A União Europeia não usa os seus recursos para enviar armas a países em guerra. Ou melhor, não usava. A Finlândia e a Suécia também não. E idem para a Alemanha. Mas o que era uma verdade absoluta deixou de o ser com a invasão russa da Ucrânia: são cada vez mais os países a decidir enviar equipamento letal — e não apenas material defensivo, como coletes e capacetes —, para o país liderado por Volodymyr Zelensky.
Dentro da Europa há quem resista a fazê-lo, como a Espanha ou a Irlanda, que irá enviar essencialmente material médico. Já a Hungria avisa que não permitirá que armas de guerra enviadas para a Ucrânia passem pelo seu território, já que poderiam tornar-se alvos militares. Em sentido oposto, a Polónia ofereceu-se para ser um hub logístico. Mas são cada vez mais os países prontos a armar os ucranianos.
União Europeia
“Sei que o termo histórico é muitas vezes sobreutilizado e abusado, mas este é certamente um momento histórico”, disse o Alto Representante da UE para a Política Externa, no domingo. Josep Borrell falava em Bruxelas, no final de um encontro dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27, onde se decidiu comprar armas letais para a Ucrânia. “Decidimos usar as nossas capacidades para fornecer armas, armas letais, assistência letal, ao exército ucraniano com um pacote de apoio no valor de 450 milhões”, valor que será financiado pelo Mecanismo Europeu de Apoio à Paz
Borrell lembrou que Moscovo avisou que atacará “qualquer pessoa ou entidade que transporte essa ajuda” e, por isso, reusou dar mais detalhes. Haverá ainda 50 milhões para fornecimento de material não letal, como combustível.
Fornecimento de armas pela União Europeia bem encaminhado, mas sob segredo, garante Josep Borrell
Portugal
O Governo português está entre os que decidiram enviar armas letais para o país do Leste Europeu. Segundo o ministro da Defesa Nacional, Portugal irá contribuir com um valor entre os “8 e 10 milhões de euros”.
Quanto ao equipamento militar, João Gomes Cravinho explicou, esta segunda-feira, que será de natureza letal e não letal. Haverá “material ofensivo como granadas, espingardas G3, munições”, e material defensivo, como material de comunicação ou óculos de visão noturna. “Portugal não é um país fornecedor de armas tipicamente, não temos essa tradição de todo, portanto aquilo que pudemos disponibilizar é material que pertence às Forças Armadas e as Forças Armadas não estão concebidas para serem um interposto de material bélico”, explicou.
Finlândia
A Finlândia foi um dos países que tomou uma decisão histórica nesta segunda-feira. Membro da União Europeia, mas não da NATO, vai enviar 2.500 armas de assalto, 150.000 munições, 1.500 lança-rockets e 70.000 rações de campanha. “A mudança de linha da Alemanha foi particularmente significativa”, para esta mudança de posição do país, explicou o ministro da Defesa, Antti Kaikkonen.
Finlândia toma decisão “histórica” de fornecer armas contra invasão
Alemanha
Para a Alemanha era ponto de honra não fornecer armamento a países em conflito. Agora, mudou igualmente de posição e vai enviar para Kiev 1.000 lança-rockets antitanque, 500 mísseis terra-ar Stinger, nove peças de artilharia, 14 veículos blindados e 10.000 toneladas de combustível.
“A invasão russa da Ucrânia marca um ponto de virada. É nosso dever fazer o nosso melhor para apoiar a Ucrânia na defesa contra o exército invasor de Putin”, disse o chanceler alemão Olaf Scholz, no sábado.
Suécia
Como lembrou a primeira-ministra da Suécia, no sábado, desde 1939 que o país não seguia um caminho como este. Magdalena Andersson anunciou a “decisão excecional” de enviar 5.000 lança-rockets antitanque para a Ucrânia. Da última vez que o fez foi para ajudar a Finlândia, então invadida pela… União Soviética.
Países Baixos
O governo dos Países Baixos vai enviar 50 armas antitanque Panzerfaust-3 e 400 foguetes, segundo o Ministério de Defesa do país. Além disso, está considerar, numa posição conjunta com a Alemanha, enviar um sistema de defesa aérea Patriot para uma equipa da NATO, estacionada na Eslováquia.
Reino Unido
Boris Johnson foi dos primeiros chefes de Governo a decidir enviar armas letais para a Ucrânia e vai continuar a fazê-lo. Quarta-feira passada, na câmara baixa do parlamento britânico, o primeiro-ministro britânico confirmou essa decisão. “À luz do comportamento cada vez mais ameaçador da Rússia e de acordo com nosso apoio anterior, o Reino Unido em breve fornecerá mais um pacote de apoio militar à Ucrânia” com armas defensivas e ajuda não letal.
Em janeiro, o Reino Unido enviou cerca de 2.000 mísseis antitanque para a Ucrânia.
Estados Unidos
Os Estados Unidos também irão continuar a enviar apoio militar letal para Zelensky. O último pacote de ajudas, no valor de 350 milhões de dólares, foi anunciado no sábado, em comunicado, pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. “Este pacote incluirá mais assistência defensiva letal para ajudar a Ucrânia a lidar com as ameaças blindadas, aéreas e outras que está enfrentando agora.”
Canadá
O Canadá vai já no seu terceiro envio de material de guerra para a Ucrânia, o segundo com material letal. “Ontem, anunciamos que enviaríamos novos carregamentos de material militar, incluindo coletes, capacetes, máscaras de gás e óculos de visão noturna”, disse o primeiro-ministro na segunda-feira. Para além disso, Justin Trudeau anunciou o envio de sistemas de armas antitanque e munição atualizada.
Há duas semanas, Trudeau aprovou uma ajuda de 7,8 milhões de dólares para comprar, entre outros, revólveres, metralhadoras, carabinas e munição. Até então, o Canadá apenas enviava material como detetores de minas, kits médicos e coletes.
Today, our @CanadianForces made a second delivery of lethal military aid to support our Ukrainian partners. Russia’s further invasion of a sovereign state is absolutely unacceptable, and we will continue to stand by Ukraine as the country defends its sovereignty and independence. pic.twitter.com/lYZRIu8JOE
— Anita Anand (@AnitaAnandMP) February 23, 2022
Austrália
No domingo, também a Austrália anunciou o envio de armamento para a Ucrânia. O primeiro-ministro, Scott Morrison, disse que o seu governo fará “o que é certo” em relação ao conflito e atuará em consonância com os Estados Unidos e os parceiros da NATO europeus.
“Já estamos a dar apoio significativo em termos de ajuda não letal, mas falei com o ministro da Defesa e procuraremos fornecer todo o apoio que pudermos para ajuda letal através dos nossos parceiros da NATO, particularmente, através dos Estados Unidos e do Reino Unido.”