até ao intervalo (34′). Do outro lado, em oposição e mesmo estando longe de estar a dominar o V. Guimarães por completo, os encarnados permaneciam letais no último terço e aumentaram a vantagem ainda antes do final da primeira parte. Numa quase fotocópia das dinâmicas do primeiro golo, Meïté voltou a abrir na direita em Gilberto e o lateral cruzou para a área, onde Darwin apareceu a cabecear para bater Bruno Varela (37′).

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Benfica-V. Guimarães:]

O Benfica voltou para a segunda parte claramente por cima e capitalizou esse ascendente de forma quase imediata, com Gonçalo Ramos a sofrer grande penalidade de Miguel Maga e Darwin a converter o castigo máximo para bisar, aumentar a vantagem e chegar aos 20 golos no Campeonato (52′). De forma contrária àquilo que tem sido a quase constante nas exibições encarnadas, a equipa de Nélson Veríssimo manteve o pé no acelerador depois do terceiro golo e quase chegou à goleada, com Rafa a permitir uma grande defesa de Bruno Varela (54′) e Ramos a ter o bis anulado por fora de jogo (56′).

Pepa procurou equilibrar a equipa com duas substituições, trocando um apagado Rochinha por Ricardo Quaresma e ainda Alfa Semedo por Bamba, e Veríssimo respondeu com uma dupla alteração que proporcionou o momento mais emocionante da tarde: Yaremchuk e João Mário renderam Darwin e Taarabt e o avançado ucraniano foi ovacionado pelo Estádio da Luz, acabando por receber a braçadeira de capitão das mãos de Vertonghen sem conseguir esconder a óbvia emoção. Com as mexidas, que tiraram alguma intensidade e verticalidade ao jogo do Benfica, o V. Guimarães conseguiu respirar e ficou até perto de reduzir a desvantagem, com um remate de Quaresma que Vlachodimos defendeu (69′). Os encarnados tinham mais bola e iam controlando o confortável resultado, procurando explorar os espaços que iam aparecendo, mas o jogo parecia encaminhar-se a passo para o apito final.

A 20 minutos do fim, Pepa refrescou o ataque e tirou Estupiñán  e Lameiras para lançar Bruno Duarte e Geny Catamo, com o primeiro a protagonizar ainda uma oportunidade relevante em que rematou ao lado em posição frontal para a baliza (75′). Paulo Bernardo e Diogo Gonçalves também entraram no Benfica, numa clara gestão de esforço de Gonçalo Ramos e Rafa, e o jogo encaminhou-se tranquilamente até ao final, com os encarnados a aplicarem um controlo natural da posse de bola, o V. Guimarães a demonstrar-se muito passivo e desligado e as duas equipas a aceitarem de forma clara o resultado que já estava estabelecido. Até ao fim, o jovem central Tomás Araújo ainda teve tempo para cumprir alguns instantes pelo Benfica e fazer a estreia absoluta no Campeonato (já tinha jogado na Taça de Portugal, contra o Sp. Covilhã).

O Benfica venceu o V. Guimarães na Luz num jogo que até poderia ser diferente se o V. Guimarães tivesse sido mais eficaz, principalmente na primeira parte, e encurtou para quatro pontos a distância para o segundo lugar do Sporting. Numa partida que ficou muito marcada pelo momento da entrada de Yaremchuk, Gilberto mostrou que tem de ser a nova corda de uma equipa ioiô: perdeu a titularidade para Lázaro no último mês, voltou para fazer enormes exibições contra o Ajax e os vimaranenses e, este domingo, até fez duas assistências.

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