Uma aproximação a Putin pode ser o impulso que faltava ao magnata que inaugurou o turismo espacial. Depois de alguns falhanços negociais de Richard Branson, os holofotes estão virados para a empresa Virgin Orbit, que está a planear a primeira missão espacial em solo britânico (ainda) para este ano.
O bilionário está a reunir com ministros com o objetivo de garantir mais lançamentos no Spaceport Cornwall, como noticiado pelo The Telegraph este sábado. O nome referido no artigo é o do ministro da Economia, Kwasi Kwarteng. Já a 9 de fevereiro, durante uma comissão parlamentar, o político sublinhou a importância da respetiva empresa para o mercado de trabalho do Reino Unido.
Existem 45 mil empregos no setor espacial hoje, e o Reino Unido apoia cerca de 126 mil indiretamente. Estamos a refinar metas sobre como podemos fazer crescer o setor. Como se sabe, isso requer algum investimento, e estamos no processo de alocação do orçamento [de pesquisa e desenvolvimento]”, declarou, cita-o o mesmo jornal britânico.
Os ministros querem fazer coincidir dois eventos importantes para a Grã-Bretanha: a colocação do satélite no espaço com as celebrações do Jubileu de Platina da Rainha, em maio. Contudo, a Virgin Orbit ainda não confirmou a data.
Além disto, noutro artigo também do The Telegraph, é relatado que a guerra na Europa Oriental torna esta missão urgente: o apoio do cosmódromo de Baikonur parece improvável, já que a área é controlada pelos russos do Cazaquistão, e espera-se que estes neguem transportar quaisquer foguetes europeus num futuro próximo.
Richard Branson não tem estado em maré de sorte nos negócios. Só para se ter uma ideia, poucas semanas depois de cumprir o marco histórico de ir ao espaço, vendeu uma participação na Virgin Galactic (empresa da qual faz parte a Virgin Orbit) por 300 milhões de dólares (cerca de 269 milhões de euros). Em novembro, repetiu o ato, o que significa que a sua rescisão com a empresa desde o início da pandemia superou os mil milhões de dólares (cerca de 896 milhões de euros).
Depois de um auge de verão quando o homem de 71 anos voou dentro do VSS Unity, as ações caíram mais de 80%. Estranhamente, a Virgin vale menos após alcançar a ambição vitalícia de Richard do que em 2019, quando a empresa abriu.
Vários contratempos, tais como investigações e a renúncia do investidor Chamath Palihapitiya, na semana passada, atrasaram os possíveis progressos da empresa – pode ter sido a primeira a ir ao espaço, mas até agora é só essa a razão pela qual é recordada. Enquanto isso, a Blue Origin e a SpaceX, de Jeff Bezos e de Elon Musk, respetivamente, enviaram turistas ao espaço.
Em 2017, a Virgin liderou um investimento de 85 milhões de dólares (cerca de 76 milhões de euros) na Hyperloop One, uma start up que quer levar o conceito de transporte público para a era espacial, o qual atingiria os mil quilómetros por hora. A este conceito o bilionário intitulou como “o serviço de comboios mais revolucionário do mundo”, garantindo que a viagem de Londres a Edimburgo demoraria apenas 50 minutos (atualmente, de transportes públicos, dura cerca de 4h22).
Até hoje, todavia, não há planos nem parceiros governamentais e a principal concretização foi uma única viagem com passageiros que percorreu 395 metros e só atingiu os 174 quilómetros por hora.
A empresa de Branson atravessou ainda dois despedimentos coletivos, em 2018 e 2021 e, na semana passada, emergiu que terá sido demitida metade da equipa numa medida de contenção de custos. O propósito? Uma mudança estratégica: concentrar-se no transporte de mercadorias em vez do de pessoas. Segundo o The Telegraph, este pode ser encarado como um movimento projetado para aplacar o seu último grande investidor, o DP World.
A promessa de viagens supersónicas, apesar de atraente, não é uma prioridade, já que com o lançamento da (antiquada) rota ferroviária Virgin Trains USA, Brandon acabou por afastar-se silenciosamente do projeto.
Dificuldades em duas negociações no mercado de alta tecnologia pode ser azar, mas três podem assemelhar-se a um padrão. E, para Richard, a aposta na 23andMe, empresa de testes de ADN de Silicon Valley, significou um hat-trick de azar.
Acreditando que a Covid-19 impulsionaria a procura pela confirmação do código genético, a injeção de 600 milhões de dólares (aproximadamente 537 milhões de euros) na 23andMe, avaliou-a em 3.5 mil milhões de dólares (cerca de 3.1 milhões de euros). No final do ano, as vendas aumentaram apenas 3% e as ações caíram mais de metade desde a incorporação.