O banqueiro ucraniano Denys Kireev — um dos elementos da delegação ucraniana na primeira ronda de negociações entre Kiev e Moscovo — morreu este sábado, confirmou a Direção-Geral de Informações do Ministério da Defesa Ucraniano através das redes sociais. Na mensagem oficial, as autoridades ucranianas salientaram que Kireev foi um de três funcionários do serviço de informações ucraniano mortos este sábado “durante o desempenho de tarefas especiais” e que os seus atos aproximaram a Ucrânia “da vitória”. Porém, em múltiplos relatos na imprensa ucraniana e russa, a morte de Kireev é apresentada de outro modo, aventando-se a possibilidade de o banqueiro ter cometido um crime de traição ao passar informações sensíveis para Moscovo.
De acordo com notícias de vários órgãos de comunicação social ucranianos e russos, mas não confirmadas por qualquer fonte oficial, Kireev teria sido detido por suspeitas de traição, havendo presumíveis provas de que o banqueiro estaria a passar informações a Moscovo. Os serviços de segurança da Ucrânia teriam, no processo dessa detenção, matado o banqueiro ucraniano, membro da delegação que representou o regime de Kiev na primeira ronda de negociações com a Rússia com vista a um cessar-fogo para o atual conflito armado entre os dois países.
“SBU mata membro da equipa negocial ucraniana suspeito de traição”, titula o The Kiyv Independent, jornal ucraniano em língua inglesa. Citando uma informação avançada pelo jornal Ukrainska Pravda, o Independent escreve que “o homem foi morto durante uma tentativa de detenção”, havendo “‘fortes provas’ de que ele estava a passar informação à Rússia”.
No mesmo sentido, a edição ucraniana da agência de notícias russa Interfax noticiou que os serviços de segurança da Ucrânia, os SBU, “mataram o membro do grupo negocial ucraniano Denys Kireev, que era suspeito de alta traição”. A Interfax avançou a notícia citando o deputado ucraniano Oleksiy Honcharenko, que teria divulgado a informação na sua conta do Telegram. Nessa mensagem, citada pela Interfax, Honcharenko detalhou que a morte aconteceu “durante a detenção” e que Kireev “era suspeito de alta traição” depois de os serviços de segurança terem encontrado provas do crime, incluindo conversas telefónicas.
The Ukrainian SBU liquidated a member of the Ukrainian negotiating group Denis Kireev. Kireev was killed during detention.
This was reported by the Ukrainian MP Dubinsky. pic.twitter.com/V9PCnS5D5W
— Maria Dubovikova (@politblogme) March 5, 2022
O jornal russo Pravda, na sua edição em inglês, avança mais pormenores sobre o caso, citando outro deputado ucraniano, Alexander Dubinsky. De acordo com aquele periódico, Kireev terá sido morto nas proximidades do tribunal de Pechersk, no centro de Kiev. “Como é que ele acabou como membro da delegação ucraniana?”, questionou Dubinsky, citado pelo Pravda. “Quero verdadeiramente ouvir o gabinete do Presidente sobre isso.”
Denys Kireev, um experiente banqueiro ucraniano com uma longa relação com o universo financeiro ocidental, participou na semana passada na primeira ronda de negociações entre Ucrânia e Rússia, que decorreu na cidade bielorrussa de Gomel. Kireev surge em várias das fotografias dessa sessão negocial, a primeira de um conjunto de negociações em curso com o objetivo de colocar um ponto final no conflito, que se transformou numa verdadeira guerra armada quando, a 24 de fevereiro, Putin ordenou uma invasão do território da Ucrânia.
Segundo a Deutsche Welle, as informações sobre a morte de Denys Kireev têm-se multiplicado em diferentes meios de comunicação social russos e ucranianos, incluindo na agência de notícias ucraniana, a UNIAN, citando deputados e analistas políticos — mas nem o governo nem as autoridades de Kiev confirmaram, até agora, o sucedido. Simultaneamente, começaram a circular nas redes sociais imagens do alegado cadáver de Kireev, mas igualmente por confirmar.
Quem era Denys Kireev?
Apesar de surgir nas fotografias da primeira ronda negocial entre russos e ucranianos, sentado à mesa principal das negociações do lado ucraniano, o nome de Denys Kireev não surgiu na lista oficial de participantes da delegação divulgada pelas autoridades ucranianas. Na verdade, a história de Kireev já vinha sendo envolvida em controvérsia desde antes da invasão da Ucrânia pela Rússia.
Aos 45 anos de idade, Denys Kireev era uma figura conhecida da alta esfera política ucraniana. Na sua longa carreira na área financeira, teve cargos nos conselhos de administração do Sberbank e do Ukreximbank e trabalhou diretamente com várias empresas e bancos ocidentais. Muito próximo do empresário e político ucraniano Andriy Klyuyev, milionário e aliado do ex-presidente Viktor Yanukovych (o Presidente pró-russo deposto na revolução de 2014), Kireev já tinha, inclusivamente, sido associado ao Kremlin nos últimos meses.
Uma reportagem de investigação do Canal 5 ucraniano, emitida em fevereiro, alegou que Kireev estaria a passar ao FSB, os serviços secretos russos, um conjunto de informações relativas à compra de armas por parte de Kiev. Já no contexto da invasão russa, Kireev continuaria a manter contacto com os seus aliados em Moscovo, de acordo com a mesma reportagem, que acrescentou que em 2022 o banqueiro já tinha viajado para Moscovo pelo menos duas vezes.